SECTOR DA ENERGIA NUCLEAR DEVERÁ SER REESTRUTURADO?

"Actualmente, o sector energético nuclear é responsável pela produção de cerca de 16 por cento da energia eléctrica consumida no país. O sector da energia nuclear dá à Humanidade uma chance de vir a ganhar na luta contra a degradação e poluição do meio ambiente, uma consequência inevitável da utilização dos recursos orgânicos", declarou há pouco no fórum da ONU o ministro do sector energético atómico, Aleksandr Rumiantsev. Esta declaração, que exprime a posição da Rússia nesta área enfrenta, não raro, pontos de vista contrários, manifestados nos debates que se travam à escala global. Não faltam cientistas em todas as partes do mundo que afirmam que a indústria nuclear existente foi um grande erro de engenharia na história da Humanidade.

Como exemplo podemos citar o posicionamento do país mais potente da Europa, a Alemanha. Conforme escreveu o jornal "New York Times" em princípios de Dezembro, o Governo deste país tomou a decisão de desactivar paulatinamente 19 centrais atómicas, contrariamente à tendência que se verifica em outros países, que se propõem aumentar a "vertente atómica" na sua balança energética.

É de se esperar que estas controvérsias acabem por levar à modificação das tecnologias de produção de energia, já que é óbvia a impossibilidade de não levar em conta a importância da energia nuclear na vida moderna. Ao menos no caso da Rússia, esta não tem, pura e simplesmente, tal possibilidade no momento. Portanto, será preciso pôr nos pratos da balança todos os prós e contras desta questão e, depois, determinar quais as vantagens do combustível convencional ou nuclear.

A maior vantagem que proporciona este último é a sua elevada capacidade energética - aliás, milhares de vezes superior em relação ao combustível químico convencional. Todavia, esta superioridade ainda não está devidamente formulada como conceito - consideram os cientistas, e economistas da Academia das Ciências da Rússia.

Sucede que a Humanidade optou inicialmente pela utilização do ciclo do vapor e, por conseguinte, pelos equipamentos e instalações térmicas - digamos, centrais eléctricas a carvão. Actualmente, a essência do problema resume-se a substituir as caldeiras de carvão pelas nucleares, só muda o combustível. Em termos figurados, é como substituir o fogão a carvão pelo fogão a gás.

Na opinião dos cientistas, o principal erro consiste em que até agora nenhuma das vantagens que o átomo oferece foi devidamente utilizada ou explorada. Ao mesmo tempo, nenhum dos defeitos desta partícula foi neutralizado. Por conseguinte, as centrais atómicas que a Humanidade construiu até agora mostraram uma baixa qualidade, um rendimento péssimo, talvez devido ao facto de os parâmetros do combustível nuclear, ao contrário dos do carvão e das caldeiras, serem mal articulados com o ciclo termodinâmico do vapor.

Entre os defeitos do combustível nuclear o pior é encerrar a eventual possibilidade de acidente com consequências catastróficas à escala global e, além disso, as centrais atómicas serem um alvo fácil para o terrorismo e a chantagem, com as mesmas dimensões catastróficas.

O primeiro exemplo tivemos em Tchernobyl. Parece inacreditável que uma tragédia daquelas possa ter ocorrido na Europa. Sem dúvida, podemos acreditar em todas as declarações a respeito da segurança das nossas centrais nucleares. Contudo, segundo os dados divulgados pelo Departamento de Supervisão Nuclear da Federação Russa, foram até agora registadas 28 transgressões tecnológicas na exploração das centrais atómicas da Rússia.

Afinal, onde está a saída para esta situação? Na Rússia há cientistas que afirmam que a melhor saída seria retirar os reactores nucleares da superfície terrestre. A ideia é simples: o vapor como agente activo, como componente indispensável da Natureza, seria produzido nas entranhas da Terra e, depois, subiria à superfície do Planeta. Por outras palavras, teríamos um geiser artificial criado com a ajuda da energia nuclear. Neste caso, o vapor seria utilizado já na superfície. Deste modo, teríamos uma simbiose bastante segura - ou seja, uma energia mista terrestre-subterrânea. Assim, o reactor nuclear, que representa o maior perigo nas centrais atómicas - ou seja, o agente activo, fica enterrado nas profundidades da Terra, ao mesmo tempo que os consumidores estão na superfície terrestre. Este esquema de produção de energia exclui praticamente o acesso de terroristas e reduz substancialmente a eventualidade da destruição das instalações nucleares durante operações militares.

Sem dúvida, a materialização de semelhantes projectos é impraticável sem investimentos e despesas avultados. Contudo, este problema coloca-se em igual medida para os russos, para os americanos, para os suecos, para todo o mundo. Os esforços conjugados de toda a Humanidade possibilitarão materializar as ideias dos cientistas em estruturas energéticas altamente rentáveis e seguras do ponto de vista técnico.

Andrei KISLIAKOV observador político da RIA "Novosti"

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