Um cantinho brasileiro no arquivo histórico diplomático da chancelaria uruguaia

Comemorando os 180 anos do Ministério das Relações Exteriores uruguaio, o responsável do Arquivo Histórico Diplomático, Senhor Álvaro Corbacho Casas compartilha tudo quanto conhece dos presentes do Governo Brasileiro que ficam nesse depósito lotado de pastas, livros de registro e papelada com letra chanceleresca e inglesa.

PRAVDA : Qual foi a evolução da sua carreira neste ambiente da cultura e dos arquivos históricos? Referências que teve no início. Faz quanto anos neste Arquivo H D?

CORBACHO : São quase 20 anos fazendo minha tarefa no Arquivo Histórico Diplomático da Chancelaria uruguaia mas com antecedência comecei na Biblioteca Nacional e no Museu Torres García. Embora, isso reflete que sempre fiquei envolvido neste ambiente da cultura. Aliás, sendo criança fiquei em contato com o mundo deste tipo de «papelada» e no início acho que foi por conta da profissão do meu pai que acabou me arrastando pois foi tabelião. Também foi extremamente importante o relacionamento maravilhoso com minha vovozinha paterna que ficou sempre atraída pelo passado e os documentos. Na minha casa, ainda cuido dos jornais que mostrava a rendição da Alemanha em 1945, com rascunhos da minha vovozinha nas margens. Quanto ás fotografias da família também acabava cadastrando-as, ou seja, datando-as e colocando os nomes das pessoas cativadas pelo facho da camarinha.

P: O Arquivo Histórico Diplomático está aberto ao público em geral aos dias úteis? A Chancelaria recebe visitação?

CORBACHO : O Arquivo Histórico Diplomático abre suas portas nos dias úteis, de Segunda a Sexta das 9:30 á 16:30 h fechando só aos sábados, domingos e feriados uruguaios. A porta localiza-se na Rua Colonia 1206 tendo como travessa mais próxima a Rua Cuareim ficando de portas abertas para pesquisadores, estudantes universitários e público em geral. Com certeza, que este Palácio Santos, sede da Chancelaria uruguaia pode ser visitado. O tal Palácio, foi construído de 1884 até 1886 como residência e «escritório» do Presidente da República, Máximo Santos, sob desenho do Engenheiro Civil Juan Alberto Capurro. Aliás, o «Pátio das Carruagens» quanto a «Sala Figari» são espaços culturais que sedeiam exposições e outros eventos.

P : Quais são os dois presentes que o Governo brasileiro ofereceu para o Governo Uruguaio que hoje ficam neste Arquivo Histórico Diplomático?

CORBACHO : O Arquivo Histórico Diplomático possui várias «lembranças», de fato muito importante quanto ao valor histórico mas existem duas que são extremamente importantes. O busto em fundição de bronze do Barão de Rio Branco, doado pelo Presidente dos Estados Unidos do Brasil, General Eurico Gaspar Dutra, como presente ao Governo e o Povo uruguaios, o dia 10 de Setembro de 1946. Uma outra peça histórica que a gente desconhece a origem, trata-se de um correio fundição de ferro forjado do «Correio» do Brasil.

P : O que vocês guardam neste arquivo. A escritura de compra do edifício da Embaixada Uruguaia no Rio de Janeiro faz quase um século?

CORBACHO : O Arquivo Histórico Diplomático acaba sendo um depósito documentar de características específicas que reúne, classificados e arranjados, com os instrumentos de descrição, os documentos de grande valor para tudo quanto tem a ver com a história diplomática da República. Nessa lista de documentos que salientam o relacionamento diplomático entre Uruguai e Brasil, temos a cópia da escritura de compra-venda do imóvel que foi sede da Legação Uruguaia no Rio de Janeiro á partir de 1914. Foi adquirida pelo Governo Uruguaio na quantia de $ 196.900, do Senhor Gregório Thaumaturgo com superfície de 1140 m² e avaliada pelo tabelião Lino Moreira, datado em 15 de Maio de 1914. Ainda temos fotos dessa residência, bem como dos requintados móveis que faziam parte dela.

P : Ano retrasado como pesquisador lhe confirmei que a Residência Presidencial Uruguaia na Avenida Joaquín Suárez do bairro Prado tinha sido Legação do Brasil de 1934 até setembro de 1938? Qual é o significado desse descobrimento para uma pessoal que adora a história como é o seu caso?

CORBACHO : Trata-se de uma pesquisa que exprime grandíssimo interesse e acho importante para todos aqueles que estão na procura do histórico dos prédios da cidade, bem mais naqueles casos que ficam envolvidos com o Patrimônio Histórico da Nação.

P : A Chancelaria Uruguaia localizada na Avenida 18 de Julio esquina com a Rua Cuareim neste famoso Palácio Santos foi residência do General Máximo Santos e até aconteceu o velório dele, não é?

CORBACHO : De fato, neste Palácio, em 1889 acabou ocorrendo o velório do General Santos e temos quase certeza que aconteceu no «Salão Florentino». Os quartos do Santos e Teresa Mascaró, a esposa dele, bem como dos filhos debruçavam para o «Pátio das Carruagens» (no Pátio do fundo), pois a parte da frente do Palácio foi utilizada para tudo quanto tinha a ver com o protocolo como Presidente da República. O Palácio Santos pertence ao Estado uruguaio desde o decênio de 1920 sendo sede do Ministério das Relações Exteriores a partir de 1955.

P : Lembra alguma visita famosa como Presidentes neste AHD? O que houve no passado neste depósito que hoje é o AHD?

CORBACHO : Assim que o Palácio Santos foi declarado sede da Chancelaria não teve visita de Chefe de Estado nem Presidente nenhum. No espaço no qual localiza-se agora o AHD, na época do General Santos localizavam-se as cavalariças e os armazéns. O General Santos tinha um museu próprio, no espaço que hoje ocupa o «Salão dos Chanceleres» (no mezanino, acima do atual AHD), com pinturas e obras de arte que ele comprava na Europa. Nos armazéns (hoje Arquivo) guardava-se muita dessa obra que não ficava em exibição.

P : Neste ADH tem papelada á partir de que ano? Estão digitalizando tudo?

CORBACHO : No Arquivo temos documentos á partir de 1720 (um mapa da parte mais meridional da América) onde reflete se acima do território atual do Uruguai, a palavra «URUAIG». O documento mais antigo em si próprio é o «Tratado da entrega das Missões» do ano 1750. Temos duas bases de dados de documentos e estamos em processo de digitalização de grupos de documentos de grande valor histórico.

P : Qual é o relacionamento com outros Arquivos Históricos Diplomáticos? Existe intercâmbio de informações?

CORBACHO : Existe uma Rede de Arquivos Diplomáticos Ibero-Americanos (RADI) que faz parte do Programa das Cimeiras Ibero-Americanas de Chefes de Estado e Presidentes, que deu inicio faz mais de dez anos sendo que o Uruguai é membro proponente junto a Chile, México e Venezuela. Esta rede tem como alvo o intercâmbio de informações entre os arquivos dos países Ibero-Americanos além de tentar padronizar tudo.

P : Como acontece o dia-a-dia do AHD? Quem compartilha a difícil e apaixonante tarefa que você faz nesta cova aconchegante?

CORBACHO : No dia-a-dia temos pesquisadores de áreas diversas, estudantes, docentes e historiadores, bem como público em geral que procuram informações especificas. Fica claro que continuamos com o processo de classificação, ordenação e descrição dos documentos. Os funcionários do Arquivo é a arquivologista Mariela Cornes Rimoldi e eu.

Foto: Senhor Alvaro Corbacho Casas.

O PRAVDA agradece o apoio da Senhora Rejani Saldanha da Biblioteca do Instituto Cultural Uruguaio Brasileiro de Montevidéu.

Correspondente PRAVDA.ru

Gustavo Espiñeira

Montevidéu – Uruguai

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