“QUE SE VAYAN TODOS”

Um grito ecoou por toda a Argentina, extravasando a revolta popular contra os políticos que durante anos haviam desgovernado o país: “Que se vayan todos”. Partindo de Buenos Aires, as manifestações se estenderam às mais distantes províncias, como um furacão a varrer a vida nacional.

O brado visava toda a classe dirigente, indistintamente se do governo ou da oposição: Menem, Duhalde, De La Rua, Domingos Cavallo, governadores, juízes, membros das cortes de justiça, chefes militares. Praticamente todos, a partir dali, tiveram encerradas suas carreiras políticas, ante o clamor e a condenação das ruas.

O cenário brasileiro não é muito diferente. São tantos os escândalos, tantas as personalidades envolvidas, mensalões e mensalinhos, caixas dois, malas e cuecas com dinheiro, subornos, privatizações a preços de mãe para filho, compra de votos no Congresso, tanto nos governos de Collor e FHC, como agora no de Lula, dessas falcatruas quase ninguém escapa. Presidente e ex-presidentes, governadores e ex-governadores, prefeitos e ex-prefeitos, senadores, deputados, dirigentes partidários – a galera é imensa e não pára de crescer – atingindo os mais diversos partidos, com pouquíssimas exceções.

O último personagem dessa história macabra é nada mais nada menos que o presidente da Câmara de Deputados, segundo na ordem de sucessão do presidente da República e legítimo representante dos 300 comparsas que o elegeram para dirigir a Casa. Todos conheciam Severino, sabiam bem de quem se tratava, a boa bisca que estavam conduzindo para posição tão importante. Podem agora lavar as mãos, cinicamente, como se nenhuma responsabilidade tivessem na aberração de elegê-lo presidente da Câmara? Em especial o PSDB e o PFL, que articularam a ralé do baixo clero, numa jogada – que depois iria falhar – para colocar no cargo alguém que servisse a seus objetivos políticos? Como Severino não agiu como esperavam, “descobriram” surpresos os seus defeitos e passaram a jogar pedras na Geni, justamente eles que a inventaram.

Está mais do que na hora de fazer como os argentinos e dizer bem alto: “Que se vayan todos”. Essa hora é a próxima eleição, que já bate às portas. Vamos aproveitá-la para punir, com nossos votos, a bandidagem que tomou de assalto a vida pública brasileira, arrastando-a até o último limite da degradação.

Na verdade, são todos Severinos.

*José Maria Rabêlo, jornalista, [email protected]

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