CONVERSAÇÕES QUE VISAM O FUTURO

"Uma visita que visa o futuro", - assim caracterizaram as conversações em Moscovo fontes diplomáticas entrevistadas pela RIA "Novosti".

Actualmente, no Iraque mantém-se um regime de ocupação, sendo as decisões definitivas sobre todos os problemas importantes tomadas pela administração da coligação, dirigida pelo representante dos Estados Unidos, Paul Bremer. Contudo, em Julho, o direito de governar o país deve ser restituído aos iraquianos. Na opinião de fontes diplomáticas, os membros da delegação do CGII, que visitaram Moscovo, irão desempenhar um papel de peso na vida política do Iraque, sendo necessário por isso estabelecer com eles um diálogo construtivo.

As conversações em Moscovo, embora nestas não tivessem sido alcançados quaisquer entendimentos concretos, lançaram, porém, um terreno para as futuras discussões. Ao mesmo tempo, as partes ficaram satisfeitas, mas os debates sobre tais temas como a dívida iraquiana, o trabalho de companhias russas no Iraque e os aspectos políticos da regularização iraquiana ainda estão pela frente.

As duas delegações chegaram à conclusão de que o papel da ONU no Iraque deve ser ampliado. Falando à RIA "Novosti", o membro da delegação Jalal Talabani manifestou a esperança de que a ONU oriente o processo político no Iraque, conceda ajuda humanitária e acompanhe a transferência da soberania para o povo iraquiano pelas autoridades de coligação. Por seu lado, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Aleksandr Saltanov, destacou que a parte iraquiana "expressou grande interesse em que a Rússia preste apoio aos processos políticos no Iraque voltados para restabelecer a soberania do país".

Foi alcançado também o entendimento sobre a necessidade de efectuar consultas referentes à cooperação económica entre a Rússia e o Iraque.

"Estamos muito interessados em que a Rússia possa conceder ajuda real na recuperação do Iraque", - declarou Abdel Aziz Al-Hakim depois das conversações com o Presidente da Rússia, Vladimir Putin.

O chefe de Estado da Rússia comunicou que "segundo as estimativas preliminares, o volume total de investimentos por parte de companhias russas no Iraque poderá atingir proximamente o montante de 4 biliões de dólares".

Segundo o chefe do Ministério do Desenvolvimento Económico da Federação Russa, Guerman Gref, actualmente está a ser elaborada uma lista de companhias russas que podem participar na reconstrução do Iraque. O ministro fez lembrar que "a indústria do Iraque foi construída principalmente com a utilização de tecnologias soviéticas e russas. Portanto, a participação de companhias russas é a variante ideal para a reconstrução do Iraque". Assim será mais barato. Guerman Gref destacou ainda que os Estados Unidos também se mostram compreensivos quanto à participação em pé de igualdade de companhias russas na reconstrução do Iraque.

O problema consiste em que qualidade os russos irão trabalhar no Iraque. O chefe do CGII considera que "será admitido para o restabelecimento da economia iraquiana aquele que propuser as melhores condições".

De modo que as companhias russas irão deparar com uma dura concorrência e não terão as facilidades que tinham antes. Mas isso diz respeito aos futuros contratos.

Para a Rússia, porém, é sobretudo importante manter os contratos assinados durante o regime de Saddam Hussein. O maior deles é o acordo com a Lukoil sobre a exploração do jazigo de Kurna Ocidental.

Lembre-se que o contrato foi assinado com base no Acordo de Distribuição da Produção em Março de 1997. A quota parte do Ministério do Petróleo e Gás do Iraque deveria constituir 25%, da Lukoil - 68,5%, da "Zarubejneft" e da "Machinimport" - 3,25% cada. O prazo de vigência do contrato é de 23 anos, podendo ser prorrogado para mais 5 anos.

Os trabalhos no jazigo não foram efectuados devido ao regime de sanções, tendo o governo de Saddam Hussein decidido anular o acordo. A Lukoil qualificou este passo como ilegítimo. Moscovo continua a considerar o contrato vigente e espera que seja concretizado. Contudo, é possível que a parte russa esteja disposta a discutir alterações de algumas condições do contrato.

No quadro do encontro com o Presidente Putin a parte iraquiana propôs retomar ao nível de peritos as conversações relacionadas com os contratos russos já assinados e os programas da futura cooperação. Uma delegação da Lukoil desloca-se a 29 de Dezembro a Bagdade, sendo esta visita considerada pela direcção da companhia petrolífera russa como início da realização do seu contrato no Iraque.

No entanto, os iraquianos não dão quaisquer promessas concretas. Um dos membros da delegação, Samir Sumaydai, declarou que a questão dos acordos será analisada do ponto de vista da racionalidade económica, porque as autoridades iraquianas não querem "manter todos os contratos assinados por motivos políticos". A Rússia também compreende o que significam os interesses económicos e espera conceder todo e qualquer apoio às companhias russas.

Na reconstrução da economia iraquiana é prioritário para Moscovo "aproveitar ao máximo o potencial técnico e de investimentos das companhias russas", - comunicou à RIA "Novosti" uma fonte no Kremlin, destacando que "a consideração dos interesses económicos da Rússia, que tem enorme experiência de trabalho no Iraque, está estreitamente interligada com a solução dos problemas económicos iraquianos, inclusive com a diminuição da dívida".

A delegação iraquiana, segundo as suas declarações, chegou à conclusão de que "a Rússia está disposta a conceder apoio e ajuda adicionais ao Iraque, desde que as companhias russas obtenham contratos para o restabelecimento do Iraque".

O presidente rotativo do Conselho de Governo Interino do Iraque (CGII), Abdul Aziz Al-Hakim, declarou ainda que os iraquianos "receberam importantes promessas sobre o perdão das dívidas". Contudo, segundo fontes na delegação russa, a posição de Moscovo em relação às dívidas continua inalterável - foi prometido apenas discutir o problema no quadro do Clube de Paris. "Estamos dispostos a discutir construtivamente esta questão, compreendendo a importância da diminuição do fardo da dívida para o povo iraquiano. Os contactos sobre este assunto serão prosseguidos", - declarou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Aleksandr Saltanov.

Conforme apurou a RIA "Novosti" junto de fontes informadas, no âmbito do Clube de Paris estuda-se actualmente a possibilidade de cancelar 65% da dívida total do Iraque, não sendo ainda decidido o montante que cada país perdoará e em que condições.

Possivelmente, cada uma das partes ouviu nas conversações em Moscovo aquilo que mais lhe agradava. Mas, como destacam os diplomatas russos, ninguém esperava que os primeiros contactos dos membros do CGII com a direcção russa levassem a quaisquer acordos concretos. O principal resultado do encontro é a boa impressão com que ficou cada uma das partes e a confirmação do interesse pela cooperação.

Marianna Belenkaia observadora política da RIA "Novosti"

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