A continuação da filosofia do Eixo do Mal

A retórica continua e a “evidência” começa a aparecer. Depois das “provas duras” de Washington que o Iraque tinha programas activas nucleares e biológicas, que afinal não eram mais do que documentos copiados do Internet, começam a surgir os mesmos sons acerca do Irão e o RDPC.

Relativamente ao Irão, Washington afirma que chamadas telefónicas interceptadas provam que há uma célula da Al Qaeda no país, que coordenou o ataque em Riade no dia 12 de Maio. Washington pediu a Lakhdar Brahimi, um alto oficial da ONU, que exprimisse a “profundíssima preocupação que indivíduos associados com Al Qaeda planearam e dirigiram o ataque contra Arábia Saudita a partir do Irão”. Alegações graves, totalmente negadas por Teerão, que afirma estar a colaborar contra o terrorismo dentro das linhas-guia estabelecidas pela ONU, a instituição desprezada e humilhada por Washington na sua campanha assassina e ilegal no Iraque. Apesar destas negações, um alto oficial na administração Bush, citado pelo New York Times na semana passada, disse que os EUA tem “evidência dura” que uma célula de 12 membros da Al Qaeda está escondida no Irão, tendo atravessado a fronteira do Afeganistão, e que inclui Saif Adel e Saad bin Laden, o filho de Osama. Donald Rumsfeld confirmou esta linha de pensamento numa conferência de imprensa no Pentágono, afirmando que “Não há dúvida de que há Al Qaeda no Irão” Como houve em Nova York, e possivelmente ainda os há.

Contudo, quando os Estados Unidos da América começa a falar em “evidência dura”, começam a levantar-se as sobrancelhas e surge a suspeição de que Washington, e o Pentágono, estão mais uma vez a mentir. Antes do ataque ilegal contra o Iraque, houve uma tentativa absurda em Dezembro de 2002 de denegrir o governo em Bagdade por afirmar que tinha havido envios de urânio “yellowcake” a Bagdade a partir da República do Niger, o fundamento para estas alegações sendo assinaturas de ministros e até papel oficial timbrado.

Examinando os documentos apresentados por Washington, Mohammed El Baradei, o Director da Agência Internacional de Energia Atómica, concluiu que as assinaturas eram copiadas e o papel não era aquele em uso pelo governo de Niger. Documentos forjados e assinaturas falsificadas, apresentadas como “evidência”.

As mentiras descaradas e flagrantes do Colin Powell ao Conselho de Segurança da ONU, com a sua “magnífica” evidência, que provava que o Iraque tinha ADM, que mais não era senão uma cópia dum documento escrito 12 anos antes, uma tese de doutoramento cortado e colado do Internet, foi ainda outro sinal da falta de credibilidade da administração Bush, que chegou a níveis cada vez mais baixos na sua procura cada vez mais desesperada de armar uma cilada a Saddam Hussein.

Dois meses depois, onde estão as armas de destruição maciça?

Contra a República Democrática Popular da Coreia, não se pode utilizar o argumento de armamentos, porque Pyongyang é o primeiro a admitir que tem mísseis e combustível nuclear, embora nega que tem mísseis com ogivas nucleares. Aqui, Washington tenta outra táctica - relatórios dum suposto dissidente que afirma que o governo de Pyongyang está cultivando heroina e produzindo metamfetamina, para aumentar as divisas. Este dissidente apareceu numa Comissão do Senado vestindo um capuz preto, como algum carrasco medieval. Não há maneira de verificar a sua “evidência”, nem se sabe ao certo de onde é, se é de Pyongyang ou Portland, de Coreia ou da Califórnia?

Contudo, a sua “evidência” levou a Subcomissão do Senado sobre gestão financeira, orçamento e segurança internacional, a pedir que se impõe uma “quarentena naval” sobre Pyongyang, para embargar os seus envios. Primeiro falsificação, depois mentiras, depois crimes de guerra contra civis e agora pirataria. A lista cresce.

A afirmação do senador Peter Fitzgerald (Republicano, Illinois), constitui uma dica interessante e arrepiante sobre a mentalidade ingénuo do regime de Bush, um exemplo de como coscuvilhice e suposição, invenções e mentiras podem facilmente constituir a espinha dorsal duma política externa que afecta directamente as vidas de centenas de milhares de pessoas:

“Eu penso que o processo do negócio da droga está em parte a fundear os programas das armas deles, por isso o tráfico de droga precisa de ser parada de maneira a proteger a nossa própria segurança nacional”.

Eu penso? A administração de Bush parece cada vez mais uma tertúlia de escritores de guiões para Hollywood, que são enviados para o filme ser feito. A diferença é que estes são os guiões para aqueles filmes ilegais de vídeo, onde os assassinos, os crimes de guerra, as mutilações, são reais, e não ficção.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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