BE analisa eleição presidencial

1. A vitória tangencial de Cavaco Silva à primeira volta, por escassos trinta mil votos, é uma derrota para o povo de esquerda. No quadro actual de uma governação marcada pela opção liberal de Sócrates, Cavaco acentuará o pior da política económica e social do governo e não garante a oposição necessária ao golpe do bloco central contra a proporcionalidade eleitoral. A agenda do Bloco Central - política de continuação da crise social, com estabilidade para os privilegiados - sai reforçada. E a direita ganha um referencial para a sua recomposição, tendo polarizado parte dos eleitores de centro que anteriormente deram a vitória a Sócrates.

2. Para o governo, o traço essencial da nova coabitação – a “cooperação estratégica” liberal – não mitiga o balanço catastrófico nem o aviso recebido: Mário Soares, que se rodeou de ministros, teve 14%, menos 30% do que o PS há menos de um ano. Manuel Alegre que, apesar de ter apoiado a política de Sócrates, concorreu contra o seu candidato, obteve um forte voto de protesto que alcançou os 20%. Os dois juntos ficaram a 10% da marca do PS há menos de um ano. Cavaco deve a sua vitória ao PS, à confusão generalizada e ao impasse social acentuado pelo governo.

3. A votação de Jerónimo de Sousa assegura o reforço eleitoral do Partido Comunista em relação aos seus resultados das legislativas, mesmo tendo ficado aquém dos resultados das recentes eleições autárquicas. Em relação a eleições presidenciais disputadas em contextos muito diferentes, Jerónimo de Sousa obtém mais 3% do que António Abreu e menos 3% do que Carlos Carvalhas.

4. A candidatura de Francisco Louçã cumpriu um dos seus objectivos principais: mobilizar o voto de sectores sociais comprometidos com uma geração de mudanças e que não aceitaram a proposta continuísta dos candidatos do PS e colocar na agenda política os temas fundamentais dos próximos anos, como a sustentabilidade da segurança social, o emprego, a paridade entre homens e mulheres, a política europeia e a defesa do ambiente. O entusiasmo, a mobilização e a proposta que a campanha promoveu constituíram um elemento essencial no debate político e na clarificação das escolhas. A mobilização dos 288.216 eleitores de Francisco Louçã contribuiu para enfrentar Cavaco Silva, embora a participação dos eleitores de esquerda não tenha sido suficiente para obrigar a uma segunda volta.

5. Os 5,3% obtidos por Francisco Louçã representam a segunda melhor votação de sempre na área política do Bloco de Esquerda, em número de votos e em percentagem. A votação das últimas autárquicas é quase duplicada. A das presidenciais de 2001 é mais que duplicada. Em vários distritos, Francisco Louçã é o quarto candidato mais votado (Aveiro, Bragança, Castelo Branco, Açores, e em particular na Madeira, com 7,8% na região e 9,8% no Funchal). Também na Guarda e em Vila Real são obtidos os melhores resultados de sempre. A subida eleitoral em Braga significaria a possibilidade de eleger um deputado pelo distrito, e em Aveiro e Faro esse objectivo ficaria muito próximo. Em contrapartida, nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto regista-se uma descida dada a deslocação de votos e a polarização com a candidatura de Manuel Alegre. Depois das presidenciais, encerrou-se um ciclo eleitoral. Durante mais de três anos não haverá, em circunstâncias normais, novas eleições. Será durante esse período que os debates fundamentais sobre a política da esquerda devem ser relançados, em que as lutas sociais devem ganhar o protagonismo que é o seu, e que as alternativas se devem afirmar. Esse é o compromisso que o Bloco de Esquerda assume com toda a confiança.

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