Chegando à minha pequena Belo Oriente, encontrei meu amigo de fé e coração, Gervásio Assis, sentado ao caixa do supermercado Dona Fia. Depois de todos cumprimentos trocados, perguntou-me como andava a vida em Belo Horizonte, na capital mineira. Rapidamente respondi que a cidade estava afundada em uma violência congênita, com ladrões espalhados por todo lado, em toda esquina. Depois de uma risadinha mofina, mineiramente me deu uma solução simples para o problema social dos ladrões urbanos, explicando:
- Uai Petrônio, por que vocês não fazem lá na capital o que a gente faz aqui no interior?.. Toda vez que aparece um ladrão por aqui, a gente vota nele e manda logo lá prá Brasília...
Brasília se tornou isso aí: paraíso da vergonha nacional, fonte inesgotável de piadinhas rampeiras, paródia institucional da vida pública brasileira. Um vexame institucionalizado.
Por onde vou, ouço comentários que só fazem diminuir nosso sentimento e sentido de Nação, de povo constituído e representado pelos seus poderes, um total descredenciamento da nossa classe política, colocados todos num balaio de gatunos, sedentos por dinheiro, poder e glória. Uma aberração no sentido mais exato e extenso da palavra.
No nordeste de Minas, a zelosa professora pediu aos alunos para construírem palavras com a terminação ão. O menino de nove anos foi ao quadro e escreveu mensalão. Ele só aprendeu esta nova palavra, expressão menor de valor, devido aos nossos políticos que negaram a Nação, a Constituição, a construção de um Brasil melhor, para edificarem um país da corrupção, desfraldando a bandeira promíscua do mesadão da consciência. Como vai crescer este menino sabendo que enquanto ele estuda a possibilidade de alcançar uma vida melhor para ele e os seus, meia dúzia de calças-curtas furtam o povo, o país, enchendo até as cuecas de dinheiro escuso?! Como ele poderá acreditar que por meio do voto, de uma conscientização política, chegará a vislumbrar um país melhor?! Por certo, seu pai lhe dirá que um dia a esperança dele foi jogado no lixo, por homens que tiveram, um dia, uma vida igual ou pior que a deles.
Em Araçuaí, bem depois de Minas Nova, um padre perguntou à balconista de uma loja de roupas, onde encontraria uma cueca daquela que estava estampada nas notícias dos jornais para comprar.
Sem perceber, estamos sendo despidos das nossas referências morais de probidade administrativa, aceitando e vestindo passivamente estas vestes rasgadas pela imoralidade pública, acreditando ser este um processo normal da democracia. Não é de hoje que a nossa política vem, ano a ano, descendo os degraus da evolução administrativa, federativa, chegando, aos poucos, ao fundo da fossa. O pior é que neste ambiente denegrido só vivem moscas, de todo tipo e espécie, espantando assim, de forma definitiva, os que buscam os ventos airosos da razão.
Enquanto isso, o povo brasileiro vai, inocentemente, se imolando com toda esta baixaria estampada e patrocinada nas páginas dos jornais pelo poder vigente. Tendo sempre o bolso, o coração e a alma vazios de fé e esperança.
Petrônio Souza Gonçalves
Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter