Entrevista exclusiva com Comandante raul reyes, das FARC

1) Senhor Comandante Raul Reyes, qual é a situação militar atual na Colômbia?

Para falar da situação militar atual necessitamos um pouco de história. Enquanto dialogávamos em San Vicente del Caguán com representantes do Governo, o Império dos Estados Unidos da América do Norte e a oligarquia vende-pátria desenharam o Plano Colômbia, alegando que era para combater o narcotráfico. Nada disso. Todo mundo sabe que é como o décimo plano de guerra contra o povo colombiano. Ademais, se trata de um reposicionamento estratégico nas cabeceiras da Amazônia. E, como o Império contou sempre com governantes apátridas e indignos de tão alta investidura, então o presidente Pastrana, traindo o anseio do povo colombiano de alcançar a Paz com Justiça Social, convertido em clamor nacional e, desprezando o apoio de vários países ao Processo de Paz, preferiu o caminho da guerra. Assim, tem sido sempre porque a oligarquia tem medo de que um Acordo de Paz abra ao povo as comportas da participação efetiva na vida política do país e não lhe permita seguir fazendo da guerra, primeiro, uma grande fonte de riqueza e, segundo, um mecanismo “legal” com o qual mantém seu poder, cada dia mais inconsistente. Tampouco poderá seguir explorando a Administração Pública e as riquezas do país em benefício de seus apetites insaciáveis. E, por cima de tudo, o mais afetado pode ser o Império que nos tem desgraçado de fome e de miséria em nome da democracia, ou da liberdade, como diz o Libertador Simón Bolívar, porque não poderá seguir impondo sua nefasta ingerência nos assuntos internos de nosso país. Fica claro quem são os responsáveis de que na Colômbia não haja paz. E, óbvio, essa política de guerra para garantir sua dominação aumenta na medida em que cresce a luta popular em suas mais variadas expressões, sendo uma delas a luta armada, pois o povo fez seu o direito a defender-se, resistir e lutar pelos direitos que todos os governos lhes negaram, incluídos os direitos políticos garantidos pela Constituição.

2) Poderia falar um pouco sobre as ações humanitárias entre a população nas áreas controladas pelas FARC?

O povo colombiano não necessita de panos de vinagre que lhe mitiguem as conseqüências brutais da guerra, mas sim de decisões políticas que lhe ofereçam soluções de fundo e transformem a vida da Nação. Por isso, propomos o Governo de Reconstrução e Reconciliação Nacional. Porém, que faz o atual governo do narco-paramilitar Uribe Vélez? Elevar em forma não vista até agora a repressão contra todas as formas da luta popular na vã pretensão de cerrar a passagem a algo que, por lógica histórica, se dará na Colômbia: O triunfo da Paz com Justiça Social sobre a guerra do Império e da Oligarquia contra um povo que sempre quis viver e trabalhar em paz e gozando de um ambiente político no qual haja espaço para a tolerância, o entendimento e a solidariedade entre irmãos de uma mesma Pátria independente e soberana. Bem sabemos que a guerra não soluciona os angustiantes problemas que condenam o povo à pobreza e à miséria. Ao contrário, os agrava. A nova vida do povo colombiano passa pela solução política de seus problemas.

3)Qual é o fundamento político das FARC?

Nosso compromisso político é com a luta revolucionária pelas transformações profundas que nos levem a uma sociedade na qual a Justiça Social esteja alicerçada num sistema econômico que não se baseie na relação exploradores-explorados, um sistema econômico que não concentre em poucas mãos a riqueza, a terra, as finanças, nem a renda que gere o exercício econômico. Nisso consiste a Justiça Social. Afortunadamente, nosso país tem imensas riquezas e um povo muito trabalhador. Só nos falta um Governo que faça da Colômbia a Pátria que Simón Bolívar sonhou. Estamos construindo as condições para dar esse passo transcendental; passo que não necessita de guerra, senão de uma Mesa de Diálogo e do apoio decidido da Comunidade Internacional. Essa alternativa a mantivemos invariável durante os 41 anos de luta que já cumprimos. O grau alcançado pela confrontação reflete claramente como elemento destacado que a saída para a Colômbia não é o despenhadeiro da guerra civil, mas sim a solução política dos problemas que deram origem ao conflito. Por isso, esperamos que, com um novo Governo, se possa avançar para o maior desejo das maiorias do nosso povo: A Paz com Justiça Social.

4) Quais são seus planos para a paz?

Sabemos que uma das necessidades mais sentidas na Colômbia é a convivência pacífica, entendida como um ambiente social de novo tipo, para o qual deve desaparecer a violência, a repressão e o Terrorismo de Estado. Isso será possível somente com um Novo Governo que empreenda de maneira prioritária a aplicação do primeiro ponto da Plataforma do Governo de Reconstrução e Reconciliação Nacional: “Solução política ao conflito social e armado”. Tomar a decisão política de solucionar os problemas que originaram o conflito é o ato governamental por excelência que o povo colombiano espera de um Novo Governo. Voltando à história recente de nossa luta, vale a pena ressaltar que, durante os anos que administramos os 42.000 quilômetros quadrados da área desmilitarizada para os diálogos com o Governo de Pastrana, a violência se reduziu praticamente a zero. Isso mesmo sucederá quando instauremos um Novo Governo. Daí que o objetivo fundamental de nossa luta seja a tomada do Poder e, a partir daí, lançamos com todas as energias e a vontade de nosso povo à construção da Nova Colômbia, tendo por base o direito à autodeterminação, à soberania, à integração plena com os demais países latino-americanos e a formar parte da Comunidade Internacional em igualdade de condições e benefício mútuo.

5) Tem algo que queria dizer ao presidente Uribe?

Que está incorrendo no mesmo equívoco de seus predecessores. Porque não é possível defender com guerra e mentiras ditas manhã, tarde e noite, que apresentam como democráticos um Regime Político e um Estado que, por décadas, têm perseguido, violentado, torturado, assassinado, desaparecido, intimidado, desalojado, reprimido e reduzido à pobreza e à miséria a mais de 70% do povo colombiano.

Por isso, está claro que seguir governando dessa maneira aumenta as diferenças sociais, fecha mais os espaços políticos e, a cada dia, a classe política verá reduzidas as possibilidades de governar como sempre governou: Com a metralhadora posta contra o povo. Como nunca antes, se está sentindo no país a necessidade das mudanças profundas que contam com uma sólida resistência popular que se expressa de múltiplas maneiras e mostra os indícios de um Novo Poder alternativo à máquina de guerra em que a oligarquia e o Império Norte-americano converteram o Estado e as instituições da Colômbia.

Timothy BANCROFT-HINCHEY

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