OS PES NEGROS

Quando a Argélia estava lutando para se tornar independente do domínio francês no final dos anos cinqüenta do século passado, houve um sangrento conflito entre os insurgentes nacionalistas islâmicos e o exército francês. Os nacionalistas criaram uma força para-militar que praticava atos de terrorismo contra os franceses.

Então os franceses também criaram uma força para-militar para combater o terrorismo que revidava a atrocidade com a contra-atrocidade vingando a morte de um soldado francês, matando dez vezes esse número entre a população muçulmana local. Os nacionalistas cognominaram este grupo de “Pés Negros”. Este conflito serviu para evidenciar que terroristas islâmicos lutando por sua terra ou não, dificilmente desistem, não importando quanto tempo leve ou quantas pessoas tenham de morrer. Os governantes israelenses aprenderam esta lição e estão cedendo a algumas demandas dos palestinos. O governo norte-americano contudo, ainda tem o que aprender especialmente, que quando terroristas islâmicos estão lutando por sua terra são ainda mais perigosos.

O exército norte-americano sob ordens diretas do Secretário de Defesa linha dura, Donald Rumsfeld, numa tentativa desesperada de derrotar a insurgência no Iraque, está, como os pés negros na Argélia, cometendo atrocidades contra a população civil, supondo que tal ação irá intimidar os insurgentes que, supostamente, deverão compadecer-se dos muçulmanos mortos, capitular e se entregar aos americanos e finalmente, a ordem viria ao Iraque do pós-guerra. Entretanto, como os argelinos, os insurgentes iraquianos nunca irão desistir o que significará um conflito interminável. A propósito, se os próprios norte-americanos se esforçaram para que o novo governo do Iraque fosse legítimo e não parecesse um simples fantoche, ele deveria ser capaz de controlar a insurgência. Rumsfeldj, aparentemente, não pensa desse modo. Ele, na verdade, está se aproveitando do fato de haver um governo que na realidade é fantoche para, não oficialmente, fazer o que bem entender.

Aparentemente, não foram somente os pés negros que influenciaram Rumsfeld. Por exemplo, os abusos cometidos na prisão de Abu Ghrasib certamente foram inspirados nas táticas usadas pela Gestapo de Hitler, em seus prisioneiros e, certamente inspirado na ação efetiva do exército israelense sob ordens do também linha-dura Ariel Sharon, contra o terror do Hamas que ocasionou a morte de seu líder, o xeique Ahmed Yasin e após, o seu sucessor, Rumsfeld ordenou a seu exército que matasse ou aprisionasse o líder dos insurgentes, o clérigo xiita Muqtada Al Sadr, supondo que sem liderança, a insurgência desapareceria. Infelizmente, esta caçada demanda um enorme esforço por parte do exército e há alguns efeitos colaterais e prédios têm de ser destruídos e pessoas inocentes têm de morrer. A questão é que o exército norte-americano não é muito eficiente quando precisa encontrar pessoas. Por exemplo, se não fosse pela denúncia de um de seus próprios homens Saddam Hussein ainda estaria se escondendo e apesar de todo o esforço empreendido na caça a Osama Bin Laden, ele ainda está à solta.

O que Donald Rumsfeld deveria aprender é que o fundamentalismo islâmico está muito além da compreensão para os que não são filhos de Alá. Nem mesmo Gandhi conseguiu convencê-los. È a única religião em que a guerra é santa e não houve evolução desde os tempos de Maomé e se caso surgisse algum Lutero tentando mudar as coisas, provavelmente ele seria condenado a morte como o escritor inglês Salman Rushdie. Se Rumsfeld quer mesmo destruir a insurgência é muito simples: ele precisa apenas deixá-los. Eles se destruirão a si mesmos. Mas enquanto houver um inimigo estrangeiro, eles estarão unidos. Por causa da intervenção americana no Iraque, sunitas, xiitas e curdos que antes costumavam odiar-se, estão agora, unidos contra um inimigo comum. Ele deve também entender que matar pessoas inocentes entre a população muçulmana apenas servirá para aumentar o ódio contra o povo americano no entanto, para os insurgentes, os inocentes estão morrendo por vontade de Alá e desde que morrem numa guerra santa contra o “Grande Satã”, como o falecido Aiatolá Khomeini costumava chamar os Estados Unidos, estarão no paraíso ao lado de Alá.

A propósito, com essas ações, Rumsfeld não está contribuindo para a imagem que seu superior, o presidente George W. Bush tem tentado passar dos Estados Unidos, de uma liderança internacional cuja única intenção é espalhar os ventos da democracia pelo mundo e salvar os fracos e oprimidos. Endossando isto, Bush disse uma vez, após o mundo descobrir que não havia armas de destruição em massa no Iraque e que, portanto, não representava ameaça e sendo este o suposto motivo para a guerra, que esta era para libertar o povo Iraquiano e que o mundo estava melhor sem Saddam Hussein, embora não houvesse tamanha nobreza de pensamento em suas intenções quando ele iniciou a guerra. Agora, após os escândalos de abusos na prisão de Abu Ghraib, o massacre de pessoas inocentes e considerando o caos em que se tornou o Iraque, pergunta-se se não seria melhor restabelecer Saddam no cargo. È claro que esta não é uma opção, contudo, uma vez que não há povo que não prefira um mau governo próprio a um bom governo estrangeiro, é hora dos americanos partirem do Iraque.

Sonhar nada custa.

José Schettini Petrópolis RJ BRASIL

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