O "BOOM" DA RESTAURAÇÃO À RUSSA

Nas livrarias e quiosques de rua vendem-se imensos livros e revistas de culinária, na televisão os programas culinários são frequentes. Até na Internet há páginas com guias dos melhores restaurantes e bares moscovitas. Recentemente, até surgiu um novo produto turístico na Rússia, isto é, o turismo gastronómico.

Os turistas estrangeiros deslocam-se a Moscovo por alguns dias para provar as especialidades locais e, a seguir, visitar um local de diversão, que, aliás, também, não faltam na capital russa. A variedade gastronómica em Moscovo é enorme, podendo-se provar iguarias da cozinha russa, francesa, italiana, mexicana, checa, árabe, japonesa, indiana, escandinava, coreana, georgiana, irlandesa, etc.

Verdade seja dita que as outras grandes cidades russas também não ficam muito atrás de Moscovo neste capítulo. Os magnatas da restauração estão a explorar a província, onde, à semelhança da capital, os deliciosos pratos são acompanhados por outras diversões como, por exemplo, espectáculos musicais ou de "striptease". A seguir, os clientes podem jogar bilhar ou bowling, ir à sauna ou fazer uma massagem para descontrair. Para satisfazer os gostos dos clientes abastados, abrem-se em Moscovo cada vez mais casinos, cujo número já atingiu 58, lojas de luxo, joalharias, ginásios de luxo e concessionários de automóveis de alta cilindrada.

O mais caro restaurante moscovita, o "Pushkin-Café", situado no centro da cidade, na Alameda "Tverskoi", está sempre cheio. Para aumentar as suas instalações, foram deitadas abaixo três moradias dos século XVIII-XIX antigamente pertencentes ao célebre compositor russo Rimski-Korsakov. Uma situação análoga, verifica-se também nas regiões afastadas do centro. "Perto da minha casa, foi deitado abaixo um jardim de infância para construir em seu lugar um restaurante", diz Maria C, que reside no sul de Moscovo. "Um supermercado ao pé da minha casa foi transformado numa pizzaria", adianta Galina D., moradora num bairro do noroeste de Moscovo.

Em Moscovo há 3000 restaurantes, sendo este número insuficiente para a capital russa que, à semelhança de Nova Iorque, poderia ter 20 mil restaurantes, ou 17 mil, como em Paris. Em Moscovo existem restaurantes apenas de dois tipos: ou de primeira categoria, com comida sofisticada e serviço super-caro, ou estabelecimentos de "fast food" com refeições muito pouco saudáveis. Os numerosos restaurantes de "fast food", nomeadamente os "MacDonalds", "Starlight", "Elki Palki" e outros, que surgiram na Rússia nos finais dos anos oitenta do século passado, estão sempre cheios.

Por outro lado, em Moscovo há ainda insuficientes restaurantes de segunda categoria, acessíveis para a classe média. Este nicho foi ocupado pelos restaurantes japoneses que, ultimamente, se tornaram extremamente populares na Rússia graças à sua saudável comida japonesa e aos preços económicos. Por outro lado, quase que desapareceram os estabelecimentos baratos que, no período soviético, eram muito populares.

Os restaurantes de luxo que, diga-se de passagem, nunca estão vazios, são um negócio muito lucrativo, gerido, normalmente, por filhos de famosos actores, músicos e pintores. Os produtos são importados do estrangeiro. Assim, a carne de carneiro vem da Nova Zelândia, as trufas, da França e as azeitonas da Itália, afirmando os donos dos restaurantes que a carne e os vegetais nacionais não correspondem aos altos padrões da "alta gastronomia". Por outro lado, não se pode desiludir os clientes que se habituaram a comer bem durante as suas viagens à Europa Ocidental. Os chefes e os donos dos restaurantes de luxo deslocam-se com frequência ao estrangeiro para tirar cursos de formação e participar em concursos gastronómicos internacionais.

No entanto, o público vai aos restaurantes de luxo não só para provar iguarias estrangeiras. Segundo os donos dos restaurantes, é muito importante criar uma imagem adequada do local, dado que os clientes querem sempre "pão e circo". Há que fazer os possíveis por transformar uma refeição no restaurante num acontecimento inesquecível. Há muitos restaurantes cuja imagem está ligada ao mundo literário, artístico e teatral, explorando os proprietários dos restaurantes o amor que os russos tem pelas Belas Artes e pela Cultura, de um modo geral.

Por exemplo, o interior do "Pushkin-Café", que ostenta o nome do génio da literatura russa do século XIX, é integrado por uma biblioteca de livros antigos composta por 15 mil volumes, globos e telescópios antigos. O restaurante "Grande Opera" é decorado com um palco com um pano de veludo vermelho e camarotes com mesas. Enquanto os clientes comem, no palco os artistas entretêm o público. "Faço tudo como eu próprio entendo porque é difícil satisfazer todos os gostos. Quando abriu o restaurante "Caça Real", quase não havia restaurantes de cozinha russa. O restaurante fica fora da cidade, perto da autoestrada de Rublev, local onde vive a maior parte da elite política russa. Foi decidido, portanto, decorá-lo como se fosse uma casa de caça dos reis. A ideia de decorar o restaurante "A Sereia" com aquários pertenceu à minha mulher, que viu algo parecido na Itália. A sala tem pouca luz, enquanto os aquários estão iluminados por dentro. É muito bonito", diz o dono duma cadeia de restaurantes moscovitas, Arkadi Novikov.

Os restaurantes de luxo não precisam de publicidade - basta saber os nomes dos seus clientes. Por exemplo, o Presidente Vladimir Putin gosta de almoçar no "Pushkin-Café", enquanto o antigo Presidente russo, Boris Yeltsin, é cliente assíduo do "Caça Real". Os homens de negócios, políticos, juristas de renome, estrelas do "show-business" e filhos de pais ricos marcam almoços e jantares nestes locais para tratar de negócios e assuntos pessoais.

Os donos dos restaurantes estão muito satisfeitos com os rendimentos e não planeiam baixar os preços das refeições. Por outro lado, as pessoas simples raramente comem fora, preferindo a comida caseira. Tanto mais que as mulheres russas são excelentes cozinheiras.

Olga SOBOLEVSKAIA, analista da RIA "Novosti" © RIAN

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