Desertificação: Annan apela à comunidade internacional

Enquanto se desperdiça bilhões de USD em guerras e matanças, há milhões de pessoas que vivem em risco por causa de problemas de fácil resolução, muitas vezes causadas pelo homem. O Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan, apelou à comunidade internacional ontem no sentido de juntar esforços numa acção comum para impedir que a desertificação não alastre ainda mais.

A segurança de alimentação num longo prazo e a erradicação de pobreza são há muitos anos os objectivos da ONU nas áreas mais afectadas. Todos os anos, são publicadas as estatísticas, todos os anos a resposta é igual: a comunidade internacional precisa de fazer mais. Fazem-se promessas, fazem-se garantias e no ano seguinte, lá estão as estatísticas outra vez, como um motor de moção perpétua.

Falando no Dia Mundial para Combater a Desertificação e Seca, Kofi Annan declarou que “As actividades humanas como a excessiva exploração das terras, a pastagem excessiva, a destruição das florestas e práticas de rego desastrosas, juntamente com a mudança da clima, estão a tornar solos férteis em desertos”, o resultado disso sendo o sofrimento humano numa escala vasta e duradoura. Em África, na região abaixo do deserto Saara, o número de refugiados aumenta em vez de diminuir; até 2023, espera-se que haverá 25,000,000. Os que não podem mudar para áreas mais prósperas dentro dos seus países têm duas opções: morrer a fome ou emigrar, estas razões normalmente totalmente mal compreendidas pelas populações nos países para onde vão emigrar. George F., da Nigéria, chegou a Lisboa há dois meses, onde ele está hospedado com amigos, emigrante desesperado do seu país, imigrante ilegal em Portugal, escondido, sub-humano perante as autoridades no país da sua escolha. Contou à Pravda.Ru a história da incrível viagem que o trouxe para Lisboa através do Deserto da Saara.

“Éramos um grupo de quinze. Seis chegamos, os outros morreram no caminho, entre eles minha esposa e meu irmão. A rota é bem conhecida mas é perigosa. O sol é só uma parte do problema: o resto é o medo de ser assaltado”. Agricultor, George diz que não tinha outra alternativa senão emigrar, se queria ter uma vida digna.

Depois de atravessar o deserto, chegou a Marrocos, onde uma rede clandestina o trouxe para Espanha e depois para Lisboa, onde trabalha como assistente numa obra de construção, ganhando uns 1,100 USD por mês.

Porém, a África não é a única parte do mundo afectada por esse flagelo. Fotografias tiradas por satélite mostram que há uma linha clara, invisível ao olho nu mas bem visível do espaço, que divide a Península Ibérica em duas partes, igualmente a Itália, Grécia, Turquia e percorre o sul da Rússia. A norte desta linha, o terreno é verde. Abaixo, é amarelada ou laranja, tal como a Saara.

Em 2002, milhões de toneladas de terra fértil foram perdidas na Austrália, que sofreu a sua pior seca em cem anos, enquanto na Índia, 2,5 milhões de hectares de terreno são inutilizados todos os anos, ficando uma poeira gigantesca. nenhum continente é isento: na América Latina, 70% do terreno do México está em risco de desertificação, resultando em um milhão de emigrantes por ano entrando nos Estados Unidos da América.

Há demasiado tempo se fala na desertificação. O Tratado da ONU para Combater a Desertificação foi assinado em 1994...milhões de pessoas, crescendo e não diminuindo em número, continuam a sofrer todos os anos, um flagelo que tem consequências globais humanitárias, sociais e económicas.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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