Annan adverte contra possível "guerra de civilizações"

Annan fez esta advertência durante um discurso pronunciado na Universidade de Tubinga a convite da fundação Weltehtos (Etos Universal), criada pelo teólogo alemão Hans Küng.

Por mais terriveis que tenham sido atentados como os de 11 de setembro de 2001 é necessário evitar que conceitos como Islã e mundo ocidental possam ser interpretados como antagônicos, disse Annan. O secretário-geral da ONU condenou todo tipo de terrorismo, mas ao mesmo tempo disse que tinha que analisar os motivos que levam pessoas a cometer "atos desesperados".

Os muçulmanos não devem ser discriminados ou perseguidos pelo mero fato de se identificarem com palestinos, iraquianos ou chechenos, e nenhuma religião ou ética deve ser julgada pelo comportamento de alguns de seus membros, acrescentou. Annan lamentou que apesar de milhões de muçulmanos demonstrarem que os valores islâmicos e ocidentais sejam perfeitamente compatíveis, muitos são discriminados e insultados, e tudo isso apesar de nenhuma sociedade poder capitalizar a tolerância, o pacifismo, a igualdade e o respeito dos direitos humanos, entre outros valores.

Também nem as sociedades que definem a si mesmas como modernas são automaticamente modernas, pois "inclusive liberais ou democratas convencidos podem ser às vezes muito intolerantes em comparação a outras opiniões", declarou. Em alusão aos Estados Unidos, mas sem mencioná-los explicitamente, Annan disse que não é porque uma sociedade acredita que seu sistema político é o correto "deve crer que tem o direito absoluto de pretender aplicar esse sistema aos outros".

"Justamente os que pregam muito alguns valores como liberdade, estado de direito e igualdade ante a lei têm uma responsabilidade particular de aplicá-los em sua própria vida e sociedade, tanto no que diz respeito a seus inimigos como a seus amigos", afirmou. As palavras de Annan, as mais duras desde que os Estados Unidos começaram a colocar em prática sua teoria de "guerras preventivas", coincidem com a opinião de muitos analistas que acusam o governo Bush e a direita norte-americana de impor ao mundo a doutrina fanática de que o os Estados Unidos são um povo "eleito" por Deus para exercer a hegemonia sobre o mundo e levar a todos os cantos do planeta sua visão capitalista de sociedade e seus conceitos de suposta "liberdade".

O secretário-geral criticou o fato da globalização ter aumentado a brecha entre pobres e ricos, entre poderosos e desvalidos, e não só entre os países, mas dentro das próprias sociedades. Annan lamentou que o processo de globalização esteja acontecendo passando por alto os valores universais que a ONU propôs há décadas, como o direito a uma vida saudável, que inclua alimentos, roupa, casa e assistência sanitária.

O secretário-geral fez também menção a um problema de imediata atualidade, como é o Iraque, ao pedir um maior protagonismo da ONU no processo de estabilização. A força de ocupação americana e seus aliados devem criar uma situação que possibilite que as Nações Unidas possam voltar a envolver-se mais no Iraque, pois "queremos ajudar o povo iraquiano em tudo o que pudermos", declarou Annan. O secretário-geral da ONU, que ontem teve conversas políticas em Berlim, deve regressar amanhã a Nova York.

Fonte: Redação Terra

Diário Vermelho

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