MACEDÓNIA: SITUAÇÃO AGRAVA-SE

A situação na Macedónia voltou a agravar-se. A Frente Nacional para a Unificação dos Albaneses, a coberto da qual actua o ilegal Exército Nacional Albanês (ENA), anunciou uma urgente mobilização dos seus destacamentos. Os albaneses consideram esta medida como uma resposta forçada à recusa do governo da Macedónia de reagir ao ultimato do ENA que exigiu a retirada de todos os agentes das forças de segurança da Macedónia da região de Kumanovo.

Mas surge a pergunta: "Será que o governo macedónico podia reagir de outra maneira ao ultimato feito a ele?". Ora, se ele tivesse cumprido a exigência dos albaneses, teria renunciado de facto à jurisdição sobre uma parte do território do seu país. O exemplo do Kosovo, que os albaneses separaram, na realidade, da Sérvia com a ajuda da NATO, é muito recente e convincente para não o tomar em consideração.

E tanto o ultimato do ENA como a mobilização por ele anunciada indicam que o acordo de Ohrid, assinado há dois anos entre os comandos albaneses e as autoridades da Macedónia, é um documento frágil e muito inseguro, aliás, como foi predito por muitos peritos. O acordo não resolveu nem podia resolver o problema da paz e concórdia nacional na Macedónia, pois uma das partes, a albanesa, fez desde o início tudo para dividir o país, e o seu consentimento de concluir a paz não passava de uma manobra táctica que lhe permitia ganhar tempo e reunir forças para prosseguir a "luta pela independência".

Esta luta foi iniciada na Primavera de 2001 quando a minoria albanesa da Macedónia ou, dizendo mais exactamente, a sua parte mais agressiva que concebe os planos separatistas, inspirada pelo exemplo dos albaneses kosovares, iniciou a luta armada pela independência, pela separação da parte noroeste do país, limítrofe do Kosovo. Os destacamentos do ENA, bem armados e reforçados por comandos do chamado Exército de Libertação do Kosovo (ELK), desencadearam as operações militares contra as forças de segurança da Macedónia. Mas quando o Governo da Macedónia decidiu usar contra os rebeldes as unidades militares regulares, nos assuntos deste país imiscuiu-se a Aliança do Atlântico Norte que maniatou de facto Presidente Boris Trajkovski.

Então por iniciativa da NATO foi concluído o Acordo de Ohrid segundo o qual as autoridades macedónicas fizeram sérias concessões aos albaneses. Embora a minoria albanesa da Macedónia não tivesse sido nunca vítima de discriminação, ela recebeu direitos suplementares. No governo foram incluídos 5 ministros albaneses. Nos locais da residência compacta dos albaneses a sua língua obteve o estatuto de oficial e se tornou de facto o segundo idioma estatal. Foi aumentada a representação dos albaneses nas esquadras policiais. Mudou também o método de aprovação de decisões no parlamento tendo em conta as exigências da parte albanesa. É de notar que todas estas mudanças foram consagradas na Constituição do país. Por outras palavras, sob pressão dos EUA e da NATO a Macedónia foi forçada a dar passos que a podem transformar em Estado federativo de duas nacionalidades, objectivo que os albaneses perseguem desde há muito e o que não aceita o Presidente do país Boris Trajkovski considerando justamente esta exigência como ameaça para a integridade territorial e a soberania da Macedónia.

O perigo consistia também no facto de as autoridades macedónicas terem sido forçadas a proclamar amnistia aos comandos que tinham lutado contra as tropas governamentais. A amnistia devia ser precedida pela liquidação das formações armadas dos albaneses e pela deposição das armas pelos seus integrantes. Estas missões foram assumidas pelo contingente da NATO que entrou na Macedónia. No entanto, o "desarmamento" foi efectuado tal como no Kosovo onde praticamente todas as armas foram deixadas aos comandos do ELK e o próprio ELK não se dissolveu, mas só mudou o "letreiro" e passou a ser chamado de Corpo de Defesa Civil. Também na Macedónia o ENA transformou-se em Frente Nacional para a Unificação dos Albaneses. As armas ficaram em poder dos comandos e, depois de ter descansado, eles retomaram a sua actividade apresentando o ultimato ao governo da Macedónia. Como vemos a política de pacificação dos extremistas não levou a nada de bom nem no Kosovo nem na Macedónia.

"Todo o mal está em que nos Balcãs os EUA e a NATO apostaram desde o início no separatismo albanês" - considera o notável cientista especializado em problemas balcânicos prof. Vladimir Volkov, director do Instituto de Estudos Eslavos da Academia de Ciências da Rússia. Em entrevista concedida ao autor destas linhas ele disse que actualmente a direcção da NATO se convenceu, provavelmente, do perigo do extremismo albanês não só para os Balcãs mas também para toda a Europa, mas não deseja reconhecer isso nem empreende as tentativas de corrigir a situação. Por que razão? Porque a aliança, como considera Volkov, que utilizou em época a carta albanesa como o principal trunfo no jogo por ela iniciado contra a Jugoslávia de Milosevic, não está agora em condições, usando o termo do xadrez, de fazer marcha atrás, desautorizar as suas próprias acções e reconhecer o fracasso da política balcânica que levou à desestabilização da situação na península. Além disso, a aliança já não tem esperanças de aproveitar o separatismo albanês no seu interesse como meio de pressão sobre os países balcânicos desobedientes.

Na opinião de Volkov, não é difícil adivinhar o decurso dos acontecimentos caso a NATO continue a mostrar-se complacente com os extremistas albaneses e permita a formação da federação macedónica de duas nacionalidades. Um par de anos depois a Albânia macedónica declarará a sua retirada da Macedónia e juntamente com os albaneses kosovares, gregos e montenegrinos desejará criar uma nova formação estatal. É o velho e bem conhecido plano de criação da "Grande Albânia". É escusado dizer que as tentativas de sua realização representam grande perigo para a região balcânica.

Actualmente a NATO deve determinar as suas ulteriores acções: ora a aliança continuará a seguir a via da remodelação étnica dos Balcãs cedendo às exigências dos nacionalistas e separatistas de todos os matizes, ora procurará conseguir a estabilização da situação nos Balcãs observando os interesses de todos os seus povos. É possível conseguir isso aceitando, enfim, a iniciativa russa segundo a qual os países balcânicos devem concluir o acordo assumindo o compromisso de reconhecer a soberania, a integridade territorial e a inviolabilidade das fronteiras existentes.

Valeri ASRIAN

© RIAN

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