O massacre continua

A história nos conta que ali se instalou a empresa bananeira norte-americana United Fruit Company. Milhares de trabalhadores se vincularam com a ilusão de ter um trabalho para sustentar suas famílias. Logo viram truncadas suas esperanças já que a empresa lhes pagava um salário baixo, os fazia trabalhar doze horas diárias e os obrigava a comprar no comissariato (loja da empresa) os produtos necessários. O trabalhador sempre ficava endividado.

Estas injustiças, entre outras circunstâncias, levaram os trabalhadores a fundar o sindicato com a finalidade de chegar a um acordo com a empresa. Levaram meses procurando os representantes; todos os funcionários diziam que eles não tinham autorização. Portanto, declarou-se a greve e, aos 35 dias os donos da empresa os convocaram à praça de Ciénaga.

Compareceram a maioria de trabalhadores, muitos com suas famílias; queriam ver de perto o misterioso representante da United. Quando estava concentrada a maioria, o general Cortés Vargas ordenou os soldados que, com antecipação, haviam-se postado nos telhados das casas, a abrir fogo contra a multidão. Ninguém sabe até a hoje quantos morreram.

Da mesma forma que hoje, o presidente da época tratou os trabalhadores como delinqüentes; os cadáveres foram jogados ao mar e se negou que houvesse ocorrido a matança. García Márquez em seu livro Cem Anos de Solidão recolhe a história: “... deviam ser como três mil os mortos (...) mas em Macondo não aconteceu nada, não está acontecendo nada e não acontecerá nunca. Este é um povo feliz”.

“... naturalmente não é preciso pensar que o governo não exerceu nenhuma pressão para que se reconhecesse a justiça dos operários. Estes eram colombianos e a companhia era americana e dolorosamente o sabemos que neste país o governo tem para os colombianos a metralha homicida e um estremecido joelho em terra diante do ouro americano”, verbo valente de Jorge Eliécer Gaitán que, em 1929 denunciou no Congresso o genocídio. A oligarquia tem ocultado sistematicamente a barbárie. Isso faz 76 anos e o massacre continua.

Hoje o neoliberalismo eliminou com um talho as conquistas trabalhistas conseguidas com o sangue da classe operária colombiana. O assassinato continua sendo arma preferida da patronal, sustentada no terror do Estado. Assim é dizimado o número de sindicalizados. Aí está a origem das matanças do Plano Colômbia.

A isso se responde com paralisações, greves, manifestações e denúncias. Procura-se novas formas organizativas. Somente a unidade de todas as forças revolucionárias e democráticas poderá enfrentar com êxito a barbárie. O Movimento Bolivariano pela Nova Colômbia é uma das experiências que o povo vem assumindo para enfrentar a oligarquia e o imperialismo em suas pretensões de submeter a Colômbia ao fascismo.

A realidade da confrontação armada na Colômbia

Aplicando a fórmula fascista de “caluniai, caluniai que da calúnia algo fica”, Álvaro Uribe ordena as forças militares e de polícia a mentir sistematicamente sobre a realidade da confrontação armada na Colômbia e pressiona os grandes meios de comunicação para que se submetam às diretrizes do gabinete de imprensa da Presidência da República.

Com mentiras não se ganha a guerra

Trata-se de criar o falso ambiente de uma guerra que o Estado está “a ponto de ganhar” contra uma guerrilha em “debandada”, “sem razões políticas nem sócio-econômicas” de existência.

E, desse modo, enquanto a bajulação uribista da Colômbia e do mundo disputam os negócios do Estado, leiloa a preço de banana os bens do patrimônio coletivo utilizando tortuosos caminhos, toma dos trabalhadores inclusive os mínimos benefícios conquistados após longas e duras lutas e monopoliza mais a terra fértil, também pretende adormecer a raiva, o desespero, a fome e a indignação popular com cifras manipuladas sobre o desemprego, a cesta básica, a inflação e o crescimento econômico, ao mesmo tempo em que 60% dos colombianos mergulham na miséria e um em cada quatro só se alimenta uma ou duas vezes por dia, que não há onde trabalhar, nem há vagas nas escolas, nem há atendimento médico em clínicas e hospitais, nem muito menos se põe fim à corrupção e a tanta impunidade.

Não é só o navio “Glória” que está apodrecendo

A saída da cadeia dos ladrões da empresa Dragacol, o desaparecimento das 4 toneladas de cocaína em mãos de generais do Exército e da Polícia, as ilegalidades de um Ministério Público controlado pelo narcotráfico e pelo paramilitarismo, as silenciadas acusações do general Jaime Uscátegui sobre a responsabilidade direta do alto comando militar no massacre de Mapiripan, a coca sobrecarregada de Guaitarilla, a fria execução dos camponeses em Cajá Marca por parte do Exército Oficial, a heroína no “navio escola” da Marinha, as fraudes da administração de Peñalosa nas rodovias do transmilênio, os cafés-da-manhã em palácio com parlamentares uribistas e conservadores para repartir entre si o Orçamento Nacional e a nomeação como diplomatas dos familiares dos congressistas fisiológicos que “subitamente” se voltaram para o uribismo, demonstra que não é só o navio escola “Gloria” que está apodrecendo, mas é a própria alma das instituições oficiais que se desfaz nas mãos desta oligarquia voraz.

Os “mauricinhos” e os ianques pretendem reeleger Uribe

Agora, entre ministros e conselheiros, sindicatos patronais e pesquisadores, meios de comunicação e militares lançaram a perversa iniciativa da reeleição presidencial com nome próprio, fundindo nela o afã ianque de liquidar o pouco que nos resta de soberania, o interesse da banca mundial em ampliar seus lucros às custas da miséria do povo, o entusiasmo dos “grã finos” da Colômbia, o sentimento neonazista do atual presidente e a cega ambição dos negociantes de armas e da violência.

Porque a esquizofrênica obsessão de Álvaro Uribe é a guerra, sonha com a pax romana, com a terra arrasada; sua grave enfermidade mental é visível nas fascistas prisões massivas com as quais pretende intimidar a luta popular; também nas reiteradas exigências aos comandos militares por resultados medidos em litros de sangue derramado, ignorante ele das realidades do campo de batalha; seu estado mental também se manifesta nas fulminantes e humilhantes exonerações públicas de oficiais pelos fracassos sofridos em uma confrontação que diariamente confronta em múltiplos cenários as forças em conflito e na qual, naturalmente, nem tudo tem sabor de vitória.

A dureza da guerra

No ano 2003, por exemplo, as FARC combateram em 4.447 oportunidades contra a força pública e os paramilitares (média de 12.18 combates diários) nos quais houve 5.291 mortos entre militares, policiais e paramilitares e 4.701 feridos. Sem contabilizar nestes totais as baixas não confirmadas em mais de 919 situações (alguns combates, emboscadas e campos minados nos quais é fisicamente impossível presenciar). Em todas essas ações confiscamos 356 fuzis, 7 morteiros, 6 metralhadoras e 12 lança-granadas, avariamos helicópteros em 99 ocasiões e destruímos 12, derrubamos 5 aviões e avariamos 41, destruímos 1 lancha tipo piranha e avariamos 4, também destruímos 1 carro de combate tipo tanqueta e avariamos 6. No ano 2003 morreram em combate 542 guerrilheiros e 77 milicianos, e foram feridos 321 e 13 milicianos, cifras que evidenciam a dureza da confrontação.

Nos três primeiros meses do ano 2004 os choques se apresentaram da seguinte maneira: - Ações militares: 1.152 (12.8 diárias) - Resultados: 1.373 mortos entre militares, policiais e paramilitares e 818 feridos. - Próprias tropas: 43 mortos e 29 feridos.

E assim, enquanto a Colômbia continua adentrando nos imprevisíveis espaços de uma guerra civil, desperdiçando mais de 4.5% do PIB no terror da violência oficial (sem contabilizar as ajudas norte-americanas) e enquanto crescem desaforadamente as estatísticas por mortes violentas em todo o território nacional, pretende-se no curto prazo e pelas vias parlamentares, ampliar os poderes autoritários do presidente e dos altos comandos militares, procurando reprimir mais a população civil, pois como sempre tem ocorrido, estas balbúrdias ditatoriais em pouco ou em nada afetam aos que nos levantamos em armas contra a opressão oligárquica.

Diante do descontrolado gasto uribista na guerra, orientamos a sabotagem econômica que procure por fim ao ilimitado crescimento do orçamento oficial para a execução do Terrorismo do Estado. Nesse marco, entre o ano 2003 e no decorrer de 2004, entre outras ações, derrubamos 151 torres de comunicações e energia, também atacamos em 77 ocasiões poços de petróleo, oleodutos, polidutos, guindastes, subestações de Ecopetrol, baterias e, no caso particular do oleoduto transandino, destruímos dele 3.510 metros.

Com a autoria intelectual do Departamento de Estado e do Pentágono ianque, e com a intervenção direta de oficiais de inteligência do exército norte-americano, prossegue o deslocamento da força mercenária oficial. Por exemplo, para o sudeste do país estamos informando que por ordem presidencial vão à procura dos prisioneiros de guerra em poder das FARC, acantonaram forças em forma de cerco nos seguintes lugares:

San Vicente- Delicias- Cortina Verde. San Vicente- Campo Hermoso. San Vicente- Puerto Losada e Marimbas 1 y 2. Macarena - Morrocoy - Jordán- La zorra- el Turpial- Yaguara e Filo Quinche. Macarena-rio Guayabero abaixo.

Uma brigada móvil deslocada pela localidade de Cachicamo-Bocas del Perdido com a localidade de Losada e pela rodovia Tober. Pelo sul apareceram tropas do município de Cartagena del Chaira na localidade Los Cauchos rumo a Los Lobos com a finalidade de consolidar um corredor com os que estão na cidade de Yarí e na pista de Caquetania.

Desde há 40 anos, o Estado colombiano, de maneira cíclica e recorrente desencadeia frenéticas ondas de violência contra o povo colombiano sob o pretexto de liquidar as guerrilhas revolucionárias das FARC. Para isso, entregou a soberania nacional ao governo de Washington, aproximando o país cada vez mais da proximidade da invasão norte-americana.

Por isso, estamos convocando os colombianos a nos unirmos contra a agressão norte-americana que, de maneiras disfarçada, está alcoviteirando Uribe Vélez e que avança inexoravelmente na forma de assessoria militar, principalmente através do Plano Colômbia.

Fazemos um chamado aos oficiais da força pública, que amam verdadeiramente a Colômbia, que juraram fidelidade à causa bolivariana e que sonham com a solução política para o conflito, a que dialoguemos como tem proposto o Comandante Manuel Marulanda.

A crueza das cifras referidas da confrontação militar na Colômbia nos leva a reiterar nosso chamamento para construir um Novo Governo que conduza o país para a solução política do conflito armada, para a democracia, a soberania e a justiça social.

Por Leonel Terraza

Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP Montanhas da Colômbia

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