Na Rússia foi anunciado o início oficial da campanha eleitoral para o Parlamento. A 3 de Setembro entrou em vigor o Decreto do Presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, sobre a marcação das eleições para a Duma de Estado (câmara baixa do Parlamento da Rússia) que se realizarão daqui a 3 meses, ou seja, a 7 de Dezembro.
Embora o decreto presidencial acabe de entrar em vigor, a aproximação das eleições parlamentares sentiu-se bastante nitidamente já nos meses do Verão que muitos dos políticos dedicaram não tanto ao descanso quanto aos preparativos para a campanha eleitoral que promete ser muito tensa. E a retórica eleitoral preenche cada vez mais os discursos dos actuais deputados qualquer que seja o tema por eles abordado.
O número de pessoas interessados em ocupar um dos gabinetes do prédio na Rua Okhotni Riad, sede da Duma de Estado, é mais do que suficiente, mas o número de mandatos não é grande: apenas 450. Os possuidores de metade deles (225) serão determinados segundo os resultados da expressão de vontade dos eleitores nos círculos territoriais uninominais e igual número de eleitos do povo será apurado pela votação a favor destes ou daqueles partidos e blocos eleitorais que devem apresentar à Comissão Eleitoral Central as suas listas de candidatos a deputados.
É nisso que consiste a essência do chamado sistema majoritário-proporcional segundo o qual são realizadas na Rússia as eleições para a Duma de Estado.
Elas efectuaram-se pela primeira vez em Dezembro de 1993 logo depois da aprovação da nova Constituição da Rússia no referendo nacional. Depois as eleições foram realizadas mais duas vezes: em 1995 e 1999.
E se as primeiras proporcionaram um êxito sensacional ao Partido Liberal-Democrático da Rússia chefiado por Vladimir Jirinovski a favor do qual votou um quarto de todos os eleitores e as segundas terminaram por uma vitória convincente do Partido Comunista, as terceiras evidenciaram uma igualdade aproximada de forças entre os comunistas e a nova força política que tinha aparecido pouco antes das eleições de 1999: o bloco "Unidade".
Na recta final da corrida eleitoral o Partido Comunista ultrapassou apenas em 1 por cento o concorrente inesperado que ocupou as posições centristas. Este novato, que goza do apoio do Presidente e do Governo, pôde unir na Duma em torno de si as outras bancadas e grupos de deputados centristas e formar o poderoso bloco "Rússia Unida" a que actualmente pertence a maioria parlamentar. Os comunistas, que só contam com o apoio dos agrários, perderam a sua anterior posição de liderança na Duma.
Dispondo apenas de 127 mandatos contra 234 da "Rússia Unida", eles não estão em condição de torpedear a aprovação destas o daquelas leis apresentadas por iniciativa dos deputados da "Rússia Unida".
Claro que o Partido Comunista da Federação Russa (PCFR) com Guennadi Ziuganov à frente inicia a actual campanha eleitoral pensando na desforra. No entanto, para os comunistas será muito difícil recuperar as posições perdidas. Há já muito que no campo dos comunistas se verifica uma séria divisão que diminui acentuadamente as suas chances de vitória.
Ziuganov não consegue unir todas as forças de esquerda numa única União Patriótico-Popular da Rússia (UPPR) e até se cria a impressão de que ele não o deseja muito. Em todo o caso, o líder do PCFR não manifesta uma aspiração especial para encontrar uma linguagem comum com os seus opositores dentro das forças políticas de esquerda da Rússia. Em consequência desta "intransigência" ou, dizendo mais exactamente, da rigidez do comportamento de Ziuganov, foi forçado a afastar-se do PCFR um dos seus líderes, presidente a Duma de Estado, Guennadi Selezniov, que formou o Partido do Renascimento da Rússia.
Há bem pouco "separou-se" do Partido Comunista também o seu economista principal Serguei Glaziev que, tal como Selezniov, tenciona organizar o seu próprio partido e ir com ele às eleições. Se recordarmos que também os partidos esquerdistas de orientação comunista semelhantes ao "Rússia Laboral" de Viktor Anpilov apresentam o seu programa e desejam participar individualmente nas eleições, estará claro que esta fragmentação das forças de esquerda torna extremamente complexo o objectivo do PCFR de recuperar as anteriores posições.
Mesmo assim, o Partido Comunista continua a ser o mais organizado e experiente lutador político. Ele dispõe de um eleitorado seguro e experimentado e, como mostram todos os cálculos prévios, os comunistas devem obter nas eleições os seus 20 a 25 por cento dos votos que serão mais do que suficientes para passarem à Duma (para isso são necessários 5 por cento dos votos).
Uma votação igual ou, talvez, superior pode ser obtida pela "Rússia Unida" chefiada por políticos conhecidos no país como o ministro do Interior da FR, Boris Gryzlov, e o chefe do Ministério para as Situações de Emergência, Serguei Choigu. A força da "Rússia Unida" está também no apoio que lhe prestam muitos dos influentes líderes regionais na pessoa de governadores e presidentes das repúblicas nacionais da Federação Russa.
Possivelmente, só do PCFR e da "Rússia Unida" se pode dizer com certeza que serão representados na nova legislatura da Duma de Estado. As chances dos demais partidos e blocos são muito vagas. O triunfador das primeiras eleições, Partido Liberal-Democrático de Jirinovski superou a custo nas últimas eleições a barreira de 5 por cento e dispõe na actual Duma a menor bancada constituída apenas por 13 deputados. Mesmo assim, Jirinovski declara em voz alta e bom som a sua confiança no êxito do partido recorrendo de novo à sua fraseologia populista que ainda tem seus partidários.
No campo da direita verificam-se iguais divergências como nas forças de esquerda. Não podem dominar os seu orgulho e unir as bandeiras os líderes dos principais partidos liberais Boris Nemtsov (União das Forças de Direita) e Grigori Iavlinski ("Iabloko"). Cada um deles pretende liderar pessoalmente estas forças e não deseja dominar o seu próprio "ego" em nome da causa comum. Os programas destes partidos, que se manifestam pelas reformas liberais cardinais, têm muitos aspectos semelhantes que poderiam constituir uma plataforma para a unificação, mas impedem as ambições dos líderes.
Ambos estes partidos estão representados actualmente na Duma, mas a sua capacidade de manter esta representação é muito problemática. Os inquéritos à opinião pública e os resultados das anteriores eleições mostram que na Rússia as forças de direita são apoiadas por uma parte relativamente pequena da população. Portanto, nesta situação é simplesmente colunas. Neste caso elas correm o risco de ficar sem a sua bancada na Duma de Estado.
As próximas eleições parlamentares despertam um interesse especial ainda porque apenas um meio ano depois delas serão realizadas as presidenciais. E o desenlace da luta pelos mandatos na Duma mostrará a correlação de forças políticas no país e será o ensaio geral do outro acontecimento político ainda mais importante. Valeri Asrian, observador da RIA "Novosti"
© RIAN
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