Os tons da cúpula de Obama

Ismel Enríquez Palacios

O presidente Barack Obama logrou um coro quase perfeito com sua cúpula de segurança nuclear, mas ao buscar uma condenação ao Irã encontrou notas desafinadas em algumas delegações.

Falou de terrorismo e do perigo que representa ter plutônio ou urânio em lugares inseguros e o aplaudiram, mas não pode concretizar o cerco que faz tempo os Estados Unidos estende sobre a nação persa com o argumento de que busca desenvolver armas atômicas.

Faltou-lhe o apoio da China, que como membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas é uma voz significativa na hora de traçar sanções, e até o momento, mantém a mesma posição de priorizar o diálogo e a via diplomática com Teerã.

A nação persa, ausente da reunião em que pese seja objeto de acusações, defende seu direito de explorar as potencialidades nucleares com fins pacíficos, critica a dupla moral de Washington no tema, e se queixa de constantes ameaças da Casa Branca.

E se trata de que Washington se empenha em alertar o mundo sobre ambições nucleares de grupos terroristas ou países párias, mas até agora foi o principal perigo para a humanidade, com suas bombas de Hiroshima e Nagasaki, ou as que carregou de urânio empobrecido contra os iraquianos.

Do terrorismo

Desde suas palavras de abertura, e antes de ordenar a retirada da imprensa, o mandatário ressaltou o paradoxo de que, duas décadas depois do fim da Guerra Fria, o mundo esteja mais exposto que nunca a um ataque nuclear.

Culpou disso a grupos como Al Qaeda, que segundo as fontes de inteligência consultadas pelo mandatário, estão à caça de componentes e conhecimentos para fabricar uma bomba com o objetivo de utilizá-la.

Horas depois, as portas do salão de discussões voltavam a abrir-se, para dar passagem à noticia de que os 47 países presentes se comprometiam a reforçar as medidas contra o roubo, a venda e o tráfico ilegal de material radioativo em qualquer parte do mundo.

"Nos somamos à iniciativa do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de proteger o material nuclear vulnerável no curso de quatro anos para fortalecer a segurança", especifica o comunicado assinado por todos.

Para lograr esse objetivo, Washington solicitou um fundo mundial de 10 bilhões de dólares que permita melhorar as condições de armazenamento e vigilância dos materiais considerados perigosos e vulneráveis.

Ainda que pactassem recolher todo o disperso no próximo quatriênio, especialistas como o Prêmio Nobel de Química e professor da Universidade de Toronto, John Polanyi, qualificaram de pouco realista esse prazo para um propósito tão difícil e custoso.

Os Estados Unidos, como promotor da iniciativa, também será o encarregado de recuperar o plutônio e o urânio enriquecido que permanece disperso pelo mundo, e já tem pactos com o Chile, o México e outras nações para começar os movimentos.

Obama mesmo informou que canadenses e chilenos renunciaram a todas suas reservas de urânio, Ucrânia e México prometeram seguir-lhes os passos prontamente, e Argentina, India e Paquistão se comprometeram a reforçar a segurança.

Por outra parte, Washington e Moscou aproveitaram a cúpula para comprometer-se a reduzir 34 toneladas de plutônio, um material presente nas armas nucleares, e o presidente da Ucrânia, Víctor Yanukovich, assegurou que não usarão suas reservas de urânio.

Além disso, as delegações aceitaram intercambiar informação e fomentar a cooperação em matéria de não proliferação, assim como reforçar o apoio que dão à Agência Internacional de Energia Atômica para o manejo de dejetos radioativos.

Entretanto, os assistentes se pronunciaram contra utilizar qualquer argumento dos esgrimidos na cúpula para ir contra o direito dos estados a usar a energia nuclear com fins pacíficos, como pretende o Irã.

Ao falar sobre o tema, Obama defendeu sanções mais duras contra a nação persa, subentendendo que tanto Teerã como Pyongyang passam por cima da opinião da comunidade mundial, como se existisse uma uniformidade a respeito.

A China não subiu no carro, e tampouco os brasileiros, cujo mandatário, Luiz Inácio Lula da Silva, busca converter-se num interlocutor entre Obama e seu par iraniano Mahmud Ahmadineyad para solucionar o contencioso.

As sanções e as pressões não podem resolver o assunto, comentou o porta-voz da chancelaria chinesa Jian Yu, que destacou como seu governo trabalhou e o fará no marco do Conselho de Segurança das Nações Unidas para encontrar uma solução diplomática.

No roteiro de Washington, em troca, não houve maiores referencias à ausência de Israel, país que, sim, conta com bombas nucleares e se jacta de poder utilizá-las a qualquer momento,para acabar suas diferenças com os iranianos.

A administração de Tel Aviv rechaçou o convite para participar da cúpula e, como em outras ocasiões, Washington não se aventurou à crítica para não ferir as sensibilidades de seu principal aliado no Oriente Médio , algo ruborizadas com tanto atrito pelo conflito com a Palestina.

Realidades como essa levam alguns a tomar pouco a sério os resultados, pois segundo o ex congressista e ativista pró desarme canadense Douglas Roche, a ameaça de um desastre estará presente porque as principais potências manterão vivo esse risco.

Ismel Enríquez Palacios é jornalista da redação América do Norte da Prensa Latina.

http://www.socialismo.org.br/portal/internacional/39-noticia/1454-a-cimeira-atomica-de-washington

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