As FARC-Exército do Povo saúdam o povo colombiano que luta para não sucumbir à ofensiva anti-social e profundamente antipopular do governo uribista, povo que enfrenta a pretensão imperialista de impor um Tratado de Livre Comércio desastroso para nossa economia que nega qualquer possibilidade de um futuro pujante, independente e digno para a Colômbia. Saudamos especialmente os 3,5 milhões de compatriotas que procuram diariamente um emprego que não existe, os 2 milhões que se cansaram de procurá-lo sem que sejam registrados nas estatísticas oficiais e os 6,4 milhões que se sacrificam diariamente por sua sobrevivência e de sua família sem certezas nem garantias de nenhuma índole.
Saudamos os 28.160.000 colombianos que sobrevivem abaixo da linha da pobreza absoluta e os 3 milhões de camponeses refugiados, condenados ao desarraigo e à crescente violência das grandes cidades. Saudamos os 3 mil trabalhadores demitidos e os mais de 3 milhões de usuários dos hospitais públicos fechados por ordem presidencial e para efeito da Lei 100 que transformou o doente em um lucrativo negócio para o capital privado e em poderosa fonte de financiamento da pistolagem paramilitar.
Saudamos o milhão de camponeses que não têm terra onde trabalhar e os mais de 2,5 milhões de crianças obrigadas a se empregarem como escravos para sobreviver, sem que o governo faça nada por eles, a não ser utilizá-los indignamente para suas propagandas de televisão. Saudamos todos os assalariados da Colômbia exauridos de suas conquistas salariais por uma reforma trabalhista reacionária e intimidados permanentemente em sua estabilidade e os 17.490 funcionários públicos jogados na rua com a desculpa demagógica da reestruturação do Estado.
Saudamos os 125.000 colombianos vítimas das fascistas prisões massivas de Uribe e de seu procurador Osorio os quais, acusados de terrorismo e submetidos ao escárnio público pela televisão, tiveram que ser libertados por sua absoluta inocência. Saudamos os camponeses afetados secularmente pela violência latifundiária e pela exclusão, arruinados desde há 10 anos pela estratégia neoliberal e hoje ameaçados pela ALCA.
Saudamos os indígenas, as comunidades afro-americanas, as diferentes etnias, os estudantes, os trabalhadores da cultura, os esportistas, os setores progressistas da Igreja, os professores, todos os jornalistas, incluindo aqueles submetidos à descarada estratégia oficial da autocensura. Saudamos todos os que sonham com uma Colômbia justa e solidária.
O ano que termina desmascarou a comédia dos acordos de desmobilização dos paramilitares em Santa Fé de Ralito como um vergonhoso espetáculo de Álvaro Uribe, do Departamento de Estado ianque e do militarismo, por meio do qual o narcotráfico a serviço do latifúndio, da pistolagem contra-revolucionária e demais ações criminosas desenvolvidas ao amparo das forças militares oficiais trabalha junto com Uribe para a formação de seu partido político e de sua engrenagem ao poder do Estado.
Também deixou a nu o Plano Patriota como aberta e cínica intromissão da Casa Branca nos assuntos internos da Colômbia, mas que tem demonstrado a absoluta e total inutilidade das operações militares para enfrentar a guerra de guerrilhas revolucionária como decisão armada que é do povo colombiano em seu objetivo de construir um novo país soberano, em democracia e com justiça social.
Deixou em evidência que os abusos, a criminalidade, a violação sistemática dos direitos humanos e a corrupção são inerentes a uma força pública que defende os privilégios de uma classe minoritária no poder como em Cajamarca, Guaitarilla, em Arauca, nos casos do coronel Estupiñán, do coronel Santoyo, etc.
O ano de 2004 ratificou, como aconteceu inumeráveis vezes antes, que o militarismo é insaciável na exigência de mais e mais orçamento, como ao se chupar um bombom, de que já quase acabamos, mesmo com o pleno conhecimento de seus pírricos resultados e da baixa moral de uma tropa mercenária sem mais atrativo que o do dinheiro.
Em 2004 ficou em evidência perante o país a falsidade de um governo que prometeu meritocracia e se descarou na repartição clientelista de cargos; prometeu ética no manuseio dos recursos públicos e as investigações invadem todo o aparato governamental até o Palácio de Nariño (sede da Presidência); prometeu a independência dos poderes públicos e logo após submeter ao parlamento, prepara reformas da justiça para que no futuro todo o aparato do Estado trema diante de suas iras de Deus Júptier; prometeu respeito para constituição e trapaceou até o impossível para aprovar sua reeleição como qualquer ditadorzinho de uma república bananeira do século passado.
Mas 2004 também nos mostrou outras características deste governo dos ricos. Por exemplo: a Colômbia não pode se dar ao luxo de aumentar seu orçamento para o ministério da guerra de $8.59 trilhões de pesos que foram gastos em 2004 para $11.84 trilhões aprovados para 2005 (sem calcular os $234 bilhões de pesos para os novos aviões, nem as ajudas gringas para o Plano Colômbia, nem os acréscimos orçamentários sempre concedidos no transcurso do ano fiscal aos vorazes generais), quando não há recursos para a saúde, a educação, nem para a moradia.
Para que tanta gritaria em torno das economias da ordem de $362.348 milhões de pesos com a reestruturação do Estado a partir do fechamento de numerosos órgãos públicos, se imediatamente se engorda mais o Estado aumentando o orçamento para a guerra em dois bilhões de pesos de um ano para o outro? E se por um lado jogou na rua os funcionários civis para reduzir o Estado, por outro aumentou a força pública oficial em 78.984 unidades que só gastam os recursos públicos sem acrescentar um centavo de valor à produção nacional.
O ano de 2004 nos mostrou que a subserviência uribista diante de Bush tanto política quanto militar e sua defesa dos interesses ianques na aprovação da ALCA trarão nefastas e complexas conseqüências na vida colombiana: a indigna aceitação e manipulação da extradição por parte de políticos pusilânimes incapazes de levar adiante processos judiciais em nosso país; aumento a presença do pessoal militar ianque em território nacional; feira do patrimônio nacional em matéria de biodiversidade e de recursos naturais em geral; e fraturas na identidade nacional em torno dos acordos sobre cultura e educação que adquirirão sombra de catástrofe.
Uribe e Bush estão apostando no adormecimento do espírito de luta do povo colombiano. Mas quão equivocados estão, porque desde a época da resistência indígena à conquista espanhola, passando pelas heróicas jornadas dos comuneiros (primeiros partidários da independência) de Galán e da monumental gesta libertária conduzida por Bolívar, até hoje, este povo tem demonstrado que jamais baixou a cabeça diante do poderoso e do mesquinho.
Por isso, ao saudar os colombianos e alentá-los para a conquista de melhores horizontes para o nosso povo no ano de 2005, ratificamos nossa decisão de luta e a disposição de encontrar a paz pelas vias do diálogo como sempre temos feito, desde Marquetalia, em 1964.
Reiteramos nossa proposta de levar adiante conversações diretas para conseguir a troca de prisioneiros de guerra na área dos municípios de Florida e Pradera, no estado do Valle del Cauca, com plenas garantias, da mesma forma que sobre a necessidade de separar estes processos estratégicos para o país da conjuntura de uma campanha eleitoral.
Saudamos todos os colombianos que têm sofrido na própria carne a dor de enterrar e de chorar seus seres queridos por causa do conflito e também todos aqueles que têm familiares como prisioneiros de guerra. Convidamos a todos a persistir para conseguir a meta das soluções civilizadas.
Aos nossos presos nos cárceres do regime, alentamo-los a manter em firme e erguida a dignidade como combatentes revolucionários que juramos lealdade à causa de nosso povo acima de todas as dificuldades e opróbrios a que nos queiram submeter. Nunca é tão importante, como em meio à adversidade, reafirmarmo-nos em nossa condição de homens livres, para a raiva de nossos adversários e exemplo diante das novas gerações. A calúnias e dúvidas que pretendem semear sobre nossa condição de lutadores políticos se fragmentam com o enérgico repúdio às bajulações, favores e enganos que estão oferecendo aos guerrilheiros presos em troca de sua traição.
Nosso único compromisso é com o povo e o ratificamos hoje lembrando o ideário de Jacobo Arenas, Efraín Guzmán, Arnulfo, Adán Ezquierdo e de todos os revolucionários íntegros que fizeram de suas vidas exemplo de dignidade e semearam o solo pátrio com a semente da esperança de poder construir uma nova Colômbia com justiça social, democracia e plena soberania.
Aos guerrilheiros farianos (das farc-ep) e aos milicianos convocamos em 2005 a manterem o esforço pelo cumprimento dos planos, a se qualificarem em todos os sentidos e a fortalecerem as organizações do povo, em primeiro lugar o Partido Comunista Colombiano Clandestino (PCCC) e o Movimento Bolivariano pela Nova Colômbia. Aos colombianos nosso convite a trabalhar em 2005 para fazer convergir os ânimos e esforços de todos os que não compartilhamos com os rumos fascistas dos que hoje pretendem conduzir nossa pátria, convergência dos que lutamos por estratégias soberanas, tolerância democrática e, sobretudo pelo fim da injustiça social.
Atenciosamente,
Secretariado do Estado Maior Central das FARC-Exército do Povo
Montanhas da Colômbia, dezembro de 2004
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