Conservação das aves: Zonas importantes no Brasil

A Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil), representante da BirdLife International no País, acaba de concluir um estudo que aponta 163 Áreas Importantes para a Conservação das Aves (ou IBAs, na sigla do inglês Important Bird Areas) no Brasil. O trabalho englobou 15 estados, incluindo nove ecorregiões de quatro dos biomas brasileiros (Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga e Pampa).

O estudo, que levou cinco anos para ser concluído, teve a participação de cerca de 30 biólogos especializados em aves e faz parte de uma estratégia mundial da BirdLife, que já detectou 3.400 IBAs em 24 países. Entre os critérios para se estabelecer uma IBA, estão a presença na área de espécies globalmente ameaçadas de extinção, espécies de distribuição restrita, espécies restritas a um bioma e/ou espécies congregatórias, ou seja, que utilizam determinadas áreas para reprodução, locais de invernagem ou paradas durante a migração. As IBAs são selecionadas para abranger populações distintas ao longo da distribuição geográfica das espécies e podem ser definidas para proteger uma ou várias espécies.

O objetivo do trabalho é mostrar para o público que essas áreas são importantes e precisam ser valorizadas. Com isso, pretende-se implementar e garantir a sua conservação. É uma ferramenta a ser utilizada por órgãos públicos, privados, comunidade científica e sociedade civil para justificar investimentos, projetos e campanhas de conservação. Embora a rede de IBAs seja definida por sua avifauna, sua conservação asseguraria a sobrevivência de um grande número de espécies de outros grupos animais e vegetais.

O Brasil possui cerca de 1.800 espécies de aves, que representam 20% das 9.000 espécies existentes no mundo. É o terceiro país em diversidade de aves (atrás apenas da Colômbia e do Peru). No entanto, é o primeiro em número de espécies em extinção. Das 1.212 aves ameaçadas no mundo, 118 estão no País, incluindo duas já extintas na natureza - o mutum-do-nordeste (Mitu mitu) e a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii).

O resultado do estudo da SAVE Brasil será publicado no livro Áreas Importantes para a Conservação das Aves no Brasil, que será lançado durante a 8a. Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP8), em Curitiba, em março próximo.

A BirdLife International foi criada em 1922 e é uma aliança de organizações ambientalistas presentes em mais de 100 países que, juntas, são a referência em conhecimento sobre o estado de conservação das aves, seus hábitats e assuntos e problemas em geral que afetam a avifauna mundial. No Brasil, atuava desde 2000 através de um programa ligado à BirdLife International (sediada na Inglaterra), até a criação da Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil), em 2004, uma instituição brasileira que representa a BirdLife no País.

Domínio da Mata Atlântica

O estudo para a identificação das Áreas Importantes para a Conservação das Aves no Brasil (IBAs) foi realizado em 15 estados do Domínio da Mata Atlântica (Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe), por ser a área mais ameaçada (83% das espécies de aves ameaçadas de extinção no País ocorrem nesses estados) e por ser a região com a maior quantidade de informações disponíveis. O trabalho, porém, levou em consideração a totalidade do território de cada estado, incluindo assim áreas de Caatinga, Cerrado e Pampa.

As 163 IBAs identificadas totalizam 8.385.791 hectares, que correspondem a 3,08% da região estudada (ou seja, da área total desses 15 estados). O estado com o maior número de IBAs identificadas é a Bahia, com 31 áreas, seguida por Minas Gerais, com 18, além de uma IBA interestadual com área nos dois estados. Em superfície, porém, o campeão é o Rio Grande do Sul, com 1.047.051 hectares distribuídos em 12 IBAs.

Do total de áreas identificadas como IBAs, 51% estão parcialmente ou totalmente inseridas em unidades de conservação de proteção integral, 3% em unidades de conservação de uso sustentável (excluindo Áreas de Proteção Ambiental – APAs e RPPNs), 11% em Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) e 8% em outros tipos de reservas privadas. No Espírito Santo, por exemplo, duas grandes áreas particulares, sem proteção garantida, são os principais refúgios ainda existentes da saíra-apunhalada (Nemosia rourei). Mesmo áreas parcialmente protegidas, como a Chapada do Araripe (Ceará), o único abrigo do soldadinho-do-araripe (Antilophia bokermanni), requerem ações imediatas para a conservação de longo prazo das espécies que lá ocorrem.

As IBAs incluem também áreas bastante pressionadas pela urbanização, como a Serra da Cantareira, em São Paulo, com grau de proteção apenas parcial e abrigo de quatro espécies ameaçadas de extinção - gavião-pomba (Leucoptemis lacemulata), pomba-espelho (Claravis godefrida), papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea) e araponga (Procnias nudicollis) -, além de outras nove quase ameaçadas.

NUCA – Núcleo de Conteúdos Ambientais

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