“Cachorros! Filhos duma puta! A cona da vossa mãe!” Não eram os berros dum hooligan de futebol demente, gritados em alta voz contra os adeptos da equipa adversária ou o árbitro. Foram proferidas em árabe, num altifalante, por soldados da Força de Defesa de Israel (FDI), que estavam a provocar umas crianças palestinianas a atirarem pedras. Atiraram. Foram chacinadas a sangue frio pelos soldados, que utilizaram silenciadores nas suas armas. Esta história é uma das muitas relatadas por jornalistas internacionais, neste caso pelo norte-americano Chris Hedges do New York Times. Inúmeras outras nunca chegam à imprensa, porque a rede pro-Israel residente nos média e agências de publicidade internacionais prefere uma história confortável, rotulado de “Terrorismo palestiniano”, que afirma que as actividades da FDI são “defensivas”, ou “controlam a violência” ou são “medidas contra-insurgência”.
Contudo, suprimir este tipo de história é igual a suprimir as actividades dos muitos milhares de israelitas que não aprovam este tipo de política e fazem tudo para criar um ambiente pacífico em que podem coabitar com os palestinianos.
Nem todos os efectivos da FDI assassinam crianças a sangue frio. Nem todos os israelitas concordam com a construção de colónias nas terras ocupadas. Nem todos os israelitas favorecem as intenções dos conservadores, de alargar a construção das colónias, de construir muralhas e vedações a volta das áreas palestinianas e de cortar a rede de água que as fornece.
Nem todos os israelitas estão de acordo com a imposição do recolher obrigatório, que dura às vezes por umas horas, outras vezes por alguns dias, sempre sem aviso, em que os palestinianos são obrigados a permanecerem nas suas casas, no calor escaldante, sem mantimentos ou até sem água, se não o compraram nas horas em que o recolher obrigatório foi levantado. As crianças não podem ir à escola e se saírem para a rua para brincar, são atingidos a tiro. Tanto faz às forças da FDI se os ocupantes das casas são homens, mulheres, crianças, bebés recém-nascidos, com água, sem água, com leite ou sem, saudáveis ou doentes. Uma atitude desumana.
Nem todos os israelitas apoiam a política de destruir as casas dos palestinianos quando as famílias estão dentro delas, nem todos os israelitas consideram que prender crianças e mantê-las na prisão está certo, nem todos os israelitas saltam com alegria quando os jornalistas palestinianos são atingidos por tiros quando jazem no chão, a sangrar. Nem todos os israelitas olham de escárnio às mulheres grávidas que são deixadas a morrer de parto nos postos de controlo da FDI no caminho para o hospital, nem todos os israelitas consideram como alvos militares as ambulâncias que as levam para lá.
As vozes de crítica dentro de Israel são abafadas pelos zelosos, as vozes de crítica fora de Israel são abafados pelos interesses investidos antes que sejam alvos duma onda de acusações de serem “anti-Semitas”.
São contudo estas vozes, as vozes que contam a verdade, que eventualmente levarão esta terra perturbada à paz e não os extremistas em ambos os lados que provocam e perpetram ciclos de violência sem fim.
Os que seguem cegamente as causas dum ou de outro grupo de extremistas – e os fornecem com armas – são tão culpados de terrorismo como qualquer extremista de Hamas ou Hezbollah ou Jihad Islâmica, enquanto os zelosos israelitas são tão culpados de terrorismo, racismo e genocídio como qualquer bombista suicida palestiniano.
Só por condenar a violência provocada e prosseguida por ambos os lados se pode revelar a verdade e começar um processo de sarar as feridas e reconciliar. Para reconciliar numa base permanente, é necessário reconhecer e admitir o que está mal. Pura e simplesmente, chama-se dizer a verdade, não escondê-la.
Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru
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