Durante a década de 90 acreditou-se, e ainda há quem acredite, que o advento dos grandes blocos econômicos como a Alca - Área de Livre Comércio das Américas, Mercosul - Mercado Comum do Cone Sul e União Européia acabariam com os nacionalismos e com os temidos movimentos separatistas.
Não haveria mais sentido, pensavam, em se reivindicar autonomia de uma região, se o próprio país da qual ela faz parte, estava perdendo parte da sua ao se integrar ao continente. E dessa forma, mesmo que a região se tornasse independente, ela ainda estaria dentro do território do bloco e teria que se submeter aos acordos como membro tal qual o país da qual ela se desmembrou. Caso contrário se o novo país decidisse se retirar do bloco, ele perderia muitas oportunidades econômicas.
Inicialmente achava-se que essa integração seria apenas econômica, já que o estabelecimento de relações comerciais privilegiadas entre si e a atuação de forma conjunta no mercado internacional, acaba aumentando a interdependência das economias dos países membros. Muitos viam a União Européia como a vitória do capitalismo sobre o nacionalismo. Mas, os europeus já tem uma polícia, a Europol, caminham agora para uma Constituição comum.
Mas os partidos e as organizações separatistas ao invés de encolherem, floresceram. Há por toda parte: Liga Norte e Aliança Nacional (Itália), Sein Fein (braço político do IRA na Irlanda do Norte) Frente Nacional (França), Partido Nacional Britânico e o Herri Batasuna (braço político do ETA,Espanha) onde também há diversos partidos autonomistas na Catalunha. Até a tolerante Holanda tem o seu partido xenófobo e nacionalista Lista Pin Fortuyna. Já no Canadá há o Bloco Quebequense que há décadas tenta separar a província francófona do Québec do restante do território canadense de língua e cultura inglesa.
Tudo leva a crer que os separatistas espalhados pelo mundo não se deixaram intimidar pela adesão de seus países aos grandes blocos econômicos e adaptaram seus programas políticos aos novos tempos. Agora, eles vêem uma outra saída para a independência além das eleições e na luta armada, eles desejam ter assento direto nas organizações e instâncias com o poder de decisão dos blocos. Este é o caso do Bloco Quebequense. Sobre isso, vejamos o que diz uma publicação editada pelo Bloco:
"La place du Québec aux tables de négociations.*
Le Bloc Québécois estime que le Québec a as place aux tables de négociations. Les représentants du gouvernement du Québec doivent avoir accès aux forums internationaux Qui discutent de ses propres champs de compétence". (Le Québec Nation francophone des Amériques", Edições Saint-Martin, p. 17, 2003, Montreal, Canadá).
Mas muitos nacionalistas vão na contramão. Para eles é conveniente ter sua região com uma relativa autonomia política, financeira e cultural dentro de um país, sem ser totalmente independente. Para eles, essa situação favorece a manutenção do status quo de identidade de alguns povos. Vejamos o caso do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte que é formado pela Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte.
São três culturas diferentes, cada qual com sua própria cultura e língua, além do inglês, que convivem em um mesmo país. Pois bem, qualquer estrangeiro que se naturalize britânico recebe a cidadania do Reino Unido. Mesmo que more na Escócia ou no País de Gales, ele é um cidadão da união. Sendo assim, a rigor, é escocês quem nasceu na Escócia e é genealogicamente e culturalmente escocês. O mesmo se aplica a Gales. Legalmente, não há como se naturalizar escocês, porque os galeses e os escoceses também são cidadãos do Reino Unido.
Regiões de países miseráveis também lutam pela secessão, como é o caso da Eritréia que depois de uma longa guerra contra a Etiópia hoje é um país independente e a província de Biafra na Nigéria, que mesmo depois de uma guerra feroz não lucrou a autodeterminação. Também já se falou muito em separatismo em países em desenvolvimento como o Brasil, México e a Argentina. Mas pelo menos no que diz respeito a esses países, as aspirações de separatismo são cíclicas e motivadas por crises econômicas. Não há nesses países partidos e movimentos tão organizados, como é o caso dos europeus.
Como vírus políticos, os partidos nacionalistas e sobretudo os separatistas sofreram uma mutação e se adaptaram aos novos tempos de uma forma que permitisse que eles continuem existindo e a reivindicar a autodeterminação para seus povos, mesmo que previamente os grandes blocos econômicos deixem claro que o cabresto não poderá ficar tão frouxo assim.
__________
* "O lugar do Quebec na mesa de negociação (trad.). O Bloco Quebequense considera que Quebec tem seu lugar na mesa de negociação. Os representantes do governo do Quebec devem ter acesso aos fóruns internacionais de onde se discutem os campos de sua competência". (Le Québec Nation francophone des Amériques", Edições Saint-Martin, p. 17, 2003, Montreal, Canadá).
Adriano COSTA PRAVDA.RU RIO GRANDE DO NORTE BRASIL
Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter