Dar uma hipótese à África

SIDA, pobreza, subdesenvolvimento, fome e programas de educação inadequadas são termos imediatamente associados com África. Porém, nunca se deu a este continente a hipótese de competir em termos iguais com o resto do mundo. A falta de apoio e a ausência de compreensão pelo mundo mais desenvolvido continuam a agir negativamente sobre África e os africanos.

Não é difícil verter bilhões de dólares dentro da África, enviar inúmeras equipes das organizações de apoio e depois culpar os africanos pelo estado do continente. Contudo, se os programas não são coordenados cuidadosamente e dirigidos às necessidades e conceitos locais e não ocidentais, são destinados a falhar.

O fato que só é regada 7% da terra arável na África, que há comunidades com taxas de infecção por VIH/SIDA até 50%, 46 milhões de crianças em idade escolar que nem sequer puseram um pé na escola e muitas áreas sofrendo de pobreza endémica, diz tudo acerca dos programas de cooperação geridos pelos países mais desenvolvidos.

Jacques Diouf, Diretor-Geral da Organização de Comida e Agricultura da ONU (FAO, em inglês) declarou à ONU ontem que a subnutrição é mais prevalente na África devido a razões políticas e não técnicas. Em certas zonas da África, abaixo do Saara, uma em cada três pessoas sofre de fome crónica.

Muito mais dinheiro está a ser gasto em campanhas militares do que em programas para alimentar essas pessoas ou melhor, criar sistemas através dos quais elas se alimentem a elas próprias. Contudo, enquanto os agricultores africanos têm de competir com os seus homólogos em países mais ricos, que beneficiam não só de subsídios substanciais para baixar o preço dos seus produtos mas também de taxas impostas sobre as importações para impedir os países menos desenvolvidos de competirem, não há muitas esperanças para que a situação mude. Os agricultores africanos são condenados a uma actividade de subsistência que torna uma grande percentagem da população vulnerável ao comportamento cíclico dos elementos.

Jacques Diouf acrescentou que “O potencial para crescimento real e desenvolvimento na África depende da maneira em que se confronta assuntos chaves – fome e pobreza, produção agrícola e VIH/SIDA”. Os 15 bilhões de USD doados pelo governo dos EUA para combater esta doença é sem dúvida muito bem-vindo e é um importante passo, no entanto, até que se dê à União Africana o apoio que precisa para implementar as suas políticas com sucesso, programas de apoio como este irão gerar bilhões de dólares de capitais gastos mas os resultados nunca irão chegar ao nível das expectativas.

Nos países industrializados, há somente 2.5 milhões de crianças fora do sistema escolar, enquanto na África há 46,000,000, cifra que aumenta todos os anos desde 1990. Esta situação tem efeitos catastróficos sobre o futuro desenvolvimento das comunidades e deixa as crianças abertas a exploração. As políticas de desenvolvimento baseadas nos padrões ocidentais e utilizando sistemas de controlo ocidentais não estão a funcionar.

Finalmente, a arquitectura do sistema financeiro mundial sempre excluiu o continente africano, continente esse que foi sempre vítima duma luta desigual. Explorado pelos seus recursos durante séculos de colonialismo, a África depois viu as suas comunidades separadas pelo acto de traçar linhas estreitas em mapas por políticos em escritórios confortáveis há milhares de quilómetros de distância, para depois as ver destruídas quando interesses forasteiros instigaram problemas e então armaram as partes, para que combatessem na defesa dos novos interesses.

O que é preciso para a África é que a Nova Parceria para o Desenvolvimento Africano (NEPAD), seja considerada com respeito, juntamente com programas de apoio não intrusivos e verdadeiramente altruístas, baseados em normas locais e não impostos de cima para baixo. É preciso fundamentalmente que a OMC pratique o que prega, permitindo aos produtores africanos competirem em base de igualdade e finalmente, há que haver uma política profunda de redução da dívida, que faz jus aos recursos que foram tirados e nunca pagos durante tantos séculos.

Senão, quando um africano tem de pagar dez vezes mais do que um Europeu ou um norte-americano para uma ligação de Internet, uma linha telefónica ou bilhete de avião, que hipótese tem ele para competir? Timothy BANCROFT.HINCHEY PRAVDA.Ru

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