José Pablo Feinmann, pensador original

Se você nunca leu José Pablo Feinmann, está perdendo a oportunidade de conhecer um pensador extremamente original.

 

Texto e ilustração

Marino Boeira

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Se você nunca leu José Pablo Feinmann, está perdendo a oportunidade de conhecer um pensador extremamente original.

Feinmann nasceu em Buenos Aires em 1943, é filósofo, romancista, ensaísta e roteirista de filmes. Além disso, apresenta na televisão argentina um programa de sucesso chamado Filosofia, Aqui e Agora.

Quem me apresentou Feinmann, foi o Dr. Franklin Cunha, que trouxe dois livros dele, de uma de suas periódicas visitas a Buenos Aires, em busca de livros e bons vinhos Malbec.

O primeiro livro que li dele foi uma mistura de ficção e documentário, sobre Martin Heidegger, o controverso filósofo alemão, que mesmo tendo aderido ao nazismo, ainda é reverenciado hoje em dia pela importância que tem para a filosofia o seu livro Ser e Tempo.

O que quero comentar agora e recomendar sua leitura é o livro "Siempre nos quedará Paris (título do original em espanhol), uma série de ensaios sobre alguns dos filmes mais importantes do cinema.

O título do livro é uma referência a uma frase dita por Humphrey Bogart para Ingrid Bergman, quando se despedem em Casablanca, filme de Michael Curtiss, de 1941, "Sempre nos Restará Paris".

Feinmann agrupa os filmes por várias categorias, como os de guerra, históricos, sobre o boxe, animações, musicais, faroestes, de detetives, de espionagem, sobre sexo, sobre a máfia e tantos outros temas, dos quais se fizeram grandes filmes com estupendos diretores e atores, principalmente os produzidos em Hollywood.

A análise que Feinmann faz dos filmes não deixa dúvida das suas leituras dos clássicos do marxismo.

Lembramos algumas delas:

Sobre o que pensa o Coronel Kurtz (Marlon Brando) em Apocalipse Now, de Coppola: "O horror, não é o horror da guerra, é o horror da condição humana"

Sobre E o Vento Levou, cuja direção é oficialmente atribuída apenas a Victor Fleming (George Cukor e Sam Wood foram co-diretores): "A guerra não foi feita para libertar os escravos do sul. Foi a economia, com a monocultura do algodão do Sul, que perdeu a batalha contra o Norte industrial."

Sobre Punhos de Campeão, de Robert Wise, com Robert Ryan

"Junto com o Touro Selvagem, de Robert de Niro, é um dos melhores filmes sobre o boxe. Tem uma duração real: começa com um relógio que marca a hora e finaliza com mesmo relógio, 72 minutos depois."

Sobre Woody Allen: "Um dos maiores diretores do cinema de todos os tempos". No filme em que faz um diretor de cinema cego, Dirigindo no Escuro, Feinmann não deixa de notar uma crítica aos intelectuais franceses que costumam tomar qualquer diretor de cinema classe B, americano, como um gênio..

 Sobre os filmes da Disney, depois de lembrar que Walt Disney era um conhecido macartista, que colaborou com o Comitê de Atividades Anti-americanas, diz que seu império se converteu em uma das armas de penetração ideológica mais importantes dos Estados Unidos. "Os filmes de Disney mostram um mundo de fantasia no qual, as soluções são mágicas, onde o triunfo é só do indivíduo e a conciliação de classes é possível".

Para falar sobre a máfia, Feinmann se socorre de quatro filmes: Scarface, de 1932, de Howard Hawks, com Paul Muni; a nova versão de Scarface, de 1983, de Brian de Palma, com Al Pacino; de Bugsy, de 1991, de Barry Levinson, com Warren Beatty e Bugsy Malone, de 1976, de Alan Parker. Na conclusão de sua análise, ele diz: "A máfia não tem moral, só interesses. Na realidade, ela é a representação do sistema capitalista"

Sobre os super heróis: "São esquizofrênicos, e neuróticos. Têm dupla personalidade, uma comum durante o dia e outra, oculta, durante a noite". Sobre um deles, o Super Homem: "As cores do Super Homem são as cores da bandeira norte americana. Não há dúvida, que ele luta a favor do Império. Nunca espere que ele venha nos defender."

Em Batman Begins e depois em Cavaleiro das Trevas, Batman (Christina Bale) tortura seus inimigos, o que era inimaginável antes.

"O Império está cada vez mais assustado e por isso os super heróis estão cada vez mais violentos".

São 27 capítulos, analisando dezenas de filmes.

Não cabe esse espaço lembrar todos, mas sim chamar a atenção para esse autor tão pouco conhecido dos brasileiros.

Marino Boeira é jornalista,formado em História pela UFRGS

 

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