José Dirceu, no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, Luciana foi ao Plenário da Câmara dos Deputados e da tribuna fez uma análise da crise política e deixou registrada questões centrais, que deveriam ser respondidas por Dirceu, para o devido esclarecimento das denúncias de corrupção que há quase dois meses vem abalando o Governo e o Congresso.
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,
Logo após este pronunciamento, assistirei ao depoimento do Deputado José Dirceu na Comissão de Ética e de Decoro Parlamentar, mas não tenho certeza se conseguirei interpelá-lo como gostaria. Por isso venho a esta tribuna para fazer algumas reflexões a respeito da situação política e do próprio depoimento do Deputado José Dirceu, que deve começar daqui a pouco.
Não temos dúvida, e a maioria da população brasileira também, de que existiu o mensalão. Não necessariamente em pagamentos mensais para os mesmos Deputados, nem em acordo explícito: Votem comigo e recebam dinheiro. Mas é evidente que a confissão do tesoureiro Delúbio de que repassou dinheiro a Parlamentares e a Líderes partidários significa que o Governo atuava para subornar Parlamentares.
No momento em que o partido do Presidente da República repassa dinheiro a outros partidos ou Parlamentares, é evidente que isso cria um vínculo de compromisso desses Parlamentares e partidos com o Governo, independentemente de qualquer explicitação de que o voto deve estar condicionado para receber qualquer tipo de ajuda.
É evidente, portanto, que o Delúbio e o Silvinho não agiram sozinhos, porque eles não estavam comprando Deputados para colocá-los como bibelôs nas estantes de suas casas, mas os estavam comprando para o Governo. Está claro que quem estava por trás dessa articulação política e financeira eram os articuladores políticos do Governo, aqueles que trabalhavam pela governabilidade.
Como então, Deputado José Dirceu, V.Exa. poderá afirmar, diante do Conselho de Ética, que nada sabia a respeito dessas práticas confessadas pelo tesoureiro Delúbio? Como podemos acreditar que o Presidente Lula nada sabia a respeito disso, quando nós, que fomos integrantes do PT por 20 anos, sabemos muito bem que o Presidente Lula nunca foi uma marionete nas mãos de José Dirceu? Ele sempre controlou o PT com mão de ferro, junto com José Dirceu, e não como uma marionete, como alguns tentam fazer acreditar o povo brasileiro, para, dessa forma, tentar inocentá-lo.
O que o Presidente precisa de explicar e o Deputado José Dirceu deveria explicar ao Conselho de Ética é o que fez o Presidente ao ser informado pelo Deputado Roberto Jefferson sobre a existência do mensalão? Quanto a isso, não restam dúvidas, embora alguns mantenham a dúvida shakespeariana será que o Presidente sabia? É evidente que ele sabia. Ele confessou que sabia por meio do Ministro Aldo Rebelo. O que ele tem que dizer é por que se contentou com a investigação fictícia da Corregedoria da Câmara e não acreditou nas palavras daquele a quem ele havia dado um cheque em branco poucos meses antes, o Deputado Roberto Jefferson, inclusive, definido como seu parceiro após as denúncias de corrupção nos Correios terem vindo à tona. Portanto, é evidente que os dirigentes do PT que foram expurgados são apenas a ponta do iceberg.
É preciso também fazer outra reflexão. O problema do PT é apenas uma questão ética e moral, bastando expurgar alguns dirigentes para ser possível refundar o partido, como diz o novo Presidente do PT? Na nossa opinião, o problema é muito maior, porque foi a lógica do vale-tudo eleitoral que levou o PT a esta degeneração ética e moral; a lógica do vale-tudo que começou jogando as bandeiras históricas do partido na lata do lixo e abraçando o programa neoliberal; a lógica do vale-tudo que fez com que o partido ampliasse seu leque de alianças a tal ponto que hoje governa com o PP de Paulo Maluf, com a antiga tropa de choque do Collor, a ponto de salvar ACM da cassação no Senado, coisas impensáveis para o PT de alguns anos atrás.
O PT não tem salvação, porque seus dirigentes inclusive, os novos são parceiros da lógica política na qual o financiamento ilícito de campanha e a compra de Deputados são decorrências de uma escolha, de um caminho: governar com e para a burguesia. O PT abandonou sua base social e preferiu governar com partidos burgueses fisiológicos, com os quais nunca teve identidade.
E agora se discute a possibilidade de um acordão. Muitos dizem que não há acordão. Mas fique de olho, povo brasileiro, porque poderá haver um acordão, sim, sem que seja percebido pela maioria do povo. Será um acordão para salvar o mandato do Presidente Lula, para salvar as instituições que estão completamente apodrecidas.
Por isso, nós, do PSOL, acreditamos na necessidade da mobilização social, da luta do povo!
O próximo dia 17 de agosto será importante, pois haverá uma marcha em Brasília, cujo objetivo não é somente a cassação de alguns parlamentares, porque talvez nem cassados sejam, já que podem renunciar antes de irem à Comissão de Ética, como fez o Deputado Valdemar Costa Neto.
Para refundarmos este País, precisamos acabar com o financiamento privado de campanhas eleitorais; com o sigilo bancário e fiscal dos políticos; com a exuberância de cargos de confiança como moeda de troca entre os partidos políticos e instituir plebicistos e referendos para aprofundar a democracia.
Podemos começar com um referendo sobre a continuidade deste Governo, e deste Congresso, perderam sua legitimidade não apenas pelas inúmeras denúncias de corrupção, mas pelo verdadeiro estelionato eleitoral que foi cometido contra o povo brasileiro, com as promessas de mudanças e a mais vergonhosa continuidade da política econômica e das falcatruas que já vínhamos assistindo há décadas neste País.
Muito obrigada.
Luciana GENRO
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