Presidente Bush e Primeiro-ministro Blair, os principais protagonistas atrás do acto de chacina no Iraque, que tanto chocou a opinião pública mundial, estão esforçados a lançar inquéritos independentes sobre os serviços de inteligência, prova que fizeram um grave erro em apresentar a suposição como factos que formou um causus belli, um grave acto de irresponsabilidade em não ouvir a ONU e um acto de omissão em não prestar atenção à opinião pública corrente. No caso de engano, não há qualquer desculpa.
Esta guerra ilegal deixou dez milhares de civis mortos, dezasseis mil mutilados e inúmeros outros sem casa, sem emprego e sem esperança. As infra-estruturas civis foram escolhidos deliberadamente como alvos militares e foram atacados com tanta ferocidade que até hoje, muitos serviços básicos e essenciais não funcionam, o que cria cada vez mais vítimas humanas.
Presidente Bush e Primeiro-ministro Blair têm muito para responder. Desrespeitaram flagrantemente a lei internacional, viraram as costas à ONO, organização que eram obrigados a consultar, desconsideraram por completo a Carta das Nações Unidas e as suas forças armadas quebraram os Termos da Convenção de Genebra, não uma vez, mas sistematicamente.
Agora, parecem dois homens que começam a perder noites de sono. Se tivessem prestado atenção à opinião pública mundial, se tivessem ouvido Moscovo, Paris, Berlim, Beijing, Brasilia e outros centros de civilização, agora estariam sentados no meio da comunidade internacional, fazendo parte íntegra desta, enfrentando a ameaça que é o terrorismo internacional como uma família unida.
Em vez disso, Washington e Londres teimaram em se trancar fora de portas na sua cega arrogância, na sua recusa de ouvir seus parceiros e amigos e utilizando o método de diplomacia tipo pau-e-cenoura, todos vivamente presentes nos seus argumentos sobre a necessidade de atacar o Iraque.
A primeira fase do argumento foi que o Iraque possuia Armas de Destruição Maciça (ADM), que sabiam onde estavam estas armas, que tinham provas fotográficas, que um pouco convincente Colin Powell apresentou à ONU. Estas “provas”, descobre-se agora, foram uma cadeia de mentiras e suposição e documentos copiados e colados da Internet, incluindo os erros ortográficos. Disseram que se as equipas da UNMOVIC não encontravam as ADM, não importava, porque Washington sabia onde estavam. Então, onde estão?
Quando a invasão iniciou e continuou e acabou, e ainda não encontraram as ADM, mudaram o argumento, dizendo que os iraquianos estavam a transportar os sistemas complexas de munições pelo deserto fora em veículos (Powell outra vez). Depois disseram que as ADM estavam escondidas. Entretando, o perito britânico sobre ADM, Dr. David Kelly, se suicidou e o inspector principal da CIA, David Kay, apresentou seu relatório (no final de semana passada) declarando que as ADM não existiam.
Agora Presidente Bush e Primeiro-ministro Blair lançam inquéritos independentes sobre como os relatórios dos serviços de inteligência foram elaborados. Que conveniente. Agora podem passar a responsabilidade pela guerra – toda a responsidade – para estes serviços, limitando a investigação (porque são eles que escrevem o assunto a investigar) ao foro meramente académico e teórico.
No Relatório Hutton, por exemplo, o cerne da questão não era se o Reino Unido deveria ter entrado em guerra, nem era acerca das ADM. O relatório investigou unicamente as circumstâncias a volta da morte de David Kelly, se o governo ou o Primeiro-ministro tinham qualquer culpabilidade neste evento.
Se o foco das investigações atuais for suficientemente vago, poderiam direccioná-las para uma área, por exemplo, como se seria possivel ou não, na teoria, um grupo de terroristas (ou um estado) obterem ADM e se seria justificado um ataque preventivo nestas circunstâncias. O argumento então mudaria outra vez. Depois de terem dito que as ADM existiam e que sabiam onde estavam, depois que sabiam que existiam mas que estavam escondidas, agora será que nunca houve ADM de facto, mas que Saddam Hussein ter-las-ia desenvolvido porque tinha os programas. Com cada passo do jogo, alteram a posição da baliza. Tentar justificar uma geurra ilegal por causa daquilo que poderia ter acontecido no futuro é igual ao ato de fazer parte dum linchamento, regando um transeúnte com gasolina só porque alguem decide apontar o dedo e gritar “é bruxo!”. Presidente Bush e Primeiro-ministro Blair, supostamente, não deveriam estar agindo como ignorantes dementes em alguma sociedade medieval, mas infelizmente, se comportam pior ainda. Por quê é que deveriam escapar ilesos depois de terem cometido assassínio em série e crimes de guerra, numa escala jamais visto na história recente? Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru
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