A verdade acerca do Iraque

Houzan Mahmoud, activista política iraquiana, veio a Lisboa este final de semana, ao convite de PRAVDA.Ru, para informarnos acerca o que está verdadeiramente a acontecer no Iraque. Para aqueles que estejam interessados em saber a verdade, o que ela tem a dizer é de máxima importância.

Houzan Mahmoud, Co-Fundadora do Congresso para a Liberdade do Iraque, uma organização que inclui a Organização para a Liberdade das Mulheres no Iraque (OFWI) e a Federação dos Conselhos de Trabalhadores e de Sindicatos no Iraque (FWCUI), e membro da Comissão Política do Partido Comunista dos Trabalhadores no Iraque, veio a Lisboa, convidada pela versão portuguesa de PRAVDA.Ru* para participar num debate/conferência sobre o Iraque.

Além do debate, que foi fonte de grande interesse e juntou várias personalidades dos sectores mais diversos da vida política, e não só, a Houzan Mahmoud teve reuniões com representantes do Bloco de esquerda, Renovação Comunista, CGTP, os Sindicatos FENPROF e SPGL e deu entrevistas ao jornal Público, a revista Visão e a agência de notícias, Lusa.

A mensagem que a Houzan tem para contar é simples: a invasão liderada pelos EUA levou o Iraque para trás um século em dois anos. Chocada com aquilo que viu quando regressou ao Iraque em Abril/Maio, ela pinta um quadro que poucos, ou nenhuns, órgãos de comunicação social apresentam ao público.

Sobre a liberdade das mulheres…

“As mulheres não estão livres no Iraque hoje”, declara Houzan Mahmoud, que explica que havia mais liberdade sob a ditadura fascista de Saddam Hussein. O regime fantoche, apoiado por Washington, cheio de islamistas políticos, legislou recentemente a favor dos maridos espancarem as mulheres que “se portam mal”.

A OFWI estabeleceu abrigos para ajudar mulheres que foram violadas pelos tropas norte-americanos ou extremistas islamistas, ou que são vítimas de violência doméstica.

As mulheres são esforçadas a usarem o veu e cobrir os braços e pernas e aquelas que recusam são atacadas, violadas, ou até decapitadas – em público, a luz do dia.

Sobre o governo…

“O governo é um regime fantoche instalado pelos Estados Unidos, que não tem qualquer poder além da Zona Verde em Bagdade, em que vive em conforto, praticando actos de corrupção e deixando as pessoas à sua sorte nas mãos dos terroristas que aparecem amiúde”.

O Estado entrou em colapso, porque foi destruído pelos EUA e passados dois anos e meio, nada foi estabelecido para o substituir, para ajudar os cidadãos no seu dia a dia. Estes são os vítimas desta tragédia. Dois anos e meio depois da invasão, água e electricidade continuam a não existir nas casas da maioria da população.

Sobre a segurança…

“Não há segurança no Iraque. As pessoas não se sentem seguras, nem em casa. Durante a noite, um grupo de bandidos armados pode entrar, roubar, violar, assassinar”.

Houzan Mahmoud disse que há grupos de homens armados por toda a parte, impondo a sua vontade, roubando e aterrorizando as pessoas. As autoridades se escondem na Zona Verde, sem qualquer poder para agir fora desta.

Sobre o terrorismo…

“Há duas formas de terrorismo no Iraque, o terrorismo de estado perpetrado pelos Estados Unidos da América e o terrorismo islamista praticado pelos extremistas. O cidadão comum está apanhado no meio disso tudo”.

De acordo com as declarações de Houzan Mahmoud, estes grupos extremistas não existiam no Iraque. A invasão americana lhes deu o espaço que precisavam para jorrarem pelas fronteiras dentro e o regime fantoche, cheio de extremistas, dá a estes elementos a cobertura que precisam para impor a lei Sharia sobre a população.

Estes terroristas assassinam entre cinquenta e cem pessoas por dia, todos os dias. Não é seguro visitar um cinema, restaurante ou bar porque “esses covardes escolhem estes alvos fáceis para matarem o número máximo de pessoas”. Um alvo preferido é a instituição da loja do barbeiro, “porque os homens são supostos a terem barbas longas, não rapá-las”.

Sobre o conflito religioso…

“Ser Sunni ou Xiita nunca importava antes desta invasão. As pessoas davam-se lindamente e a prática religiosa era uma questão pessoal. Agora dizem às pessoas, você é Sunnita e tem de agir assim, ou você é Xiita e tem de fazer isso”.

A invasão americana criou clivagens massivas e profundas dentro da sociedade iraquiana, que nunca antes existiam. O governo fantoche e a Constituição foram desenhados, baseado em diferenças étnicas, sectárias e tribais e criam mais problemas do que resolvem.

O caminho de saída da crise…

“Estamos apanhados entre duas facções que ninguém quer. Por um lado, temos a força de invasão odiada dos EUA, que não protege ninguém. Mulheres são violadas, pessoas são assassinadas arbitráriamente. Se um soldado norte-americano vê um cidadão inocente a ser torturado por extremistas, vira as costas e vai-se embora. Viajam em comboios militares enormes, aterrorizados. Perderam o controlo”.

“Por outro lado, temos um regime fantoche que zela pelos seus próprios interesses na Zona Verde e que não tem qualquer autoridade fora desta”.

“Escondido entre estas duas facções, estão os extremistas islamistas, que encontraram um lugar seguro dentro do Iraque. Os vítimas são os civis inocentes e indefesas”.

Houzan Mahmoud diz que o que o Iraque precisa é uma terceira opção: uma sociedade civil forte que estabelece um governo democrático e progressista, baseado na vontade do povo e não divisões políticas, étnicas e religiosas, que é o que é representado pelo governo fantoche. Por isso quer que a Constituição seja adoptada ou não (e aqui é importante realçar que muitas pessoas ou são esforçadas a votar por uma determinada facção, ou acreditam as mentiras de um governo que esconde a sua agenda, ou simplesmente nem sabem em quê estão a votar), o resultado será igual: um governo sem controlo, terroristas a controlarem o país e os cidadãos, sem protecção.

As organizações que a Houzan representa estão a estabelecer redes de comissões de trabalhadores e sindicatos, estão a organizar greves e a lutar pelos direitos dos trabalhadores, pelos direitos das mulheres e apelam pelo apoio da comunidade internacional para garantir que o Iraque e o povo iraquiano não cai nas mãos dos extremistas islâmicos. As mulheres no Iraque querem andar livres nas ruas do país, sem serem chamadas prostitutas ou serem decapitadas porque não usam o véu.

Houzan Mahmoud considera que a primeira necessidade é a retirada imediata da força de invasão, porque foi esta que criou todos os problemas. Os norte-americanos são responsáveis por uma década de sanções que assassinou centenas de milhares de crianças, que criou uma geração de crianças doentes ou com deficiências, através de Urânio Empobrecido, cem mil pessoas foram assassinadas na guerra, as infra-estruturas civis foram destruídas, os terroristas entraram num país onde não existiam antes e o país está em caos.

O regime fantoche, apoiado pelos americanos, é composto por facções nas margens da sociedade iraquiana, reunidos em Londres pela CIA e Inteligência Britânica antes da guerra e oferecido lugares de responsabilidade que nunca mereceram.

Só através de uma sociedade civil forte, apoiado pelo povo, num governo que é progressivo e secular, não religioso, pode o Iraque se tornar outra vez na jóia do Médio Oriente que era, antes de George Bush destruir o país.

“Sob o Saddam, tinhamos um ditador fascista. Agora, temos muitos ditadores fascistas. Estamos pior agora do que sob o regime de Saddam”.

Para mais informações, contactar a Houzan no endereço

[email protected]

Ou visite os sítios

www.equalityiniraq.com www.uuiraq.org

*Uma menção especial de agradecimento a Luis Carvalho, colaborador e jornalista da PRAVDA.Ru, pela sua contribuição considerável na organização deste evento em Portugal.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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