Como todos bons (?) alemães, os policiais da Gestapo, a polícia nazista, deixavam registrados todos seus passos. Numa pasta, com oito dossiês e cerca de duas mil folhas, eles contam toda a história da prisão Olga Benario Prestes, desde a sua saída do Brasil em 1936, os anos que passou no campo de concentração de Ravensbruck e sua morte numa câmara de gás em Bernburg, em abril de 1942.
O que existe de fundamental nesse material, textos e fotos, está disponível a partir de agora, analisado pela historiadora Anita Leocádia Prestes, a filha de Olga, nascida na prisão de Ravensbruck no dia 27 de novembro de1936, num pequeno, mas imperdível livro, editado pela Boitempo no último mês de abril.
Fernando Morais, que escreveu uma biografia muito lida e citada de Olga Benário, diz sobre o livro de Anita: "Mais do que uma excelente obra de referência, Olga Benario Prestes: uma comunista nos arquivos da Gestapo é a pungente, dolorosa história de uma revolucionária exemplar".
A leitura dos documentos chama a atenção do leitor, como ressalta Fernando Morais, a pétrea decisão de Olga de não transmitir a seus algozes nem sequer uma solitária informação a respeito de seu passado e de suas atividades políticas na União Soviética e no Brasil, mesmo sendo submetida a maus tratos e supressão de alimentos.
Num documento (pasta 163) um oficial da Gestapo afirma: "Os 2 anos e 9 meses de prisão preventiva certamente não exerceram nenhuma influência devida sobre ela" ..."Não vale a pena gastar mais tempo com ela. Ela disse apenas o que já havia declarado em seu interrogatório de 27 de agosto de 1937".
"Se outros se tornaram traidores, eu jamais o serei", diz Olga numa carta à Leocádia Prestes, a avó de Anita, mãe de Luís Carlos Prestes, que faz parte dos arquivos.
O material catalogado pela Gestapo começou a ficar disponível para os historiadores a partir de 2015, depois de um acordo entre o Instituto Histórico Alemão em Moscou e a Fundação Max Weber da Alemanha.
Os Arquivos da Gestapo foram apreendidos pelo exército soviético após a derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra, em 1945, e levados para Moscou. Na década de 1960, o conjunto foi transferido para o Arquivo Central do Ministério da Defesa da antiga União Soviética e só foi tornado público e 2015, 70 anos após o fim do conflito. A perspectiva é que toda documentação - 28 mil dossiês e cerca de 2,5 milhões de folhas, - seja digitalizada até 2018.
Anita Leocádia dedicou seu livro - in memoriam - a "Olga Benario Prestes, minha mãe e a todos os que tombaram na luta contra o fascismo"
Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS
Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter