O outro lado da caricatura

Os Ministros de Relações Exteriores da Federação Russa e o Reino de Espanha escreveram um artigo chamado “O outro lado da caricatura”, publicado no jornal Kommersant em 10 de Fevereiro.

No artigo, os ministros apontam que “a pior e mais irreparável consequência é morte de dúzias de pessoas” e admitem que “falta de compreensão e insultos mútuos existem sempre e estão prontos para aparecer logo que haja oportunidade”.

No entanto, os dois chefes de diplomacia consideram que há lições das quais podemos aprender: “Primeiro, inicia-se um debate importante sobre a liberdade de expressão. A maioria das pessoas considera que esta deveria ser limitada só pela lei. Liberdade de expressão é um dos fundamentos da sociedade”. No entanto, prosseguem, há que haver responsabilidade da parte da média e a forma em que gozamos a nossa liberdade por ter consequências nefastas. Ter responsabilidade passa pelo “respeito por outras culturas”.

“Segundo, um afronto a sentimentos religiosos sentido por muitos muçulmanos de forma nenhuma pode justificar a violência”, disseram Sergei Lavrov e Miguel Angel Moratinos, que referiram os actos de fogo posto e destruição de propriedade, realçando também os protestos pacíficos em muitos países e atitudes como a de Ali al-Sistani, que exprimiu seu desgosto pelas caricaturas mas também repudiou os actos de violência.

“Não devemos deixarmos ficar encurralados e mal guiados por aqueles que, adoptando posições extremistas, esperam tirar vantagem da situação”.

“Terceiro, os incidentes mais uma vez nos dão fundamentos convincentes para a formulação da Aliança de Civilizações, apoiado pelo Secretário Geral da ONU em Julho de 2005, na iniciativa da Turquia e Espanha...Com certeza, não podemos deixar que diferenças ideológicas que levaram ao confronto nos anos da Guerra Fria sejam substituídas com conflitos por causas étnicas, religiosas ou culturais”.

Para Lavrov e Moratinos, “a Aliança das Civilizações é uma resposta a aquela vontade de dar à comunidade internacional novos instrumentos para a interacção mútua e a cooperação entre as comunidades islâmicas e ocidentais”, uma coligação contra extremistas, contra intolerância ou visões simplificadas de situações de conflito.

“A Espanha e a Rússia e, infelizmente, muitos outros países, viram graves actos de terror ocorrendo no seu território e muitas vezes estes foram organizados por pessoas utilizando motivos religiosos. No entanto, nossos cidadãos conseguem discernir entre sentimentos religiosos e manipulação por fanáticos, que não são muito numerosos. Nenhuma religião chama os fiéis à violência ou ao ódio. As grandes religiões são por sua essência incompatíveis com chamadas à violência e terror. Por isso merecem grande respeito”.

Os dois ministros referiram a segunda reunião do Grupo de Alto Nível da Aliança das Civilizações em Doha, em Fevereiro, esperando que providencie uma boa oportunidade de identificar problemas causados por desconfiança e falta de compreensão.

“Temos de aprender a identificar nossos valores comuns que irão ajudar-nos a definir direcções comuns em actividades políticas, orientadas e mobilizar a vontade de um enorme número de residentes do Planeta Terra, procurando o diálogo e a tolerância. Chega a altura para intensificar o diálogo que levará à criação de iniciativas em conjunto”.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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