O actual treinador da selecção russa de futebol, Gueorgui Yartsev, teve uma carreira invulgar, embora a sua entrada na "alta roda" do futebol tivesse acontecido relativamente tarde, quando já tinha 29 anos, depois de jogar nos clubes russos de segunda categoria. E de repente chegou o convite para integrar um clube de enorme prestígio, o "Spartak", como artilheiro. Já no ano seguinte, na temporada de 1978, Gueorgui Yartsev, com a sua atenção constantemente concentrada na baliza e a sua avidez de golos, marca 19 golos, tornando-se o melhor artilheiro do campeonato nacional da URSS. Em 1979, a equipa do "Spartak", depois de um longo interregno, recupera o título de campeão da União Soviética e ganha a medalha de ouro. Nesta vitória a performance e a contribuição dada por Yartsev foram inquestionáveis.
Páginas brilhantes da biografia de Gueorgui Yartsev como técnico estão também associadas ao "Spartak" de Moscovo. Foi sob a sua direcção que a equipa recuperou, em 1996, o título de campeão da Rússia. A equipa, rapidamente renovada e rejuvenescida, pôde no desafio adicional infringir uma derrota ao seu adversário "Spartak-Alânia", de Vladikavkaz (capital da república de Ossétia do Norte, no Cáucaso), orientado pelo então futuro treinador da selecção russa de futebol, Valeri Gazzaev. Os moscovitas saíram com a medalha de ouro e Yartsev com o prémio "Strelets" (Sagitário) outorgado ao melhor treinador do ano.
Depois de treinar o "Spartak" de Moscovo, Gueorgui Yartsev passou para o "Dínamo" da capital, depois para o "Rotor", de Volgogrado (bacia do Volga), mas não teve muito êxito trabalhando com estas equipas. Nos últimos dois anos presidiu o seu clube predilecto, o "Spartak-Veteranos", mas sempre desejando voltar ao trabalho de técnico. Nessa altura não havia propostas e contratos aliciantes até que, em Agosto deste ano, uma chamada inesperada do presidente da União de Futebol Russo (UFR), Viatcheslav Koloskov, propôs-lhe o cargo de treinador-chefe da selecção nacional.
Naquele momento, a equipa estava em crise. Ao começar com êxito o torneio eliminatório para o campeonato da Europa de 2004, sob a direcção de Valeri Gazzaev, e ao acumular nos primeiros dois desafios 6 pontos, a equipa nacional sofreu fracassos contundentes com a Albânia (1:3), a Geórgia (0:1) e empatou a dois golos com a Suíça (2:2). Ficava assim posta em dúvida a hipótese de passar à fase final do campeonato europeu. Era evidente que a equipa nacional estava em crise, facto esse confirmado pelo desafio amistoso com Israel realizado a 20 de Agosto em Moscovo, onde a equipa russa perdeu por 1:2. Assim que neste desafio soou o apito final, Valeri Gazzaev pediu a demissão, cedendo o seu lugar a Gueorgui Yartsev. E este acabou por aceitar o cargo de orientador da equipa.
- Ao aceitar esta proposta, estava ciente do risco que assumiu? Foi esta a primeira pergunta que o observador da RIA "Novosti" colocou a Gueorgui Yartsev.
- Nós os dois estávamos numa situação arriscada, tanto Viatcheslav Koloskov, presidente da UFR, que optou por me convidar, como eu ao assumir a direcção da equipa naquele período difícil. Reconheço que a situação era complicada, mas eu acreditava que era possível corrigi-la com a condição de juntar jogadores fortes e capazes, independentemente da sua idade e das equipas a que estavam ligados. Foi justamente por isso que convidei para a selecção diversos veteranos, que acabaram por ser dispensados depois do insucesso no campeonato mundial do ano passado. Convidei todos os que eu conhecia da minha experiência anterior de trabalho e em quem eu acreditava. Devo aqui dizer que as minhas expectativas resultaram correctas: refiro-me a Aleksandr Mostovoy, de 35 anos, do clube "Celta" espanhol, a Dmitri Alenitchev, de 31 anos, do "Porto" português, a Valeri Iessipov, de 32 anos, do "Rotor" de Volgogrado, a Aleksei Smertin, de 28 anos, do "Portsmouths" britânico, a Egor Titov, de 27 anos, do "Spartak" de Moscovo, entre outros jogadores. Foi também correcta a escolha do avançado do "Dínamo" de Moscovo, Dmitri Bulykin, de 24 anos, autor de três golos na partida com a Suíça em Moscovo. E quatro dias antes desta partida vitoriosa, conseguimos um empate por 1:1 no desafio dificílimo, em Dublin, contra a selecção da Irlanda. O que faltava era o jogo final com a selecção da Geórgia que terminou triunfalmente: 3:1. Infelizmente, devo constatar ter sido impossível classificarmo-nos na parte final do campeonato da Europa por haver perdido muitos pontos no período de crise da equipe. Para mim, o principal é que a equipa saiu da fase crítica. O segundo lugar que lhe foi atribuído dá-lhe a possibilidade de disputar com o "Wales" a perspectiva de ir a Portugal, onde se reunirão no ano que vem 16 equipas nacionais das mais fortes da Europa.
- Acha que vai ganhar aos galeses?
- Julgo que as chances de duas equipas são, mais ou menos iguais. Não subscrevo alguns comentários optimistas na imprensa russa quando dizem que o sorteio foi ao nosso favor. Quanto a mim, não tenho motivos para dizer que o "Wales" é um "outsider". Os galeses sempre têm sido tradicionalmente bons jogadores de futebol. E isto pode ser confirmado com os jogos das épocas dos anos 60, em que participaram grandes mestres do "Wales". Mesmo hoje, este clube tem uma equipa potente, experiente, com futebolistas altamente classificados nos clubes de primeira Liga Inglesa. Quero nesta ocasião mencionar Ryan Giggs, um dos melhores jogadores do "Manchester United". Os galeses mostraram-se um adversário digno de respeito no torneio por grupos onde jogaram os italianos, os jugoslavos e os finlandeses. Aliás, com este adversário não é tão fácil vir a ocupar o segundo lugar como parece.
- De acordo com o sorteio, o primeiro dos dois desafios com o "Wales" será realizado em Moscovo. Na sua opinião, isso é bom ou mau?
- Seria preferível fazer a primeira partida fora do país e a seguinte, em casa - sabendo já o resultado que nós queremos alcançar. Mas o sorteio é sempre sorteio e não adianta lamentarmo-nos ou queixarmo-nos. O que é preciso é treinar, prepararmo-nos devidamente para o primeiro jogo em casa do adversário.
- Digamos, fazendo comparação entre a selecção do Wales e a da Irlanda, qual destas equipas britânicas lhe parece melhor?
- Creio que os galeses são mais fortes. Pelo menos, a equipa da Irlanda não tem nenhum jogador equiparável a Ryan Giggs. E de um modo geral, os resultados e o rendimento do "Wales" falam por si. Mais ainda, os jogadores do "Wales" se encontram em perfeita forma desportiva e continuam a sua prática dia-a-dia na primeira Liga Inglesa, ao passo que os nossos futebolistas estão cansados tendo por trás a difícil temporada do campeonato nacional.
- Quando é que a nossa equipa vai começar a preparação para os desafios com o "Wales", agendados para os dias 15 e 19 de Novembro?
- O estágio começa a partir de 10 de Novembro. Não sei dizer agora em que lugar do país, pois você sabe perfeitamente que Novembro não é a época ideal para o futebol em Moscovo.
- E que futebolistas vão participar no estágio?
- Conforme a minha opinião e com o consentimento da União de Futebol Russo, serão escolhidos os futebolistas que jogaram nas últimas partidas da selecção, principalmente aqueles que participaram no último desafio com a Geórgia, a 11 de Outubro. Agora, a lista se está ampliando e incluindo Dmitri Alenitchev e Valeri Essipov, o médio-defesa Dmitri Khokhlov e o defesa Guennadi Nijegorodos (ambos do "Lokomotive", de Moscovo), os médio-defesa Vladislav Rakhimov (do "Zenith", de São Petersburgo) e Igor Semchov (do "Torpedo", de Moscovo).
- E não quer convocar novos futebolistas?
- Acho que não é necessário. Temos bastantes candidatos, cuja actuação foi avaliada em desafios, sessões de treino e estágios. A única coisa que nos põe de sobreaviso é a actuação eventual do defesa Aleksei Smertin, recentemente operado a uma séria lesão no joelho.
- Agora, no seu caso pessoal: o que significa para si estes desafios com o "Wales"?
- Na minha carreira de técnico, este é um jogo de grande importância, como todo e qualquer exame na vida desportiva e de treinador. Espero que todos os jogadores da selecção russa façam valer a mesma atitude e revelem espírito de combate, vontade de vencer, elevada performance - aliás, todas as qualidades que têm sido inerentes ao futebol soviético e russo.
- E por último, sobre as suas perspectivas de continuar treinando a selecção nacional?
- Há dias, a União de Futebol Russo (UFR) adiantou-me a proposta de assinar o contrato até 2006, mas eu recusei. Achei que é prioritário alcançar os objectivos propostos - isto é, ganhar ao "Wales" e ver a equipa nas finais do campeonato europeu. E só depois disso resolver os assuntos financeiros e de outra índole. Ora, o meu futuro como novo orientador da selecção nacional depende directamente dos dois desafios com o "Wales". Para finalizar, digo que acredito no êxito...
Valeri ASRIAN © RIAN
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