O QUE É PRECISO FAZER EM RELAÇÃO AOS EUA?

Depois da injustificada invasão do Iraque, alegando motivos completamente absurdos e infundados, ficou bastante claro que os Estados Unidos são uma das maiores ameaças à paz, soberania e segurança dos demais países. É óbvio que esta invasão teve como fim unicamente interesses estratégicos e econômicos, e todos os relatórios de espionagem que pretensamente mostravam que Saddam Hussein estava construindo armas atômicas e possuía armas químicas e biológicas eram completamente falsos.

Aliás, é interessante que ultimamente alguns funcionários da CIA (a principal agência de espionagem norte-americana) estão saindo a público para dizer que os relatórios apresentados não são autênticos, e foram forjados pela administração Bush com o propósito explícito de justificar a invasão do Iraque, já prévia e inabalavelmente decidida. Quem pode sentir-se seguro com um líder megalomaníaco a cargo do mais poderoso país do mundo? Os EUA são uma ameaça seríssima, e precisam ser contidos.

Por outro lado, porém, ao contrário do que muitos anti-americanos pretendem, os EUA não são como a Alemanha nazista, e George W. Bush não é Hitler. Não nos esqueçamos de que os EUA são uma democracia (fragilizada pela estranha maneira como Bush ganhou a presidência, mas ainda uma democracia), onde há liberdade de pensamento e de expressão. Embora quase toda a imprensa norte-americana tenha cerrado fileiras incondicionalmente em torno de seu líder, ajudando-o a vender para a opinião pública a alegação de que a invasão do Iraque foi para "promover a paz e acabar com o terrorismo", ainda assim houve manifestações importantes, principalmente de intelectuais e artistas, contra a guerra. Pena que não lhes deram ouvidos; porém, tampouco foram presos ou sofreram qualquer represália estatal, o que prova que há liberdade de expressão nos EUA, mesmo no governo de Bush. É preciso ter uma opinião equilibrada acerca deste país. Dizer que os EUA são irremediavelmente imperialistas, ou que todos os cidadãos norte-americanos são sanguinários dispostos a submeter o mundo a seus interesses, é exatamente o tipo de coisa que Osama bin Laden e seu bando querem ouvir: pois é exatamente disso que precisam para justificar ações hediondas como o ataque às torres do WTC, em Nova Iorque.

Quanto à Alemanha nazista, durante a Segunda Guerra Mundial, não havia como pacificá-la através do diálogo e da cooperação: Hitler era um bárbaro germânico que pretendia conquistar e pilhar toda a Europa, exterminar as populações que ele considerava inferiores (judeus, ciganos, eslavos), e construir um império ariano que durasse mil anos. Grã-Bretanha, França, União Soviética, todas as potência européias tentaram pacificar Hitler e demovê-lo de seus planos bélicos através do diálogo. De nada adiantou: Hitler invadiu a França, bombardeou o Reino Unido e violou o pacto de não-agressão com a URSS.

Hitler tinha o apoio cego, fanático e irrestrito de praticamente toda a sociedade alemã, e por isso podia facilmente pôr em prática todos os seus planos. A ação militar conjunta dos EUA, Grã-Bretanha e URSS na Segunda Guerra Mundial foi plenamente justificada: houve abuso de força por parte dos três países aliados contra o população civil alemã, porém não se pode negar que a única maneira de conter o nazismo era destrui-lo por completo, militarmente.

Os Estados Unidos, por outro lado, são bem diferentes: lá existe democracia, liberdade de pensamento e de expressão, e até mesmo pessoas sensatas que percebem o quão ameaçador é seu próprio governo, e se lhe opõem. É uma minoria, mas não tão insignificante: segundo o jornal The New York Times, 30% da população norte-americana era contrária à guerra contra o Iraque, quanto esta foi iniciada. Não se justificam ações violentas contra um país que tem parte expressiva de sua população contrária ao belicismo de seu próprio governo. Além disso, uma campanha militar contra os EUA é algo impensável: uma guerra contra um país com forças armadas tão enormes, bem-equipadas e preparadas seria altamente destrutiva, mesmo se não se recorresse a armas nucleares. Felizmente, a Rússia e a China, os dois únicos países capazes de fazer frente ao poderia bélico estadounidense, nunca fizeram ameaças militares contra Washington, embora tenham se oposto aos planos de Bush de invadir o Iraque. E ataques terroristas, por sua vez, apenas vitimam inocentes e colocam toda a opinião pública, não apenas dos EUA mas do mundo inteiro, a favor de campanhas vingativas (como aconteceu com o Afeganistão, logo após os ataques de 11 de setembro de 2001); acirram, e não diminuem, a agressividade estadounidense. São, portanto, não apenas abomináveis do ponto de vista moral, mas também nocivos do ponto de vista estratégico.

O que o resto do mundo precisa fazer é mostrar aos EUA que estes não são os senhores absolutos do mundo e, embora sejam o país mais poderoso do mundo, não podem simplesmente atropelar as opiniões e propostas de outras nações. É importante que França, Alemanha, Rússia, China e Índia se unam cada vez mais, tanto econômica quanto politicamente, para poderem se fortalecer diante dos EUA e mostrar que também são potências importantes que não podem ser desprezadas. Quanto aos países latino-americanos, principalmente os da América do Sul, que em geral se opuseram fortemente à campanha militar dos EUA no Iraque, deveriam unir-se política e economicamente no Mercosul, boicotar a Alca (a Área de Livre Comércio das Américas, proposta pelos EUA) e tentar negociar um acordo comercial com a União Européia. Isto sem dúvida afetaria e muito os interesses econômicos de Washington, e seria uma boa maneira de mostrar que os latino-americanos não são "cucarachas" deslumbrados com os Estados Unidos, que querem a todo custo tornar-se norte-americanos, mas que também possuem meios de pressionar a "maior potência do mundo". É realmente incompreensível que o presidente Lula não tenha percebido isto, pois foi eleito para ser no mínimo muito cauteloso em relação à Alca. Na reunião do presidente brasileiro com Bush, em junho, Lula alterou o cronograma do governo anterior de entrada do Brasil na Alca, adiantando-a de 2007 para 2005. A estratégia bem-sucedida do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de adiar ao máximo a entrada do Brasil na Alca para pressionar os EUA e conseguir um acordo mais vantajoso, foi simplesmente abandonada, sem razão aparente.

Enfim, há outras maneiras de diminuir o poder e a influência de Washington, sem fazer uso de violência ou de força. Quando outros países tiverem mostrado que são também poderosos e que não aceitam as imposições dos EUA, provavelmente a opinião pública norte-americana se dará conta do erro que foi apoiar um governo tão prepotente como o de George W. Bush. Talvez, então, iniciar-se-á uma época melhor de relacionamento dos EUA com o resto do mundo, marcado não pela arrogância e unilateralidade, mas pelo diálogo, cooperação e respeito. Carlo MOIANA Pravda. Ru MG Brasil

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