George Lucky Luke Bush: Atirar primeiro, pensar depois

A política de gestão de crises precoce, unilateral, simplória, com as bombas a cair e as armas a cuspirem fogo, utilizada pelo presidente dos Estados Unidos da América, George W. Bush, fica cada vez mais difícil de entender com cada dia que passa. Depois das afirmações que o Iraque tinha Armas de Destruição Massiva e o resultante acto de chacina, depois da construção do primeiro campo de concentração desde Auschwitz e Dachau, agora elogia o camarada e colega em actos de assassínio em grande escala, Ariel Sharon, pelo seu plano de “paz”, que irá inflamar os Palestinianos e que dá um tiro de caçadeira na Mapa de Estrada.

A aceitação de George Bush do plano de paz de Ariel Sharon (elaborado por este na década de setenta), sem sequer dar o trabalho de consultar a Autoridade Palestiniana, foi um acto espectacular de miopia política, mesmo para o Bush. Numa só reunião, em que os dois assassinos estiveram em pé, lado a lado, sorrindo arrogantemente e com caras de demente, George Bush varreu da mesa anos e anos de negociações complexas e delicadas entre o Quarteto (ONU, Federação Russa, União Europeia e EUA), Israel e a Autoridade Palestiniana sobre um acordo duradouro e pacífico para um problema que dura há mais que meio século.

Como um bêbado que volta a casa e tira a louça (cuidadosamente limpa e colocada) da mesa com um safanão da mão, e dá um ponta-pé no estômago da mulher (aterrorizada e aos gritos), George Bush demonstra um desrespeito bradante pela comunidade internacional e pela causa Palestiniana, uma ignorância total dos eventos mundiais e uma incapacidade chocante de compreender assuntos simples.

O quê é que o Bush fez?

A Mapa de Estrada de Ariel Sharon, que este elaborou há três décadas, é um Estado de Israel que exclui a Gaza (de onde ele agora pretende retirar) mas que inclui largas faixas da Cisjordânia e não faz concessões nenhumas aos Palestinianos que viram suas propriedades expropriadas (roubadas) na altura da criação do Estado de Israel. Dado que a Cisjordânia é território que pertence aos Palestinianos, o que Sharon chama um plano de retirar, baseado no retiro dos colonatos judeus em Gaza – mas não no resto dos territórios ocupados – nunca se pode chamar um plano de paz, mas antes um compromisso sinistro parcial, impossível de aceitar por qualquer palestiniano, árabe ou muçulmano com coração e alma.

Virando uma analogia contra o Bush, se o México invadisse os estados no sul da EUA, e os ocupasse por 50 anos, se construísse colonatos, se atirasse contra os olhos das crianças com balas de borracha, se massacrasse comunidades inteiras de civis só porque estes reclamassem os seus devidos direitos, suas terras ancestrais, suas casas…e depois se um líder qualquer estrangeiro com armas de destruição massiva aparecesse a dizer que Washington tinha de aceitar parte da Califórnia e depois, talvez, uma faixa do Texas?

Que qualquer acordo pudesse ser feito em Washington entre Bush e Sharon sem sequer consultar Arafat, o Presidente da Autoridade palestiniana democraticamente eleito, diz tudo sobre o mundo da política internacional de Bush, onde soluções do estilo Hollywood são aplicadas a fantasias de banda desenhada, onde o tipo bom que usa o chapéu branco é de facto branco e ocidental e rico e onde o tipo mau de chapéu preto tem pele escura (quanto mais escura, pior a pessoa) e é pobre.

Esse mundo pertence aos anais da história, à Idade Média de feudalismo medieval, de lordes e servos, não pertence a um mundo moderno que deseja desenvolver-se em conjunto, numa comunidade de nações-irmãos, baseado nos princípios de diplomacia, democracia e igualdade, em diálogo e discussão, e a aceitação que nem tudo é preto e branco, mas tem vários tons de cinzento.

Neste mundo, George Bush não existe, nem pode existir. Ele e o Sharon acabaram de cometer outro erro monumental, criaram um monstro de má vontade numa montanha de arrogância.

Como todos os demagogos, hão de falhar e cair. A questão é quando.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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