Defender o indefensavel

No seu terceiro discurso sobre o Estado da União, George W. Bush pareceu mais como o brigão da escola, apanhado a mal tratar os outros alunos e tentando defender suas acções perante um diretor irado, do que um presidente que caminha para a sua eleição, resumindo os pontos positivos do seu primeiro termo e apresentando políticas novas e excitantes para o segundo.

Ao contrário, o presidente dos Estados Unidos da América pouco mais fez que uma tentativa fraca de defender o indefensavel num dos discursos sobre o Estado da União mais inconvincentes e menos imaginativos em mais do que 200 anos da sua história, desde que em 1913 Woodrow Wilson recomeçou o costume iniciado por George Washington em 1790.

As declarações de George Bush sobre a política externa dos Estados Unidos da América durante seu primeiro termo na presidência são risíveis por duas razões: primeiro por causa da bem conhecida ignorância do próprio presidente em assuntos relativos ao exterior e segundo, por causa do rotundo falhanço destas políticas, tão menosprezadas entre a comunidade internacional. Tentar justificar o que George Bush entende como uma luta entre os EUA e um inimigo invisivel, mencionando a guerra contra o Iraque, presidente Bush prova mais uma vez quão ingénuo, quão ignorante, quão facil de manipular ele é, perigosamente facil para um homem na sua posição.

O próprio George Bush declarou em mais do que uma ocasião que nunca houve qualquer ligação entre Saddam Hussein e o ataque no 11 de Setembro de 2001 e deve lembrar-se que ele foi o primeiro líder árabe a telefonar com as suas condolências – o ódio mútuo sentido entre ele e o Osama bin Laden é bem conhecido.

No seu segundo discurso sobre o Estado da União, em Janeiro de 2003, George Bush disse que Saddam Hussein tinha uma quantia de antrax e botulinio suficiente para mater milhões de pessoas, e reiterou a existência de armas químicas e biológicas de destruição maciça. Pouco depois deste discorso, a administração de Bush declarou inúmeras vezes que sabia onde estavam escondidas as armas de destruição maciça (ADM) no Iraque.

Dez meses depois, após uma guerra ilegal que quebrou cada fibra de normas diplomáticas, a lei internacional, a Carta da ONU e a Convenção de Genebra, em que dezenas de milhares de pessoas ou foram mortas, ou feridas, ou mutiladas, ou deixadas sem abrigo e sem emprego, numa guerra em que infra-estruturas civis foram alvo de ataques tão selváticas que nem agora estão funcionando, as equipas de pesquisa da ADM deixaram o Iraque, sem nada nas mãos. Onde, então, está o causus belli sobre o qual George Bush lançou esta guerra e onde, então, está qualquer justificação possivel para este ato de chacina sem precedentes na história recente? Será este o legado de que o presidente Bush deveria ter tanto orgulho?

Longe de deixar os EUA um sítio mais seguro, as políticas seguidas por Bush no estrangeiro divorciaram Washington da comunidade internacional, o resultado sendo que os Estados Unidos são considerados como um estado paria pela opinião pública mundial. E é bem evidente: George Bush nem se atreve a sair dum avião na grande maioria dos países e é o único Chefe de Estado que visita o número 10, Downing Street, Londres, a ter de fugir pela porta de trás por razões de segurança, isso na casa do seu aliado mais próximo.

Na política externa, George Bush foi longe demais e tem de ser responsabilizado pelos crimes de guerra que foram perpetrados por seu governo. Quanto à política doméstica, George W. Bush deixa cada contribuinte norte-americano com uma factura alta a pagar, depois de semear conflito e guerra pelo mundo fora, factura esta que tende a aumentar em flecha, se não conseguir trazer a estabilidade às áreas que desestabilizou.

Tendo presente esta realidade, cabe a cada cidadão dos Estados Unidos da América questionar-se se está melhor ou pior sob o governo deste regime. Isolado, sozinho, menosprezado, as suas costas viradas para a comunidade internacional de direito, Washington parece cada vez mais o brigão da escola fechado fora do portão, e Geurge Bush, o pai inadequado e disfuncional que tenta justificar o injustificavel, defender o indefensavel, o presidente mais inconvincente e menos imaginativo que os Estados Unidos da América alguma vez tiveram o azar de ter, na sua longa e rica história.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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