A situação da economia brasileira não deixa nada a dever às obras de ficção, nas quais a realidade desaparece completamente na construção apresentada pelo autor. Alguns números da situação econômica do país, por si só, revelam o absurdo kafkiano no qual nos encontramos, senão vejamos:
-O Governo investiu no bem-estar do povo brasileiro só R$ 271 milhões até dia 20/05, enquanto a despesa média diária com juros em abril foi de R$ 296 milhões, ou seja, apesar de proclamar que 2005 será o "ano dos investimentos", o governo Luiz Inácio Lula da Silva destinou a eles, até o momento, um montante inferior ao do gasto de um dia com o pagamento de juros da dívida.
-Apenas em abril, o governo federal destinou a seus credores internos e externos, diga-se banqueiros e especuladores, R$ 8,874 bilhões, uma média diária de R$ 296 milhões - incluindo na conta sábados, domingos e feriados.
-De um total de R$ 21,624 bilhões autorizados no Orçamento, o maior valor estipulado na administração petista, nada além de R$ 271 milhões foi investido até o último dia 20, o que ajuda a explicar os números recordes do superávit primário.
-Em 2004, o percentual de execução dos investimentos em 7 de maio era de 1,99%, superior ao atual. E o governo encerrou o ano com investimentos de R$ 5,102 bilhões, 33,46% dos R$ 15,246 bilhões autorizados.
-No ministério mais contemplado com verbas neste ano, o dos Transportes, os investimentos de R$ 23 milhões realizados até agora são praticamente nada diante dos R$ 5,980 bilhões previstos.
Apesar da população brasileira sofrer com o caos permanente nos serviços de saúde, educação, segurança, transporte, de não ter emprego e nem salários dignos, a despesa com os juros da dívida jamais é atingida pelas metas fiscais perseguidas pela área econômica. A discrepância entre os números tem origem nas regras do programa brasileiro de ajuste fiscal, negociado com o FMI (Fundo Monetário Internacional) em 1998 e mantido até hoje. Na época, foi acertado que as metas a serem cumpridas levariam em conta apenas as despesas não-financeiras, em vez do resultado global das contas públicas. O argumento foi que os juros dependem de variáveis fora do controle da política fiscal, como a inflação, o câmbio e as taxas demandadas pelo mercado.
Os poderosos de plantão, a despeito das promessas que os fizeram chegar lá, preferem ainda manter o descomunal sacrifício do nosso povo a reduzir, por menor que seja, o lucro dos ricos.
Luciana Genro
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