O presidente eleito de El Salvador, Mauricio Funes (foto), vai restabelecer relações com Cuba 48 anos depois do rompimento de todos os vínculos com a ilha. A quebra se deu no contexto da Guerra Fria, quando os Estados Unidos faziam pressão sobre os países latino-americanos para que isolassem o regime de Fidel Castro. Funes, eleito por um partido de esquerda, a Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN), vai rever isso.
É uma decisão boa na opinião de Ernesto Rivas Gallont, embaixador de El Salvador em Washington de 1981 a 1989. Ele disse ao Opera Mundi que aprova a decisão do presidente eleito e que El Salvador ficou para trás em termos de política externa, por ser o único país sem relações com a ilha caribenha. Funes já havia manifestado o desejo de reatar os laços com Cuba durante a campanha presidencial.
Para Gallot, a decisão de Funes obedece às suas convicções político-ideológicas e preenche a necessidade de aproximar El Salvador do resto do continente onde a maioria dos países são sócios comerciais de Cuba.
El Salvador demorou demais para normalizar as relações com Cuba, afirmou o ex-diplomata, acrescentando que reatá-las agora é prioritário, graças ao anúncio (em meados de março) do presidente da Costa Rica, Óscar Arias, de que restabelecerá de forma plena os laços com o governo cubano, rompidos em setembro de 1961. Até agora, os dois países mantiveram apenas relações consulares.
Uma porta-voz do Ministério de Relações Exteriores salvadorenho confirmou que El Salvador rompeu relações diplomáticas com Cuba em 1961 após a proclamação socialista da revolução cubana, que havia triunfado em janeiro de 1959 sob o comando de Fidel Castro.
Com a retomada das relações entre El Salvador e Cuba, o que se elimina é o isolamento de nosso país em relação às demais nações latino-americanas, garantiu Héctor Dada-Hirezi, membro do grupo de trabalho do futuro governo de Funes.
O também ex-chanceler argumentou que os Estados Unidos sempre estiveram isolados - com o apoio de El Salvador - no que diz respeito ao embargo contra Cuba. É uma correção de uma política exterior equivocada, sublinhou o cientista político.
Normalização
O anúncio de Funes ocorre num momento em que a maioria dos países latino-americanos tende a normalizar os laços diplomáticos com Cuba.
O encarregado de negócios norte-americano em San Salvador garantiu à imprensa na semana passada que esta é uma decisão soberana dos salvadorenhos.
Para Rivas Gallont, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, está no caminho de normalizar as relações com Cuba, como parte de um novo enfoque político-ideológico e como resultado da nova realidade latino-americana, na qual o país norte-americano perdeu a capacidade de influência que possuía décadas atrás.
Obama compreende que não pode continuar com essa política de isolamento de Cuba, observou o ex-embaixador.
O presidente norte-americano se reunirá com os mandatários do hemisfério na Cúpula das Américas, a ser realizada em Trinidad e Tobago em 16 e 17 de abril.
Histórico
Depois de romper relações com Cuba em 1961, o então presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, assinou em fevereiro de 1962 o decreto que oficializou o bloqueio econômico - ainda vigente - de seu país contra os cubanos.
Depois dessa decisão, todos os países latino-americanos, à exceção do México, romperam vínculos diplomáticos com os caribenhos.
Paradoxalmente, muitas empresas salvadorenhas mantiveram negócios com o governo cubano, entre elas a Transportes Aéreos do Continente Americano (Taca), uma das maiores companhias da América Latina, que no início de março completou 15 anos de investimentos em Cuba.
Texto: Raúl Gutiérrez/De San Salvador/Operamundi.net
http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=f87e955fd6b89f8963b6934beb077d6e&cod=3782
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