Por que o trabalho nos EUA tem a maior produtividade em 20 anos

A produtividade não-agrícola, ou produção por hora trabalhada, cresceu a uma taxa anualizada de 9,4% no terceiro trimestre, de acordo com dados revisados — o maior salto desde o segundo trimestre de 1983.

A leitura preliminar apontava alta de 8,1%. No segundo trimestre, a produtividade avançou 7%. O forte aumento na produtividade ajudou as empresas a manterem os custos de produção baixos, um fator positivo para os lucros. Os chamados custos unitários de trabalho caíram em uma taxa revisada de 5,8%, a queda mais acentuada desde o segundo trimestre de 1983. A revisão para cima na produtividade já era esperada após o governo ter revisado na semana passada a taxa anualizada de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre para 8,2%, contra o avanço de 7,2% divulgado anteriormente.

Conceito marxista

Dizia-se nos círculos econômicos e políticos norte-americanos que um dos declínios mais acentuado do nível de emprego desde a Grande Depressão de 1929 finalmente terminaria no terceiro trimestre, mas apenas 103 mil novos postos de trabalho foram criados no período. O relatório sobre o mercado de trabalho em novembro será divulgado amanhã pelo Departamento de Trabalho, mas já há a informação de que o crescimento de 10,3% da produção puxou em 0,8% o número de horas trabalhadas. Esse forte ritmo de crescimento — a maior expansão trimestral no PIB em quase 20 anos —, portanto, reflete a disposição das empresas de explorarem mais a mão-de-obra existente.

São números e fatos que suscitam reflexões. Aumento da produtividade quer dizer, sucintamente, mais valor agregado à produção por cada hora trabalhada. Como o aumento da produtividade é apropriado não pelo trabalhador mas pelo proprietário privado da produção, segundo o velho e preciso conceito marxista, a conclusão a que se pode chegar é que os trabalhadores norte-americanos passam por uma brutal exploração assalariada. Ou seja: trabalha-se muito mais pelo mesmo salário. Na economia capitalista contemporânea — da qual os Estados Unidos são o carro líder —, há dois fatores que explicam esse vertiginoso aumento da produtividade.

Bolha especulativa

Primeiro, há o aumento da jornada de trabalho e redução salarial — basicamente por conta dos processos de terceirização. O segundo é mais complexo e diz respeito às inovações tecnológicas e gerenciais adotadas em larga escala, particularmente nos anos 90. Nos Estados Unidos, cunhou-se o termo "nova economia" para explicar o "fenômeno" da produtividade que, segundo o presidente do Federal Reserve — o Banco Central norte-americano —, Alan Greespan, seria resultado da sábia combinação de desenvolvimento tecnológico e mercado de trabalho "flexível". O assunto chegou ao Fórum Econômico Mundial, na cidade suíça de Davos, em 2000, e foi debatido numa reunião na Casa Branca com "especialistas".

Havia, na verdade, uma bolha especulativa por trás daquela euforia, que estourou e mandou para os ares o termo "nova economia". Hoje praticamente não se fala mais nisso. Mas a euforia norte-americana com a produtividade continua sendo amplificada. Vista pelo ângulo dos interesses dos trabalhadores, não há nenhum motivo para euforia. Já em 1997, o economista da Organização Internacional do Trabalho (OIT) Lawrence Michel disse: "A maior parte dos ganhos de produtividade vem do aumento do número de horas trabalhadas. Quando o mesmo número de pessoas trabalha mais horas pelo mesmo salário, é natural que a produtividade aumente — mas de uma maneira perversa, que não deve ser comemorada."

Discussão antiga

Essa discussão é antiga. No artigo "Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico", Friedrich Engels escreveu: "É a força da anarquia social da produção que converte a capacidade infinita de aperfeiçoamento das máquinas num preceito imperativo, que obriga todo capitalista industrial a melhorar continuamente a sua maquinaria, sob pena de perecer. Mas melhorar a maquinaria equivale a tornar supérflua uma massa de trabalho humano (...). A expansão dos mercados não pode desenvolver-se ao mesmo ritmo que a produção. A colisão torna-se inevitável." Em o O Capital, Karl Marx escreveu: "Sob sua forma máquina (...), o meio de trabalho se torna imediatamente o concorrente do trabalhador. A máquina cria uma população supérflua, isto é, útil para as necessidades momentâneas da exploração capitalista."

A situação do mundo do trabalho hoje, enfim, reflete a complexidade das mudanças havidas nos últimos tempos em termos econômicos e políticos. Há uma monumental propaganda ideológica contra os ideais de emancipação social dos trabalhadores, mas os fatos deixam bem definido o sentido falacioso dos "êxitos" da economia mundial — particularmente nos Estados Unidos — nos dias que correm. A velha máxima de acumulação de capital às custas do empobrecimento da grande massa da população mundial está sendo aplicada em seu grau máximo.

Mais do nunca, na pauta de reivindicações dos trabalhadores em todo o mundo é justo constar dois itens básicos: aumento real de salários e redução da jornada de trabalho.

Por Osvaldo Bertolino “Diário Vermelho”

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