Blair em sarilhos

Tony Blair passa por momentos turbulentos. Depois de receber ondas de criticismo da opinião pública mundial, salta a verdade na Comissão Especial sobre Assuntos Externos em Whitehall, Londres: dois antigos ministros, Claire Short e Robin Cook, acusam-no de ter exagerado a evidência contra o regime Ba’ath em Bagdade.

Robin Cook, Ministro de Negócios estrangeiros an época da crise em Kosovo e até a sua demissão, líder da Câmara dos Comuns, descrever o segundo relatório produzido pelo governo britânico (aquele referido por Colin Powell no Conselho de Segurança da ONU como “inteligência magnífica”) como “um auto-golo espectacular”, visto que a inteligência foi talhada à história de Armas de Destruição em Massa no Iraque e não foi baseada em factos objectivos.

Contudo, foi a antiga Ministra de Desenvolvimento, Claire Short, que se demitiu com Cook sobre a questão do ataque ilegal contra o Iraque, que foi mais longe. Afirmando ter tido acesso aos relatórios dos serviços secretos, e declarando que não havia absolutamente nada que indicava que o regime de Saddam Hussein era uma “ameaça imediata” como Bush e Blair disseram tantas vezes, Claire Short disse à Comissão que poderia ter havido muito mais apoio prestado a Hans Blix e que as equipas de inspecção deveriam ter tido muito mais tempo para agir por meios diplomáticos, só que a decisão de atacar já fora tomada há muito tempo.

De acordo com as declarações da Claire Short, o horário para a guerra (Março) tinha sido decidido em 9 de Setembro de 2002: “pessoas numa posição de grande relevo” afirmaram que a data tinha sido estipulada muito antes do início do ataque. Sendo esse o caso, quer dizer que toda a actividade diplomática conduzida por Washington e Londres desde então não foi mais do que uma charada, o que significa que o resto da comunidade internacional estava a ser tratada como tantos palhaços.

A Claire Short disse ainda que cada vez que a questão do Iraque se discutiu em reuniões do Conselho de Ministros (como foi numa base semanal) nunca houve papéis, nunca houve documentos, era sempre o primeiro Ministro Blair a explicar como ia o processo, afirmando que haveria uma segunda resolução do CS da ONU. “Não foi uma investigação exaustiva de opções. Não foi uma discussão completa para formar uma decisão. Não houve um processo colectivo de tomar decisões”. Democracia?

Cada vez que a Claire Short levantou a questão de dar mais tempo às equipas da ONU, vinha a resposta “Não poderíamos deixar as tropas no deserto mais tempo” e Tony Blair dizia sempre “Os EUA iriam dar-nos mais uns diazinhas”. Só, o que não valeria nada.

Washington já se tinha decidido em lançar um ataque até finais de Março. Não foi baseada essa decisão em ADM, foi baseada em recursos e opções estratégicas. O resto era uma mentira descarada e Tony Blair decidiu engolir os seus princípios e, como outros chefes de governo, de humilhar.

A questão é simples: o resto da comunidade internacional, o que é a vasta maioria dos países, nem são lorpas, nem palhaços. Agora que veio a verdade à flor da pele, os mentirosos terão de enfrentar as consequências das suas acções.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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