AMÉRICA LATINA

O presidente mexicano, Vicente Fox, disse que não é "lacaio de Bush" e explicitou divergências com o chefe da Casa Branca, George W. Bush, depois de ter se reconciliado com este durante a Cúpula das Américas em Monterrey, norte do México. Fox não aderiu ao apelo de Bush por uma "mudança democrática" que derrube o governo de Cuba.

"Estas são opiniões externadas pelo presidente Bush, que todos escutamos, mas nós mantemos com Cuba uma relação sólida, uma relação permanente, histórica, que tem sido e continuará sendo parte de nossa política externa", explicitou.

A questão venezuelana

Na segunda-feira desta semana, Fox tivera um encontro bilateral com Bush que foi noticiada como uma reconciliação, após uma fase marcada pela oposição do México à invasão norte-americana do Iraque. Na coletiva de imprensa ao fim da reunião, o presidente americano anunciou que os dois haviam concordado em coordenar ações visando a realização de um plebiscito revocatório que a oposição venezuelana deseja fazer para afastar do poder o presidente Hugo Chávez. Desde então, vem sendo fortemente cobrado pela opinião pública de seu país, onde a simpatia pela política de Washington não é maior que no resto da América Latina.

Em entrevista radiofônica, perguntado se passara a ser o "amigo estratégico" dos EUA na América Latina, ele respondeu: "Com os Estados Unidos há não só amizade, mas um trabalho sério, responsável, para assegurar as democracias, a vigência das democracias na América Latina, para impulsionar processos de crescimento e geração de empregos, para partilhar responsabilidades no desenvolvimento social.

Claro! Não falta, então, quem veja as coisas pelo lado equivocado, que lhe convém. Dizem: 'Fox já se sujeitou a Bush', 'Fox já é lacaio de Bush', 'Já se entregou'. Mas a verdade é que fazemos um trabalho sério, profissional.

Declarações dúbias

Mesmo em relação à Venezuela, o presidente mexicano, que permaneceu em silêncio quando Bush deu sua versão, apresentou outra visão sobre a posição mexicana. Perguntado sobre seu endosso o "intervencionismo" de Bush, disse que "o México tem tido, tem e terá uma política de pleno respeito à soberania dos povos, e isto também teremos no caso da Venezuela. Para nós este assunto é da sociedade e dos cidadãos da Venezuela, de seu governo, de suas leis, de sua Constituição, e eles terão que tomar sua decisão, em matéria de referendo ou de qualquer outro tema", afirmou.

Em outro trecho ele foi mais dúbio: "Não tenho que estar com ele (Bush) para apoiar esse referendo; nós apoiamos todo processo democráticos, toda decisão que qualquer povo ou nação tome soberanamente, e na Venezuela a cidadania pediu esse referendo, fez e cumpriu com os requisitos democráticos, eleitorais; e, com base nisto, o legal, o constitucional, será que se dê este referendo".

A afirmação ignora que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela ainda não se pronunciou sobre as assinaturas do pedido de referendo. O governo Chávez assevera que estas são em grande parte fraudadas e não atingiram os 2,4 milhões necessários para forçar a consulta às urnas, enquanto a oposição conservadora afirma o contrário. A decisão do CNE deve se dar dentro de 30 dias, e portanto a afirmação de Fox avançou o sinal.

Em outro pronunciamento, Fox criticou Chávez, a quem acusou de ir "constantemente contra a globalização, contra os acordos, contra o neoliberalismo, essas versões já há muito ultrapassadas e que não foram solução para os problemas dos países. Há um ponto de vista diferente, da parte dele, em todos os assuntos continentais, econômicos, globais", disparou. Contudo, acrescentou em seguida: "Mas, bem, respeita-se esta opinião".

Com estas afirmações, ainda que desencontradas, pairam dúvidas quanto à disposição de Fox para desempenhar o papel a ele atribuído por Bush. Este declarou à imprensa, durante a Cúpula das Américas, que "sem dúvidas, o México aspira a ser — ou já é — uma ponte de conexão entre a América Latina e a América do Norte, os Estados Unidos em particular".

Diário Vermelho

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