Jovens brasileiros participam de mobilização na Noruega

Vinte jovens embarcam nesta quinta-feira, 6 de outubro, com destino a Oslo, levando a experiência de projetos brasileiros para a Operação Dia de Trabalho, promovida anualmente por cerca de 900 escolas e 150 mil estudantes noruegueses. O tema deste ano é o Tráfico de Seres Humanos para exploração sexual comercial. Trata-se de uma campanha internacional que dura uma semana e termina com o Dia de Trabalho, no dia 27 de outubro.

Seres humanos têm valor, mas não podem ter preço. Aparentemente contraditório, o jogo de palavras ilustra a luta contra o tráfico de seres humanos, um dos crimes mais cruéis e perversos da globalização. Este é um dos motes que deve reger a Operação Dia de Trabalho, mobilização realizada anualmente pela união nacional de estudantes noruegueses e que, este ano, contará com a participação de 20 jovens de organizações brasileiras.

A campanha é realizada desde 1964 e este ano tem como tema o tráfico de seres humanos com foco em mulheres e crianças brasileiras, que são "exportadas" para fins de exploração sexual e comercial. Ação Educativa, Instituto Socioambiental, Diaconia, Viva Rio e Serviço à Mulher Marginalizada são as organizações brasileiras que, em parceria com a Norwegian Church Aid – NCA, desenvolveram um projeto que irá apoiar no Brasil o combate a esse tipo de crime.

A idéia é trabalhar com públicos excluídos de direitos básicos, oferecendo condições para que crianças, adolescentes e mulheres se retirem das situações de imobilidade social e falta de perspectivas de futuro, que as tornam vulneráveis à atuação das redes criminosas que provocam diversas formas de escravidão.Escravidão que só existe, porque, além da oferta, há demanda e impunidade.

Dos vinte jovens brasileiros que irão participar do Dia de Trabalho, três são quilombolas do Vale do Ribeira, em São Paulo, - Ivonete Alves da Silva, Juliana Dias dos Santos e André Luís Pereira de Moraes - e um é técnico do ISA - Fabio Zaniratto. Por meio do Programa Vale do Ribeira em parceria com a Associação Quilombo de Ivaporunduva, o ISA mantém um projeto de superação da pobreza e valorização cultural para apoiar os jovens das comunidades de quilombos (remanescentes de escravos) daquela região do Estado de São Paulo.

Legislação é frágil no combate ao tráfico de seres humanos

Anualmente o tráfico de seres humanos movimenta cerca de US$ 2 bilhões no mundo. É a terceira mais lucrativa atividade ilegal, perdendo apenas para tráfico de armamentos e drogas. A legislação é frágil e não há diálogo entre as leis de países (neste caso, compradores e vendedores) na punição aos criminosos. Um outro fator que dificulta é a invisibilidade do negócio, difícil de ser triado, difícil de ser castigado. A demanda de países como Espanha, Itália, Suíça Israel, Estados Unidos e Japão se soma à impunidade e se "encaixa" perfeitamente no perfil da "oferta":crianças, adolescentes e mulheres afrodescendentes, de baixa renda, geralmente também de baixa escolaridade e provenientes das regiões pobres do Brasil, principalmente do Nordeste.

O tripé demanda-oferta-impunidade é o foco do projeto das organizações brasileiras que, com o apoio da campanha dos estudantes noruegueses, visa trabalhar com ênfase na juventude e abordagens transversais de educação e cultura, diversidade, violência e direitos humanos.

A Noruega, país de 4 milhões de habitantes (equivalente à zona leste de São Paulo) e detentor do melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), destina 1% Produto Interno Bruto (PIB) para projetos em países periféricos, como o Brasil, campeão mundial da desigualdade e 65º colocado no ranking do desenvolvimento humano.

Christian Schøien, da Norwegian Church Aid, afirma que parte desses recursos são destinados à operação, que tem como objetivo lutar pela concretização dos direitos humanos e, ao mesmo tempo, propiciar um olhar diferente aos estudantes noruegueses. “Queremos mobilizar os jovens para que participem da construção de um mundo mais justo, mas para isto eles têm que conhecer os problemas, enxergar uma realidade diversa da deles”, diz.

A idéia do projeto, portanto, é de, além de apoiar o combate ao tráfico no Brasil, sensibilizar os jovens noruegueses para que eles não dêem prosseguimento a esta demanda, num futuro próximo. E para chegar a cerca de 150 mil estudantes entre 14 e 19 anos de 900 escolas do país, estudantes e voluntários - com apoio da organização nacional de estudantes e em cooperação com organizações nacionais – realizam anualmente a semana internacional, em que jovens fecham seus livros didáticos e abrem os olhos para problemas globais.

Nesse período que começa no próximo dia 24 de outubro, o material do dia-a-dia é substituído por revistas, folders, textos e vídeos em seminários por todo país. Os 20 jovens brasileiros farão palestras e apresentações em todos os distritos da Noruega sobre a realidade brasileira e o tráfico de seres humanos. A idéia é mostrar como a criação de condições que retirem os jovens da imobilidade social e ofereçam uma perspectiva de futuro pode ser antídoto eficiente contra o aliciamento do tráfico.

Ao final do processo, o material didático dá lugar a outros instrumentos na Operação Dia de Trabalho quando os estudantes se dedicam a diversas atividades para arrecadar recursos para a campanha.

Este ano é o primeiro em que representantes de organizações do país-alvo da campanha participaram da concepção do material para a mobilização. Duas brasileiras estiveram no começo do mês de julho em Oslo e participaram de um seminário com 80 estudantes entre membros do comitê nacional do OD e dos conselhos escolares de todo país. Neste seminário, os jovens começaram a discutir a semana internacional de outubro, que culmina no Dia de Trabalho, previsto para o dia 27.

Em junho, três integrantes do comitê nacional viajaram ao Brasil e voltaram para uma nova série de reuniões pela Noruega. Em setembro, os 20 jovens brasileiros se reuniram em um seminário preparatório para a viagem. No dia 6 de outubro, viajam para a Noruega para os trabalhos da semana internacional e do Dia de Trabalho.

Mais informações:

Inês Zanchetta – [email protected]

(11) 3660-7942

Nilto Tatto –[email protected]

(11) 3660-7947

Leia mais www.socioambiental.org

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