Recentemente, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush implementou um novo aparato de segurança, supostamente para prevenir atentados terroristas: todos os estrangeiros que chegam a este país devem ser fotografados e tiradas suas impressões digitais, exceto os nascidos em 25 países (a maior parte deles da União Européia, além de Japão, Canadá, Austrália e Brunei) que não necessitam de visto de entrada nos EUA.
Não é preciso dizer que, além de provocar inevitáveis demoras e desconfortos aos passageiros de quase todos os países do mundo, é também uma humilhação, pois todos são tratados como criminosos em potencial.
A já mítica data de 11 de setembro de 2001 se transformou numa excelente desculpa para George W. Bush cometer todo tipo de atos antidemocráticos, unilaterais, arrogantes, cruéis e imperialistas, tudo supostamente em nome do combate ao terrorismo e da segurança: mantém seus cidadãos sob medo constante, sempre divulgando relatórios de inteligência que indicam a iminência de ataques terroristas (que nunca se concretizam); montou uma máquina de propaganda para tentar convencer o mundo de que países com ideologias e interesses tão díspares e muitas vezes conflituosos, como Irã, Iraque, Síria, Coréia do Norte, são aliados, apóiam Osama Bin Laden e a Al Qaeda, e formam um Eixo do Mal; restringiu o direito à privacidade; prende cidadãos estrangeiros sem acusação formal, provas ou mandato judicial, e os mantém encerrados e incomunicáveis pelo tempo desejado; coloca homens armados em seus vôos, e exige que companhias aéreas de outros países façam o mesmo; atacou e invadiu um país soberano que não possuía armas de destruição em massa nem apoiava o terrorismo; ignorou o clamor mundial contra essa guerra, e passou por cima das determinações das Nações Unidas e de outras potências; e agora trata os cidadãos de quase todos os países do mundo como terroristas.
Esta semana, o Brasil passou a fazer o mesmo aos cidadãos dos Estados Unidos, com base na lei da reciprocidade internacional. Nada mais justo: se nos tratam como escória, façamos o mesmo com eles. A embaixada norte-americana e vários cidadãos deste país reclamam, dizem que deixarão de viajar para o Brasil e até mesmo boicotarão produtos brasileiros (os poucos que há, pois o protecionismo de Bush se encarrega eficientemente de manter os produtos brasileiros longe do mercado estadounidense). Porém, o que é incompreensível é que, apesar de os EUA tratarem tão mal a maior parte dos habitantes do mundo, tanta gente ainda queira viajar para esse país, e não se importe em submeter-se a tal humilhação. É realmente estranha a admiração incondicional por um país que recentemente tem feito tanto mal ao planeta. Além do mais, há tantos países muito mais interessantes do que os EUA a serem visitados, e onde os estrangeiros são decentemente tratados!
Também é estranha a reação de boa parte da imprensa e de cidadãos brasileiros, contrários à medida: dizem que é discriminatória contra cidadãos dos EUA. Bem, mas por que então pode os EUA fazer o mesmo conosco? Por causa do 11 de setembro, por razões de segurança, dizem. Bem, e quantos terroristas brasileiros estavam envolvidos nos atentados? A verdade é que tal medida nada tem a ver com a ameaça terrorista: é apenas mais uma demonstração de força do governo Bush e de sua disposição de mostrar que seu país manda e faz o que bem entende com o resto do mundo.
Agora que Bush tem grandes chances de se reeleger, depois da captura de Saddam Hussein, outros países deveriam tomar a mesma medida: passar a fichar, fotografar e tirar as digitais de todos os cidadãos estadounidenses, em retaliação à humilhação que nos é imposta. A imprensa brasileira, ao invés de ser tão incondicionalmente pró-EUA, deveria apoiar tal medida. E os brasileiros que querem viajar ao exterior deveriam começar a pensar em outros destinos mais interessantes e mais hospitaleiros.
Carlo MOIANA PRAVDA.Ru BRASIL
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