Aníbal Cavaco Silva: A sinistra e cínica candidatura

Basta conhecer um pouco da história de Aníbal Silva e ler um pouco no seu site oficial de candidatura para ficar com arrepios a pensar na hipótese deste senhor vir a ser Presidente de Portugal durante os próximos cinco anos. Basta ver a manipulação da imprensa e da imagem deste candidato para temer aquilo que vem atrás dele.

A farsa da candidatura

Para um homem que afirma que não é político, Aníbal Silva tem um passado muito suspeito: Ministro das Finanças e do Plano (1980/81), Primeiro-Ministro (1985-1995) e agora, candidata-se para a Presidência pela segunda vez. Imaginem se fosse político!

Mas é precisamente esse tipo de afirmação que demonstra a farsa, o cinismo e o lado escuro da candidatura de Aníbal Silva e tudo que ele representa. Numa altura em que o Partido Socialista parece certo a ficar no governo durante longos anos, aparece Aníbal Silva outra vez para defender os interesses da direita e dos seus defensores, que levaram Portugal ao lastimável estado em que está e que ninguém queria nas eleições legislativas em Fevereiro passado. Mas estão aí todos atrás da candidatura de Aníbal Silva.

Diz-me quem são teus amigos e eu digo quem tu es

Quantos daqueles que dizem que vão votar no candidato Aníbal Silva sabem quem está na sua comissão política? Figuras odiadas, que foram corridas da vida política em Portugal há pouco tempo, como a Manuela Ferreira Leite.

O candidato Aníbal Silva afirma que vai levar para longe a cultura e língua portuguesa no mundo de hoje – uma afirmação absurda para quem, quando primeiro-ministro, nem sabia quantos cânticos tinha Os Lusíadas e quem nem consegue pronunciar vocábulos da sua própria língua.

Razões absurdas por votar no candidato Silva

Conhecendo as principais razões pelas quais a maioria dos seus apoiantes afirmam que vão votar no candidato Silva, sente-se uma profunda tristeza e angústia pelo futuro de Portugal. Porque é sério? Obviamente é sério, como é sua obrigação, tal como Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa, Manuel Alegre e os outros. Porque tem sentido de Estado? Então e Mário Soares, não tem? E os outros candidatos, que estão envolvidos na política e que conhecem todos os cantos e malabarismos da vida pública, melhor que o candidato Silva? Porque é honesto? Claro que é honesto, como 99,9% da população. Então vamos todos votar no Zé da Esquina porque é sério, é honesto e gosta do seu país.

Estas não são razões, são desculpas levantadas por quem não tem qualquer esperança na liderança política do país (por grande culpa da direita) e por isso opta pelo candidato que soube melhor manipular a imagem e a imprensa.

Mas isso é sinistro.

Candidatura sinistra

Notaram quantas fotografias do candidato Silva são tiradas de baixo para cima, enaltecendo a estatura da figura, com aquela mensagem sem qualquer sentido (Portugal Maior) atrás dele? Notaram qual é o candidato com mais tempo de antena na televisão? O candidato Silva. Notaram que na altura em que as intenções de voto no candidato Silva começam a cair a pique, perdendo entre cinco e seis por cento em apenas cinco dias, começa a ser empurrada para trás a história das eleições presidenciais (a uma semana da eleição) e o tempo de antena nos programas de notícias e nas primeiras páginas dos jornais se ocupam com o PGR e histórias do calibre da Casa Pia?

Que o candidato Silva é um homem íntegro, um bom pai de família, sério, honesto e bem intencionado, não hajam quaisquer dúvidas e o mesmo se diz dos candidatos Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa, Manuel Alegre, Mário Soares e António Garcia Pereira. Por isso não são válidas razões para votar. São qualidades básicas de qualquer ser humano.

Candidatura cínica

É cínica a candidatura de Aníbal Silva, baseada numa campanha em que evitava ao máximo falar (porque abre a boca e estraga tudo, é só esperar até depois das eleições), que evitava comer em público (porque tem fama de entulhar a boca como se fosse carregar um forno com lenha e depois falar com a boca cheia, cuspindo gafanhotos contra todos que têm a infelicidade de estarem perto dele, belíssima figura para um Presidente a cumprimentar Vladimir Vladimirovich no Kremlin ou sentado à direita da Rainha da Inglaterra, por exemplo) e que aposta tudo na aura de “competência” deste candidato.

A “competência” do candidato Silva se vê no Portugal de hoje e na sua lamentável posição na cauda da Europa. Quando é que Portugal entrou na Comunidade Europeia? 1983. Quem era o Primeiro-Ministro entre 1985 e 1995, quando o verdadeiro peso dos fundos comunitários jorrava pelas fronteiras dentro? Aníbal Silva. Em cujos ombros jaz a responsabilidade pelo sensato investimento destes milhares de milhões para construir o futuro do país? Aníbal Silva. Afinal, é ele que vai tirar Portugal desta lamúria, ou foi ele o responsável por Portugal lá estar?

Vamos então examinar a posição de Portugal hoje uma década depois deste senhor deixar o poder (porque teve de fugir do partido dele, tão hábil foi como líder de equipa, se lembrem do “tabú”?) e a menos que doze meses depois do legado deixado pelo seu tenente preferido, José Barroso.

O legado do Cavaquismo

A palavra “Cavaquismo” nem existe no vocabulário português, por isso desde já se pede desculpa pela sua inclusão, mas tal como a competência do candidato também não existe, a palavra e a candidatura pertencem juntos à margem da cultura portuguesa mas sistemática e teimosamente se infligindo nela.

Vamos então analisar a posição de Portugal hoje, que é o legado do Cavaquismo, utilizando os dados da EUROSTAT, serviço de estatística da União Europeia. Não vamos comparar Portugal com os gigantes da Europa, mas sim com outros países da mesma dimensão, ou menores ainda.

No último trimestre de 2005, Portugal foi o único país, de acordo com a EUROSTAT, a registar um crescimento negativo de PIB, de 0,9%. A Estónia, por exemplo, registou um crescimento positivo de 2,6%. O consumo doméstico caiu por 1,4%, reflectindo a nefasta influência do desenfreado monetarismo defendido por esse candidato nos inocentes cidadãos portugueses, enquanto na Lituânia, por exemplo, aumentou por 3,3%.

Portugal teve a maior queda nas exportações (menos 0,6%), enquanto na Eslováquia aumentaram 8,1% e Portugal foi o único país a verificar uma queda nas importações (reflectindo o estado da economia nacional) – 0,7%, comparado com o incremento de 10,8% na Grécia.

Produto Interno Bruto – menor. Produtividade e Competitividade – menor. Desemprego – maior. Encomendas para a construção – menor (1%), comparado com o aumento de 7,1% na Finlândia. Taxa de utilização de capacidade nacional: menos que na Hungria e Eslovénia.

Registo novos de automóveis: 77,3, comparado com a média europeia de 99. Poupança como percentagem de rendimento: menos 5,4% comparado com os 10,2% da Àustria, 6,5% da Finlândia e 6,9% da Bélgica. Balanço Comercial: 572 milhões de Euro negativos.

Taxa de privação – 70% dos portugueses são classificados como pobres ou sofrendo de qualquer tipo de privação, no relatório da U.E. na EUROSTAT; onde afirma que “As taxas de privação são superiores aos níveis de risco de pobreza”.

61% não podem tirar uma semana de férias, comparado com 33% em Chipre; 5% não conseguem pagar a totalidade das despesas mensais, um nível semelhante ao da Bulgária; 3% não têm dinheiro para uma refeição com carne, peixe ou ave de dois em dois dias, semelhante às taxas da Malta, e uma vergonha para um país que está na Europa há mais que duas décadas; 58% não conseguem aquecer a casa ao nível pretendido, comparado com os 56% da Lituânia; 4% dos que querem ainda não têm telefone, 17% não têm carro. 63% das casas têm algum tipo de deficiência, como canalização, problemas com o telhado, janelas, paredes, etc.

E Aníbal Silva é o candidato a reparar esses males? Foi ele, e a direita, os responsáveis por os criar! Quem é o pai do monetarismo em Portugal? Quem presidiu no tempo do carregamento contra os operários portugueses nem Marinha Grande? Na Ponte 25 de Abril? Quem afirmava que os portugueses tinham pouco civismo? Quem investiu mal os milhões da Europa? Quem não preparou o país para conseguir, nas palavras do próprio, “O pogresso (sic) do povo português no espaço económico europeu”?

A direita, que o candidato Silva representa, e que apoia sem vergonha a candidatura desse senhor, em nada serviu os interesses dos portugueses, como se vê claramente nas cifras acima referidas.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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