OLIVENÇA

Como cidadão português, queria manifestar aos Senhores Jornalistas e demais pessoas que trabalham na área da comunicação social o desejo de que neste ano de 2006 que acaba de se iniciar possam dedicar algum tempo e espaço à Questão de Olivença, terra Portuguesa ilegalmente ocupada por Espanha desde 1801, por forma a acordar este País de uma anestesia que alguns portugueses com responsabilidades ao mais alto nível continuam a alimentar, passando mensagens a Espanha de que está tudo bem nas relações com Portugal e referindo-se com agastamento às acções de alguns cidadãos que ainda se vão manifestando pela causa da retrocessão daquela parcela de Portugal.

Revejam-se a propósito as declarações proferidas por um cidadão, que é nem mais nem menos do que a mais alta figura do Estado Português, ao participar num debate com um conhecido político espanhol, ocorrido em 25/11/2005 na RTP 1. Cito com fidelidade a seguinte passagem dessas deprimentes declarações: “[devemos] ter uma boa relação com o Governo Central Madrileno, não apostar em dificuldades territoriais que me parece ser um erro dramático de percepção – há uma ou outra pessoa que gosta disso – e felizmente que em geral em Portugal nós queremos que as coisas funcionem bem a todos os níveis”.

Com amigos destes por cá, e se todos nos acomodarmos, bem pode a Espanha estar descansada em relação à Questão de Olivença, tendo fundadas razões para a julgar morta e enterrada, o que lhe permitirá negociar mais tranquilamente com a Grã Bretanha o problema de Gibraltar, sem receio de que Portugal possa finalmente reagir e seguir-lhe o exemplo, exigindo-lhe a devolução do que é nosso.

Note-se que em 18/11/2005, uma semana antes daquele debate, tinha decorrido em Évora uma jornada de luta pela causa de Olivença dirigida pelo Grupo dos Amigos de Olivença – a quem Portugal muito deve – enquanto se desenrolava naquela cidade mais uma Cimeira Luso-Espanhola, daquelas em que nunca há espaço na agenda nem tempo extra para tratar da questão de Olivença. E assim se vão somando os anos de ocupação ilegal (e são já 204 anos), anestesiando-se os Portugueses que já não tenham a memória tão viva e consumando o etnocídio cultural em Olivença e seu termo.

Um “erro dramático de percepção” será, não o de ainda haver em Portugal revolta e indignação por parte de Portugueses que remam contra a maré do nada fazer por Olivença, mas antes o de se conferirem as mais altas condecorações portuguesas ao Presidente da Junta da Extremadura Espanhola ou ao rei de Espanha, ao mesmo tempo que se apoucam os que com muita dignidade e coragem ainda ousam sobressair da modorra nacional. O que seria justo e digno era que essas personalidades, que representam o nosso País aos mais diversos níveis, acarinhassem todos os Portugueses que ainda não vergaram perante o peso da indiferença. Esses, sim, mereciam ser condecorados, em vez de menosprezados e silenciados.

Outro “erro dramático de percepção” parece-me ser o facto de as lamentáveis declarações que atrás referi terem passado despercebidas ou sido indiferentes ao País, uma vez que não se ouviram manifestações de indignação. O que, sem prejuízo de ter havido cidadãos que se sentiram traídos e revoltados, denota de alguma forma uma anestesia bastante generalizada. Para ser justo, devo porém referir que vi o assunto tratado, e bem, num semanário publicado em 06/12/2005, pelo Dr. Mário Rodrigues, a quem felicito.

Um último “erro dramático de percepção” que desejava realçar é, na minha modesta opinião, o que (não) se passa no ensino escolar oficial obrigatório em relação a Olivença. Por isso me permito apelar também aos Senhores Professores que ensinam História, bem como aos que elaboram os programas e os manuais, no sentido de que o ano de 2006 possa ser um ano de viragem, de inversão do défice que nesta área também temos.

Aos Governantes de Portugal, aos deputados da Nação e demais responsáveis do Estado, nada peço. Eles sabem, todos sabemos, que têm o especial dever de zelar activamente pelos legítimos interesses de Portugal. Confio em que, pelo que fizerem, ou não, no futuro e pelo que não fizeram até agora, sejam julgados com rigor pelo Povo Português, porque pela História seguramente que o serão.

“La siesta” é uma “instituição” nacional espanhola, mas é em Portugal que se tem andado a dormir demasiado em relação a Olivença. Que o ano de 2006 faça a diferença. Haja quem queira.

Custódio Henriques Cidadão inconformado Cartão de eleitor n.º B-4394 Sacavém-Loures

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