JUSTIFICANDO O INJUSTIFICÁVEL

O inspetor estadunidense Charles Duefler, que examinava os programas de armas químicas, biológicas e nucleares no Iraque, concluiu seu relatório final e o enviou aos parlamentares dos EUA. A conclusão é óbvia: o Iraque de Saddam Hussein não tinha armas de destruição em massa, não tinha programas para desenvolvê-las ou produzi-las, e sua capacidade de construir tais arsenais estava se deteriorando por conta do embargo econômico da ONU.

Logicamente, este deveria ser um grande golpe para a reeleição de George W. Bush, a menos de um mês das eleições: o atual presidente e seu governo mentiram, pura e simplesmente. Invadiram um país soberano, afrontaram a ONU e a comunidade internacional, mataram milhares de civis, gastaram centenas de bilhões de dólares de seus contribuintes, mandaram seus soldados para lutar em uma guerra imoral, torturaram iraquianos com base em suspeitas vagas, transformaram o Iraque num paraíso para terroristas com atentados diários - tudo isso com base em uma mentira, afirmando que Saddam Hussein era uma ameaça ao mundo, que podia atacar Israel ou a Europa com mísseis armados com bombas químicas, biológicas ou mesmo atômicas.

Mas eis a suprema arte da dialética, no pior sentido da palavra, que a administração Bush leva ao paroxismo: torcem os argumentos de uma maneira incrível, tentando justificar o injustificável. O relatório de Duefler é um ótimo exemplo disso: ele coloca um "mas" que tenta dar razão a Bush. O Iraque não tinha armas de destruição em massa nem as desenvolvia, MAS poderia vir a tê-las no futuro, diz Duefler.

Essa justificativa é ótima, porque absolutamente universal: com base nela, Bush pode atacar qualquer país. Digamos que Bush mais uma vez ouvisse a voz divina (que sempre lhe diz o que fazer, segundo ele) e resolvesse atacar a Suiça. Ora, a Suiça é um país neutro, nunca fez mal a ninguém, nem há o menor traço de programa de armas de destruição em massa nesse país. "Mas a Suiça poderia no futuro vir a ter tais armas", diria Bush, e tudo estaria explicado.

Ou imaginemos um tal argumento aplicado na legislação penal. Prende-se um sujeito qualquer, cidadão honrado e respeitador da lei que nunca cometeu nenhum crime. "Mas ele poderia vir a ser um criminoso no futuro", diria um juiz com base no precedente de Bush.

Sem dúvida, temos um lunático na Casa Branca. O lugar de Bush, Cheney, Rumsfeld e outros membros deste governo não é o Salão Oval, mas um hospital psiquiátrico. E o mais surpreendente é que haja tantos norte-americanos que aceitem com tal naturalidade argumentos absurdos como este, e estejam dispostos a votar em Bush. Carlo MOIANA Pravda.ru Brasil

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