Brent East : Cartão amarelo a Blair

Brent East, um circuito eleitoral até então seguro para o governo Labour de Tony Blair, caiu na quinta-feira nas mãos dos Liberais Democratas numa tendência de intenção de mudança de voto de 29% de Labour a favor do partido vencedor nesta eleição circular antecipada, devido à morte do deputado de Labour. Falta de confiança no Primeiro Ministro devido às razões apresentadas para justificar a guerra no Iraque são consideradas por analistas como a razão principal pela derrocada.

A maioria de Labour de 13. 047 votos nas últimas eleições legislativas (2001) se transformou numa maioria dos Liberais democratas de 1.100. A Sarah Teather, 29 anos, fica agora a mais jovem deputada na Câmara dos Comuns.

Esta vitória galvanizou o partido Liberal Democrata a celebrar o que prevê ser uma época dourada no futuro. Para o partido Conservador (ou Tory), esta eleição viu uma queda de dois pontos percentuais, devido em grande parte à ineficácia nos poderes de comunicação da candidata, Uma Fernandes, de origem indiana, que tinha sido utilizada pelo partido para capturar o voto das minorias étnicas, mas que aprendeu que a cor da pele não chega.

Para o partido Labour, do governo, foi um desastre. Uma mudança de intenção de voto de 29% para os Liberais Democratas neste círculo poderia traduzir-se numa mudança ainda maior ao partido Conservador noutros círculos (visto que Brent East nunca seria um objectivo sério para este partido). Foi um cartão amarelo mostrado pelo eleitorado a Tony Blair, entendido pela maioria das pessoas no Reino Unido como o homem que na sua política externa levou o país a participar numa guerra ilegal, baseada em documentos forjados e mentiras e não os pretextos apresentados à nação – o que seria uma análise justa.

Foi um cartão amarelo também porque há muitas pessoas no Reino Unido que consideram que Tony Blair, na sua política interna, tudo prometeu mas nada entregou, embora não seja este um julgamento justo. A verdade é que o eleitorado britânico está muito mais preocupado nos assuntos internos, que o afecta directamente, do que uma guerra a milhares de quilómetros baseada em razões cada vez mais duvidosas.

Porém, porquê um cartão amarelo e não vermelho? Não foi vermelho porque foi uma eleição antecipada num circuito eleitoral, eleição que é tradicionalmente, e especialmente no meio do prazo de governo, punitivo ao governo mas também porque os Liberais Democratas são peritos em ganhar este tipo de eleição. Tendo 54 deputados na Câmara dos Comuns, num total de 659, este partido excepcionalmente bem organizado se concentra nas eleições antecipadas, porque nas eleições gerais, o voto tende a polarizar-se entre os dois partidos maiores: Labour e os Conservadores.

Também não foi cartão vermelho a Tony Blair porque a taxa de votação foi muito baixa : 36.4%. Se o eleitorado de Labour se tivesse apresentado em massa, o resultado teria sido diferente. Por muito que alterasse a tendência de voto, nunca teria chegado a 29%.

Não foi um cartão vermelho, fundamentalmente, porque esta eleição vem ao meio do mandato de Labour. O departamento de comunicações de Tony Blair tem tempo para reparar os danos da política desastrosa sobre o Iraque.

Na próxima eleição geral, o principal partido da oposição, o Partido Conservador, fará alguns ganhos, como também farão os Liberais Democratas mas quando chegar a altura, os eleitores pensarão Labour ou Conservador, tirando os dois partidos os votos dos Liberais Democratas mas por muito que o líder dos Conservadores, Ian Duncan-Smith (ou IDS, como é conhecido) pratique o “power walking” (caminhar com potência), nunca será o suficiente para montar um desafio sério à maioria enorme de Tony Blair (163 lugares) na Câmara dos Comuns.

John ASHTEAD PRAVDA.Ru LONDRES REINO UNIDO

Traduzido da versão inglesa por Márcia Miranda

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