A Semana Revista

Sócrates pouco filosófico

PS elege como novo líder “Homem de Acção”

José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa é o novo líder do Partido Socialista em Portugal, tendo ganho a eleição na primeira volta de forma claríssima contra João Soares (Deputado e ex-Presidente da Câmara de Lisboa) e Manuel Alegre (Deputado e poeta).

Num processo eleitoral um pouco estranho (durou dois dias e a medida que os resultados se tornaram conhecidos eram revelados, o que podia condicionar a direcção de voto ao longo do segundo dia), o Partido Socialista deu a conhecer a sua vontade, elegendo José Sócrates com 78,6% do voto, contra 16,6% de Manuel Alegre e 3,9% para João Soares.

Assim o Partido Socialista escolha o campeão da ala direita do partido, filho duma família abastada que já esteve presente nas listas do JSD (Jovens Sociais Democratas). Cedo percebeu, porém, que não se sentia bem dentro deste partido e se juntou ao PS em 1981, com 24 anos de idade.

Nasceu em Vilar de Maçada, Trás-os-Montes no nordeste de Portugal em 6 de Setembro de 1957 mas passou a infância em Covilhã, no centro, onde entrou no PS nas listas da Federação Distrital de Castelo Branco em 1983 e quatro nãos mais tarde, entrou na Assembleia da República (o Parlamento), fazendo parte da oposição ao então Primeiro- ministro, Aníbal Cavaco Silva.

Com o regresso do PS ao poder em 1995, sob a liderança de António Guterres, Sócrates começou a sua ascensão no partido e na política, primeiro como Secretário de Estado do Ambiente, subindo para Ministro-adjunto do Primeiro-ministro e finalmente, Ministro do Ambiente.

Foi neste lugar que José Sócrates deu provas claras que é um homem de acção e que deixa trabalho feito. Lançou-se na difícil tarefa de implementar uma rede de aterros sanitários em Portugal, tendo completado o projecto dentro do prazo, mesmo que este foi limitado com a demissão de Guterres em 2002. Outros sucessos foram o lançamento do programa POLIS e seu envolvimento na organização do EURO 2004.

Com a escolha de Sócrates, o PS abre mais uma vez as portas ao Guterrismo, deixando em aberto a hipótese duma dupla António Guterres ou António Vitorino (Presidente) e Sócrates (Primeiro-ministro) no PS ou então Cavaco Silva (Presidente) e Santana Lopes (Primeiro-ministro) no PSD.

Mais uma vez, o Partido Socialista fez um exame a si próprio, demonstrando que tem grande profundidade política em material humano e a capacidade para debates internos que chegam aos alicerces do partido. Manuel Alegre e João Soares proporcionaram ao partido um exaustivo exame interno, que ofereceu alternativas desde a direita à esquerda do PS.

De filósofo, Sócrates não tem nada. Como Engenheiro Civil, é um homem prático e as suas primeiras palavras depois de conhecer o sabor da vitória falaram da importância de “fazer do PS um partido para substituir o actual Governo”.

Para isso, Sócrates tem como melhor aliado o governo do PSD/PP, que demonstra uma incompetência governativa jamais vista em Portugal ou em qualquer outro país do dito “mundo desenvolvido” (o legado de José Barroso, discutivelmente o pior Primeiro-ministro na história de Portugal). Um exemplo clássico é a incapacidade de colocar 50.000 professores no início do ano lectivo em Setembro de 2004 e a culpabilização pelo sucedido do sistema informático (que foi entregue em Dezembro de 2003).

Com os candidatos derrotados a cerrar fileiras atrás de Sócrates, o PS tem a tarefa relativamente simples pela frente de explorar os enormes buracos criados pela incompetência do PSD/PP na sua tarefa governativa.

No entanto, daqui a dois anos, o que contará no processo de eleger o Primeiro-ministro de Portugal (lembrando que Santana Lopes foi aprovado pelo Presidente mas não eleito por sufrágio universal) será qual destes dois grandes comunicadores (Santana ou Sócrates) saberá passar a sua mensagem ao povo português.

Hoje, as sondagens dão uma clara vantagem ao PS com uma intenção de voto de 46,4% contra 34,5% para o PSD. Amanhã, ou seja nos próximos dois anos, Santana Lopes terá tido o tempo suficiente para as suas qualidades deixarem ou não a sua marca na política nacional, sendo beneficiado ou não pela conjuntura económica internacional.

Poder e Responsabilidade: Não fui eu! Foi o dinossauro!

Classe governativa em Portugal é cronicamente irresponsável

Quanto mais se estuda, quanto mais fica evidente que Portugal carece completamente duma classe governativa com qualidade e competência para governar. A palavra “Responsabilidade” é alheia não só aos politicóides fuleiraços que grassam por aí amiúde, é desconhecida entre os dirigentes portugueses em geral.

Quem se lembra dos casos trágicos das mortes de crianças em AquaParque? Quem se lembra do caso do rapaz que morreu electrocutado quando tocou no botão dum semáforo?

Alguém se apressou a confortar as famílias? Alguém se apressou a resolver estes casos tristes o mais depressa possível, concluindo-os devida e justamente, decente e eticamente? Não, fecharam-se em copas, em reunião após reunião, os casos abriram e foram proscritos, abriram outra vez, ninguém pagou indemnizações porque ninguém era responsável. Que se lixem as vítimas, é preciso salvar a pele!

Parece uma anedota este Portugal. Falta só uma pessoa comprar um electrodoméstico que não funciona, levá-lo à loja onde o comprou e levar uma carga de porrada ou ser ridicularizado por o ter utilizado.

Mas mesmo esta analogia é errada, pois nem a loja tem responsabilidade. Comprem um electrodoméstico que deixa de funcionar durante a garantia e telefonem à loja. “Não é da nossa responsabilidade” será a resposta e depois de discutir um pouco, pode ser que o funcionário dê o nome da empresa que concerta as máquinas que aquela loja vende. Se tiver azar, ninguém aceitará a responsabilidade e terá de ficar sem a máquina enquanto for tratado como uma bola de pingue-pongue ou então terá de comprar outra, o que é que eles queriam que fizesse.

Não é só nos electrodomésticos, nos semáforos e nos parques de divertimento em que a palavra responsabilidade é desentendida em Portugal. Temos agora um excelente exemplo no Ministério de Educação, que teima em não poder colocar 50.000 professores nas escolas no início do ano lectivo.

“Foi o software!” é a desculpa, como o rapaz de três anos que põe o dinossauro de plástico a comer as plantas no marquise, partindo-as todas e depois dá como desculpa “Não fui eu! Foi o dinossauro!”

Foi o software… A firma Compta, que ganhou o concurso para a prestação de serviços ao Ministério de Educação rejeita por inteiro a responsabilidade pelo sucedido com a afirmação (em comunicado) «carecem de fundamento sério os comentários públicos que imputam responsabilidade à Compta no que respeita a eventuais desconformidades do software». Não foi o software então.

Software é uma resposta a uma filosofia, que tem de ser adequadamente descrita para que o programa possa ser feita conforme as necessidades.

Neste caso, nem a Compta diz, mas o concurso em questão teve lugar não no início de 2004, mas em 2003 e um dos fundamentais para a entrega dos documentos pelos concorrentes foi o prazo limite até ao final de Dezembro de 2003, para que o software pudesse ser implementado em Janeiro de 2004, a tempo para o início do ano lectivo em Setembro.

Se fosse o software, o quê é que os técnicos estavam a fazer em Janeiro? E Fevereiro? E Março? E Abril? E Maio? E Junho? E Julho? E Agosto?

Se alguém me dissesse que pessoas no Ministério de Educação se recusaram a utilizar o software porque não entendem nada dos computadores, acreditaria. Se alguém me dissesse que todo o processo foi motivado por interesse políticas e foi gerido por incompetentes que têm as cores partidárias certas, acreditaria. Se alguém me dissesse que as pessoas competentes no Ministério (e há muitas) foram ignoradas, acreditaria a se alguém me dissesse que quem dirigia o processo nada entende de educação, também.

Se alguém me dissesse que ninguém aceita a responsabilidade, eu diria que nem é preciso dizer-mo, porque resido em Portugal há 25 anos. Que se lixe a população, é preciso encher os cofres!

Discurso de Bush: Patetóide

O discurso de Bush na ONU foi incoerente, desadequado e nada convincente

George W. Bush fez um discurso infantil, simplista e pouco profundo na 59ª sessão da Assembleia-geral da Organização das Nações Unidas em Nova Iorque, a Organização cuja Carta ele quebrou e cujas instituições ele desrespeitou e insultou quando lançou seu chocante acto de chacina contra os civis no Iraque.

George Bush entrou no edifício das Nações Unidas sabendo muito bem que os olhos dos cidadãos do mundo estariam postos nele. O que seguiu foi uma demonstração perfeita da sua hipocrisia e uma perpetuação da teia de mentiras que ele e seu regime teceram.

Seu discurso tinha quatro pontos principais: uma tentativa fraca e nada convincente de justificar o ataque contra o Iraque, um pedido de ajuda para lutar contra o terrorismo internacional (juntamente com uma ligação clara mas não dita do Iraque a esse assunto), uma exigência que a ONU faça mais na reconstrução do Iraque e uma palmadinha na mão de Israel, um adendum cosmético para os mais ingénuos, desinformados e ignorantes engolirem.

De facto, os discursos de George Bush ficam cada vez menos profundos, cada vez mais simplistas e simplórios e cada vez menos convincentes, enquanto ele chafurda na lamúria que ele inventa pela sua incompetência, limitações e estupidez, como um animal preso numa ratoeira, que ao tentar escapar, faz movimentos cada vez mais bruscos, que desafiam cada vez mais a lógica, com os resultados óbvios.

Em primeiro lugar, como é que se pode justificar o injustificável? O ataque contra o Iraque foi ilegal sob os termos da lei internacional e a pessoa ou pessoas que talharam este discurso para Bush ler o sabiam muito bem que sob cada e todas as resoluções e sob os princípios da Carta da ONU, a decisão de travar uma guerra tinha necessária e obrigatoriamente de passar por um voto a favor pela maioria dos 15 membros do Conselho de Segurança da ONU. Foi esse o Conselho que Bush evitou a todo o custo, sabendo que nunca iria obter esta aprovação, apesar de ter utilizado chantagem e prepotência em vez de diplomacia. Um golo na própria baliza. 0-1. Em segundo lugar, como é que Bush pôde estar perante a comunidade internacional e reiterar ou perpetrar a mentira que ele e seu regime inventaram, nomeadamente que o Iraque e o terrorismo internacional tinham qualquer ligação? Ou George Bush é agora um mentiroso descarado e compulsivo, que acredita nas suas próprias invenções e alucinações, ou levou uma lavagem do cérebro pelos seus companheiros Wolfowitz, Rumsfeld, Cheney et alia, ou então ele tem estado outra vez a comer demasiados pretzels sem mastigar.

Se o Iraque tivesse tido qualquer ligação com o terrorismo internacional, por quê é que o próprio Bush admitiu mais do que uma vez que não havia qualquer prova de ligação a Al-Qaeda? Por quê é que o regime de Washington mencionou Armas de Destruição Maciça e não terrorismo internacional?

Porque nem pensaram nisso. Só quando a primeira mentira foi desvendada, é que alguém decidiu lançar a segunda, a ver se pegava. O 9/11 foi suficientemente forte para convencer muito americano, incluindo o ingénuo Bush, que nem sabe ler um mapa. Mas será ele e as pessoas que querem elegê-lo os únicos a acreditarem nesse tipo de disparate. Outro golo na própria baliza. 0-2.

Em terceiro lugar, exigir que a ONU presta mais apoio na reconstrução do Iraque é o cúmulo de arrogância e miopia política, depois de ter insultado esta organização tão rotundamente. Já agora, por quê é que ele não corta os pneus do carro do professor e depois reclamar quando este chega atrasado às aulas? Se o Iraque está preparada para eleições, é devido ao grande trabalho da ONU, incluindo Sérgio Vieira de Mello, e não às forças bárbaras e assassinas de Bush, que são responsáveis por crimes de guerra, deitando bombas de fragmentação em áreas civis, escolhendo infra-estruturas civis como alvos militares, cometendo massacres e matando ou mutilando dezenas de milhares de pessoas inocentes. Outro! 0-3.

De facto Bush quase marcou um golo, um único golo, quando mencionou o terrorismo internacional mas também, onde estava ele e onde estava seu país quando Moscovo estava a falar nisso há alguns anos? Estavam tão interessados que até chamaram os terroristas chechenos de “rebeldes” e “separatistas” e depois viraram olho grosso a programas de armamento e financiamento dos mesmos e ao facto que bons aliados de Washington continuam hoje em dia a oferecer asilo político a terroristas procurados por Moscovo. Quanto melhor, foi um remate que saiu muito ao lado.

Foi querido e doce sua menção de Beslan mas também, que valor tem a palavra dum assassino em grande escala e dum criminoso de guerra, quando fala da chacina de crianças mas quando as forças armadas de Washington, dos quais Bush é o comandante-chefe, fizeram a mesma coisa no Iraque? Qual é a diferença entre metralhar uma criança nas costas e deitar uma bomba de fragmentação na sua casa? Os terroristas chechenos chacinaram centenas de crianças russas numa escola. Os terroristas norte-americanos chacinaram centenas de crianças iraquianas nas suas casas. Outro golo na própria baliza. 0-4.

Mas a cereja no bolo neste discurso e insultuoso (para a inteligência colectiva da comunidade internacional) terá de ser a referência a Israel, que tem de desmantelar os assentamentos ilegais e tem de parar com o tratamento desumano e a “humilhação diária” do povo Palestiniano.

Quem foi que sempre apoiou, financiou, treinou e armou o Israel desde o primeiro minuto, quem foi que sempre vetou ou se absteve de todas as resoluções que criticavam as políticas mais feias do Zionismo-Fascismo de Israel? Quem fez sempre vista grossa e se recusou a encarar a realidade no Médio Oriente?

Depois de cinco golos na própria baliza, seria melhor substituir o jogador.

São horas para uma mudança de regime.

Globalização ou Proteccionismo?

A Globalização é uma internacionalização de oportunidades, ou fomenta a criação de reservatórios de pobreza endémica que perpetuam um cenário de “ter” e “não ter”?

Se a globalização tem a ver com criar oportunidades iguais, distribuir a riqueza ou pelo menos criar as condições para a riqueza ser distribuída, então não passa duma quimera. Se a globalização tem a ver com reduzir a “linda do fundo”, tirar emprego de áreas onde existia e criar escravatura em zonas onde era desconhecida, mantendo os salários em baixa, negando o direito ao desenvolvimento, é isso que se vê hoje.

Então é isso a globalização. Um mecanismo bem forjado, protegido pelas suas instituições, mantendo os que têm mais ricos e os que não têm mais pobres. Um belo exemplo destas instituições é a Organização Mundial do Comércio, que supostamente cria os alicerces para livres e iguais condições comerciais para todos os jogadores no mercado internacional.

Livres? Como?

Quando os países mais ricos (que enriqueceram a custo de saquear os bens dos mais pobres) impõem tarifas de importação para negar acesso livre aos seus mercados, quando atribuem subsídios aos seus produtores para lhes dar uma vantagem desigual, para que possam colocar seus produtos no mercado a preços fictícios, onde está o mercado livre, onde estão as condições iguais?

E mais. Se alguém ousa negar o acesso ou intrusão nos seus mercados das instituições controladas por Washington, arrisca uma tentativa de golpe de estado (Venezuela) ou dum acto de chacina (Iraque).

A globalização, dizem, é uma inter-ligação de culturas numa diversidade maravilhosa de estímulos. O que se vê hoje é um mundo que quer ser multi-polar, mas que tem um único e teimoso polícia a tentar impor-se, tentando impor uma abordagem unipolar à gestão das crises, num mundo dividido cada vez mais por conflito e intolerância.

A globalização, neste modelo, trouxe a Nossa planeta (se não é já só dos norte-americanos) mais perto dum conflito de civilizações deste a segunda guerra mundial. A globalização, neste modelo, criou um espaço cada vez maior entre os que têm e os que não têm e a globalização, neste modelo, faz com que o acidente chamado “local de nascimento” conta, e muito, ditando as hipóteses do cidadão no futuro. Se tem direito a ter professores na sala de aula, se tem direito a votar, se tem direito a ter água potável em casa, se tem direito a um computador, se tem direito a comer, se tem direito a viajar livremente, se tem direito a entrar num país por causa duma folha de papel, ou se será acusado e ser um intruso, ou uma prostituta, por causa dum carimbo. Globalização, qual quê?

A globalização neste modelo criou um mundo que obedece o princípio “quanto mais escura a pele, pior a pessoa”. Chegou, assim, ao ponto mais baixo possível na tabela da civilização humana.

Bonitas são as palavras e as promessas, cosméticas são os programas de apoio. Apesar da muita boa vontade de muita gente, falta sempre e sem qualquer excepção o financiamento adequado para os programas de apoio humanitário da ONU. Não surpreende porque o polícia mundial (cujas forças militares nem conseguem dominar uma mão-cheia de heróis da Resistência no Iraque) já desrespeitou esta Organização até ao ponto de a chamar uma “Liga das Nações”, culpando assim a ONU da incapacidade do organismo anterior, na altura da escalada entes da segunda guerra mundial.

Mas a verdade nua e crua é o seguinte: até 2050, mais do que 90% da população do mundo estará vivendo em Países Menos Desenvolvidos. A globalização neste modelo actual providencia um mundo inteiramente desequilibrado, onde uma parte substancial dos cidadãos não tem comida suficiente para colocar na mesa de jantar, onde o fornecimento de água potável não é um direito adquirido ao nascimento.

Assim, a globalização, neste modelo, cria umas ilhas de riqueza e um mar de populações totalmente dependentes de apoio estrangeiro humanitário ou económico. Este modelo de globalização não tem a ver com uma comunidade de irmãos a entre-ajudarem-se.

Este modelo de globalização tem a ver, sim, com uma colonização unilateral dos recursos do mundo, em nome da globalização.

Por isso é uma usurpação da palavra nobre, é um insulto à excelente ideia de formarmos duma vez para sempre uma comunidade de nações em base de igualdade, utilizando o debate, o diálogo, a diplomacia, a democracia como preceitos comuns. George W. Bush, o vaqueiro que recebe mensagens do seu Deus e do seu Dick (Cheney), conseguiu contrariar a vontade da comunidade internacional a esse respeito.

Porém, o mundo não é e nunca foi, unipolar e quem quisesse impor esta falsidade, pagou um preço alto. Os Romanos e gregos tinham experiências mais felizes porque conseguiram criar um multipolarismo a partir do unipolarismo. Tchingis Khan, Napoleon, Hitler e Bush são exemplos dos fracassos do unipolarismo que não conseguiu ultrapassar essa barreira.

Actualmente, temos cada vez mais nações que são incapazes de produzirem comida suficiente para se alimentarem. Nem estamos a falar de computadores, de câmaras digitais, de ligações de banda larga. Estamos a falar “sobrevivência”. A globalização neste modelo desceu a isso. Um fracasso.

Enquanto houver países dependentes em apoio alimentar, este modelo de globalização vai talhar a vitória dos falhados. Um país que tem o estatuto de nação soube defender-se e criar uma entidade geo-política única. Um país que não consegue alimentar a sua população levanta sérias suspeitas de que algo aconteceu de errado.

O errado era, e é, a intrusão dos que têm (por causa de terem saqueado os recursos dos que tinham mas já não têm). O errado é o modelo de globalização que obedece as regras mais proto-históricas de desenvolvimento: Colonização, Imperialismo. Criar dependência. “Eu pago a sua comida e a do seu povo se você passar o controlo do seu país para mim, mas pelo amor de Deus não digas nada a ninguém (lembras-te daquela noite com a Sharlene?)…olhe, tome aqui um envelope com três milhões de dólares”. “Obrigado, patrão”. “E votas para mim no Conselho de Segurança?” “Sim, senhor”.

A globalização é uma palavra bonita. Tem a ver com o sorriso do esquimó que caça a primeira foca, tem a ver com a concentração do rapaz índio no Amazonas que coloca sua mão no buraco da árvore para ver se está lá uma aranha, tem a ver com a moça angolana que aprende a fazer o funje pela primeira vez, tem a ver com o rapaz português que joga a Sueca com o amigo e ganha ao seu pai e seu tio, e que partilham estas experiências com alegria, com gáudio, com um grande sorriso, com os seus contactos por aí fora. A globalização é aquilo que os cidadãos globais querem fazer dela. Será que queremos ver um bando de assassinos e gatunos que se enriquecem a custo dos recursos dos outros? Ou será que queremos ver uma globalização que merece o estatuto da palavra, nomeadamente um mundo igualitário, onde o direito de ter, nada tem a ver com o acidente de nascimento?

Para isso temos de consciencializar-nos que os recursos do planeta são um bem global e temos de ajudar os irmãos que têm menos hoje, a ver se amanhã têm mais.

Isso é a globalização que a população do mundo quer. É tão bonito o sorriso humano. Por isso não vamos denegrir a palavra, vamos dar uma mais-valia ao conceito. E por isso, evidentemente, temos de escolher em quem votamos.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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