Rumsfeld: Uma Receita Desastrosa

Com o início do processo do registo eleitoral em Afeganistão, Donald Rumsfeld fez hoje uma declaração que indica a sua incapacidade de perceber os assuntos complexos no campo, realçando mais uma vez a noção que o regime em Washington não entende que o mundo se compõe por uma variedade de povos e culturas que não necessáriamente querem viver a vida à americana.

Falando em Kabul, transformado numa fortaleza, Donald Rumsfeld declarou à imprensa que “Aqueles que foram derrotados gostariam de voltar...mas não terão essa oportunidade”. Referindo aos Taleban e seu regime, Donald Rumsfeld com esta abordagem simplista prova que não percebe a complexidade da situação em Afeganistão.

Para começar, os Talebã não desapareceram e em vez da sua influência diminuir, está a aumentar o número de ataques, pregando as forças de segurança da OTAN dentro de Kabul, onde, no mesmo dia em que Rumsfeld falou, houve um ataque contra um comboio de veículos e uma explosão perto da embaixada dos EUA no centro da cidade. A actividade dos Talebã no sul faz com que os trabalhadores estrangeiros não possam entrar em metade do país.

Em segundo lugar, o regime dos Talebã baseou seus princípios não só numa leitura extremista da lei islâmica mas também nos costumes dos Pashtun. Este grupo étnico está em geral dissatisfeito com a administração de Karzai, considerando que todo o poder foi-lhes retirado e colocado nas mãos dos Tajikh, o outro principal grupo étnico no Afeganistão. Embora Hamid Karzai seja uma figura política respeitada, muitos dos seus ministros são considerados pelos Pashtun como barões de droga e senhores de guerra nortenhos.

“Eles não terão essa oportunidade” pressupõe que é Washington, e não o povo afegão, que é responsável pelos assuntos internos deste país. Se os Pashtun elegerem seus representantes democráticamente e a mistura Pashtun/Talebã receber uma partilha importante do voto, quem é Donald Rumsfeld para declarar que não irão ter uma melhor partilha do poder?

Donald Rumsfeld também tem sua responsabilidade no desastre chamado Afeganistão. Era ele membro dos governos que apoiavam ativamente o movimento dos Mujaheddin na sua luta contra o governo democrático e progressivo de Dr. Najibullah em Kabul, governo esse que chamou as Forças Armadas Soviéticas para o proteger. Foram os governos dos quais Rumsfeld era membro que semearam o caos que iria ver o Afeganistão entrar em colapso, os Mujaheddin a transformar-se nos Talebã e a morte de 1.5 milhões de pessoas, noutro exemplo claro da política externa desastrosa de Washington.

Se o processo do registo eleitoral é um barómetro da saúde do país, esta não parece estar muito estavel. Primeiro porque a autoridade do governo fica cada vez mais fraca, quanto mais longe se viajar de Kabul. Segundo, alguns peritos internacionais consideram que o processo irá demorar mais do que seis meses a completar, devido à inacessibilidade de grandes áreas do país, causado pela actividade dos Talebã.

O diretor da campanha eleitoral, professor Reginald Austin, declarou esta semana à imprensa que se a situação atual continuar, não pode haver uma eleição justa, que é uma opinião partilhada por outros oficiais internacionais no país, que afirmam que se o sul, maioritáriamente Pashtun, não receber uma representação igualitária do voto, a eleição em Junho de 2004 não terá a legitimidade que precisa para estabilizar o país que Donald Rumsfeld e seus governos ajudaram a desestabilizar.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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