Quando “culpa” se torna “desculpa”

Um novo preceito se formou na comunidade internacional, utilizado pela aliança anglo-saxónica, que emprega o pedido de desculpa em público para justificar os males que fizeram e que inventa a noção que embora estavam errados, tinham razão, o que desafia a lógica.

Primeiro, foi o Primeiro-ministro britânico, Tony Blair, que declarou na Conferência do seu Partido Trabalhista, que podia pedir desculpa pela informação errada providenciada pelos serviços de inteligência mas que não pedia desculpa pela invasão do Iraque. A seguir, foi o Rumsfeld, que não conseguiu dizer a palavra “desculpa” mas que disse à Comissão de Relações Exteriores que os relatórios em que o casus belli foi fundamentado estavam errados e que o argumento que a questão do Iraque estava ligada ao terrorismo internacional também estava errado, mas depois tentou justificar tudo dizendo que Saddam Hussein tinha a intenção de produzir Armas de Destruição Maciça.

Agora é a Ministra de Comércio e Indústria do Reino Unido, Patrícia Hewitt, que disse ontem no programa do BBC Question Time, “Eu quero dizer que todos nós, desde o Primeiro-ministro, pedimos muita desculpa. Nós pedimos desculpa pelo facto que as informações estavam erradas mas eu penso que não estávamos errados em decidir atacar”.

O princípio que uma pessoa pode pedir desculpa por ser errado e depois dizer que tinha razão desafia a lógica. Não é o caso de alguém tirar o lápis do colega de carteira e depois devolvê-lo com um pedido de desculpas. É o caso do mais flagrante desrespeito pela lei internacional, um ultraje contra a comunidade internacional, contra o estado de lei, contra a Carta da ONU, contra a Convenção de Genebra, em que um acto de chacina em grande escala foi cometido, em que um acto de terrorismo ao nível de destruir as infra-estruturas dum país inteiro foi perpetrado.

Se o casus belli foi baseado em dois preceitos – que o governo do Iraque tinha ADM, que colocava uma ameaça imediata aos EUA e aos seus aliados, e que o governo de Saddam Hussein tinha ligações com a rede do terrorismo internacional e os dois preceitos acabam, pela admissão dos elementos que talharam o caso para justificar esta guerra, por serem totalmente errados e falsos, onde é que isso deixa os responsáveis?

Desculpados? Ou culpados?

Srs. Bush, Rumsfeld, Cheney, Powell e Blair como reagem à acusação que atacaram o Iraque ilegalmente, fora da autoridade da ONU, e sem qualquer casus belli?

Desculpem!

Srs. Bush, Rumsfeld, Cheney, Powell e Blair como reagem à acusação que são responsáveis pelo assassínio de milhares de civis inocentes?

Desculpem!

Srs. Bush, Rumsfeld, Cheney, Powell e Blair como reagem à acusação que são responsáveis pela ocasião de danos corporais graves ou intencionalmente ou por negligência criminosa, a dezenas de milhares de inocentes, incluindo crianças?

Desculpem!

Srs. Bush, Rumsfeld, Cheney, Powell e Blair como reagem à acusação que escolheram como alvos militares, infra-estruturas civis?

Desculpem!

Srs. Bush, Rumsfeld, Cheney, Powell e Blair como reagem à acusação que basearam suas acções sobre um fio de mentiras desde o início até ao fim, que sabiam muito bem o que estavam a fazer, que decidiram entrar no Iraque porque tinham começado a accionar o mecanismo de guerra sem saberem todos os factos, mas que não tinham a decência ou a espinha de admitir que estavam errados?

Desculpem!

Pedir desculpa não chega. Em todos os países, os que são considerados culpados, mesmo aqueles que pedem desculpa e admitem seus crimes, têm de enfrentar um processo judicial num tribunal, onde são devidamente julgados. Têm de encarar as consequências das suas acções.

Votar a favor da continuação dos regimes de Bush e Blair é votar pela regra que a lei é imposta por linchamento, é um voto pela continuação dos actos terroristas tais como aqueles perpetrados pelas forças militares norte-americanas e britânicas, contra civis.

Os terroristas e os criminosos de guerra devem ser julgados e se forem culpados, devem ser castigados. Por quê razão é que este bando de elitistas deve ser tratado de forma diferente?

Porque são anglo-saxónicos? Ou será porque disseram que estavam enganados?

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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