Imprensa russa sobre Iraque

Os principais jornais russos continuam a comentar a situação em torno do Iraque, discutindo estes ou aqueles cenários do possível desenvolvimento dos acontecimentos depois do discurso proferido pelo secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, no Conselho de Segurança da ONU na passada quarta-feira.

Ao assinalar que o discurso "não provocou mudanças radicais na correlação de forças na questão das possíveis acções contra o Iraque", o jornal "Kommersant" não duvida que "o discurso fez algo mais importante, isto é, deu a entender inequivocamente a todos que a operação militar é inevitável". "A julgar por tudo - escreve o observador do jornal - os EUA já não apresentarão mais provas da culpa de Saddam do que as que foram apresentadas em Nova Iorque. Não tem sentido prosseguir as discussões. Dos aliados e parceiros (se eles são verdadeiros) só se exige um apoio incondicional".

No entanto, o discurso de Powell, na opinião do autor do "Kommersant", não deu resposta à principal pergunta, que até mesmo uma pessoa não conhecedora de pormenores técnicos tem direito de fazer: "se o EUA têm tantas informações que são tão concretas e irrefutáveis, por que até agora eles não as concederam aos inspectores da ONU que trabalham há mais de um mês no Iraque? Depois do discurso verifica-se que as inspecções internacionais no Iraque foram afinal inúteis. A intenção dos inspectores de prosseguirem o trabalho só é um obstáculo para àqueles para quem 'tudo está claro'". "O facto de os mesmos 'dados irrefutáveis' convencerem alguns e provocarem cepticismo e não aceitação noutros testemunha que o problema não está nas informações relativas ao Iraque, mas na vontade política de alguns de apoiar a partilha do mundo e na ausência desta vontade noutros" - a esta conclusão chega o autor do "Kommersant".

O articulista de outra edição, o "Izvestia", considera que a primeira certeza deve aparecer até 14 de Fevereiro, quando os inspectores da UNMOVIC e AIEA apresentarem mais um relatório ao Conselho de Segurança da ONU. A principal questão de Fevereiro é de saber se a segunda resolução da ONU verá a luz do dia ou se os americanos passarão sem ela." - escreve o jornal. Embora segundo Condoleezza Rice, assessora de Bush para a segurança nacional, os EUA ponham em dúvida a necessidade da segunda resolução, eles procurarão obtê-la - considera o autor do "Izvéstia". "E isso faz com que a Rússia volte, como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU e possuidora do direito de veto, ao círculo dos principais jogadores políticos das próximas semanas". Mas aproveitar-se-ão a Rússia e dois outros membros permanentes do Conselho de Segurança - a China e a França - que se manifestam contra a operação militar no Iraque do direito de veto?

O jornal não duvida que os EUA já não poderão fazer voltar as suas tropas de 150 mil militares enviadas para o Golfo Pérsico. A elite governante dos EUA e uma parte considerável dos meios de negócios mundiais quase não duvidam que a economia dos EUA em geral e o dólar em particular necessitam de uma rápida vitória - prossegue o "Izvestia". Por outro lado, não se sabe qual será o resultado da guerra se ela demorar. Até é possível que ela provoque abalos tectónicos (antiamericanos) no mundo árabe os quais inutilizarão a alegria e os dividendos da vitória mundial.

O jornal "Vremia Novostei" não exclui uma variante segundo a qual os EUA pedirão ao Conselho de Segurança mais uma resolução que sancione o emprego da força para desarmar o regime de Bagdad e mesmo assim iniciarão a guerra. "Mas então tanto os membros do Conselho de Segurança que se recusam a apoiar o emprego da força contra Bagdad como a ONU em geral se verão numa situação complexa - escreve o jornal citando a opinião do seu analista. - Eles terão de escolher entre o mau e o pior, ou seja, apoiar ou não apoiar a guerra já depois do início das operações militares". Na opinião do jornal, em caso de desenvolvimento extremamente indesejável da situação no Conselho de Segurança da ONU os EUA poderão recorrer à segunda "arma secreta" da administração de Bush, ou seja, declarar a sua retirada do Conselho de Segurança. "Este será o mais indesejável desenvolvimento dos acontecimentos - salienta o analista do jornal. - Especialmente para a Rússia, que poderá perder os restos da sua influência no mundo posterior à Segunda Guerra Mundial".

O autor de outro artigo no mesmo jornal chama a atenção para a declaração do secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, que "num acesso de cólera declarou que "a Líbia, Cuba e a Alemanha estiveram entre os países que se recusaram a apoiar os EUA em quaisquer condições".

Berlim ficou muito ofendida ao ponto de que, como indica o autor de outra edição, o "Vremia MN", o chanceler alemão Gerhard Schroeder "se esquivar à honra de participar na Conferência Internacional de Segurança, que se iniciou hoje em Munique com a participação de 250 peritos, sem contar com os 30 ministros dos Negócios Estrangeiros e Defesa". A propósito - prossegue o autor - na capital da Baviera "foi a primeira vez desde o esfriamento das relações entre Berlim e Washington, por causa do Iraque, que Rumsfeld se reuniu com o ministro da Defesa da RFA, Struck, para um encontro nervoso a sós".

Na opinião do jornal "Rossiiskaia gazeta", muitos aspectos da posição russa sobre o Iraque são esclarecidos pela entrevista concedida pelo ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Igor Ivanov, depois da conclusão das discussões sobre o discurso de Powell no Conselho de Segurança da ONU. Ivanov declarou que a posição da maioria dos países do mundo nesta questão continua imutável e consiste em que a crise iraquiana deve ser resolvida por "meios político-diplomáticos". Esta posição de Moscovo parece pragmática e natural - escreve o autor. - São os inspectores internacionais que devem dizer a sua palavra decisiva. São eles que serão "a verdade em última instância", prestando contas ao Conselho de Segurança da ONU - assinala o jornal.

© RIAN

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