O MAIOR DOS ESCÂNDALOS

O Brasil entrou num processo de endividamento suicida, que nesse ritmo dificilmente terá saída. Pagamos, em média, mais de R$ 100 bilhões por ano, nos últimos dez anos, e mesmo assim a dívida cresceu em termos incontroláveis.

De R$ 60 bilhões em 1994, caminha para R$ 1 trilhão, cifra que deverá atingir nos próximos meses. Ou seja, aumentou acima de 15 vezes. Representa hoje mais de 50% do PIB, de toda a riqueza produzida anualmente no País.

Por outro lado, o que pagamos em juros é superior a tudo o que o governo gasta, excluindo-se a Previdência Social, ou seja, com educação, saúde, segurança, infra-estrutura, políticas sociais, reforma agrária, Forças Armadas, diplomacia, etc. É por isso que os serviços públicos se encontram em situação calamitosa, pois os recursos que deveriam ser destinados a setores fundamentais da administração são desviados para o pagamento da dívida e o enriquecimento do mercado financeiro.

As escolas e os hospitais caem aos pedaços, mas as agências bancárias são verdadeiros palácios, construídos com os lucros da agiotagem que praticam impunemente. As estradas estão destruídas, a criminalidade se agrava a cada dia, a reforma agrária se arrasta, o desemprego aumenta e a renda do trabalhador reduz-se de forma sistemática. Assistimos ainda agora à crise da febre aftosa, provocada pelo corte nos gastos com a prevenção e o controle da doença. Todas essas mazelas são faces do mesmo fenômeno: o Brasil tem de pagar juros cada vez mais altos para atrair capitais e atender ao serviço da dívida. É uma engrenagem diabólica: quanto mais pagamos, mais devemos, e quanto mais devemos, menos temos para aplicar nos serviços básicos de interesse da população, da produção e do emprego.

Na base desse quadro desolador, estão as taxas dos juros fixadas pelo governo, através do Banco Central. A cada um por cento de aumento na taxa básica (Selic) corresponde um acréscimo de quase R$ 5 bilhões na dívida. A partir de setembro de 2004, ela saltou de 16% para 19,75%, reduzida agora para 19%. Só por essa aritmética perversa, a dívida cresceu cerca de R$ 20 bilhões ao ano.

A corrupção administrativa e política constitui uma sangria para o País, e é preciso puni-la com o mais extremo rigor. Mas o escândalo maior, o escândalo dos escândalos, é o dos juros da dívida, lícito e promovido pelas próprias autoridades, embora seu caráter absolutamente imoral.

“É o maior escândalo do Brasil”, repete em declaração ao Correio Brazilienze - Estado de Minas, o economista André Araújo, especialista no estudo dos Bancos Centrais em diversos países. “Se juntarmos todos os escândalos financeiros – acrescenta – que envolveram corrupção com o dinheiro público dá pouco mais de um mês do que pagamos em juros. Para quem pensar que é um exagero, basta fazer uma conta simples. No ano passado o governo pagou R$ 128,3 bilhões de serviço da dívida. Significa R$ 10,5 bilhões por mês ou uma média de R$ 350 milhões por dia”.

Vejam bem. R$ 350 milhões por dia!

Esta é, repetimos, a suprema negociata e envolve indistintamente a responsabilidade dos governos Lula e FHC. Um faz apenas seguir a política do outro, que nos está levando ao fundo do poço, bem próximo de uma explosão.

*José Maria Rabêlo jornalista [email protected]

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