Lições do tempo

Frei Leonardo Boff, cheio de entusiasmo e com o seu Deus libertador ardendo em sua alma, seu coração, ajudou a fundar e a propagar a doutrina petista. Em junho de 1997, munido em seu exemplo de vida e cheio de razões religiosas, políticas e ideológicas, dava entrevista explosiva à revista Caros Amigos, onde, em uma espécie de canto gregoriano, afinava sua voz à dos demais petistas e imolava o governo vigente de FHC. Agora, relendo a mesma entrevista, encontro as sábias e proféticas palavras do nosso frei maior, e sugiro, ao amigo leitor, uma viagem no tempo, para ver que nada, até agora, mudou. Onde se lê Fernando Henrique, colocaremos a palavra Lula e onde se lê intelectual, leremos trabalhador. O texto segue abaixo:

“Eu acho que a gente devia tirar dele o título de intelectual, porque é um falso intelectual. Ele é um político. Porque o intelectual pensa a sociedade a partir de um horizonte de utopia, onde toma a liberdade de dizer o que pensa e como vê as relações de poder. Isso faz o reino do intelectual, quer dizer, a partir do ideal ele julga a sociedade. E o Fernando Henrique julga a sociedade a partir de um jogo de interesses, de onde ele é parte importante, e ele assume o poder dentro de um projeto que eu acho profundamente perverso, porque não significa nenhuma ruptura da herança de exclusão que teve este país. Os sujeitos históricos que sempre detiveram o poder de uma forma autoritária, excludente, exploradora, são aqueles que compõem a base do governo do qual ele é presidente. Então ele não representa nenhuma ruptura, ele consagra, com os ares de intelectual, que eu considero falso, uma nova forma de dominação da sociedade brasileira. Então eu acho que a gente devia destituí-lo como intelectual, considerá-lo um político, com todas as virtudes de um político, que é pensar sempre uma intenção, isto é, na segunda intenção. Por isso, cheio de malícias. (...) Olha a construção teórica dele, que nós utilizamos na Teologia da Libertação e nos ajudou a ver o mecanismo do subdesenvolvimento. Nos fazia entender que era possível uma ruptura. E eu vejo que ele renunciou a essa convicção, em nível da economia brasileira, e essa inserção do Brasil no mercado mundial ele discute sem receios de comprometer a soberania. Ele não tem preocupação de ter um projeto para esse povo. Ele não sabe fazer, porque acho que não ama suficientemente esse povo, ele ama o poder. (...) É o velho poder oligárquico, excludente, da história brasileira, e ele não colaborou em nada para modificar isso. E aí eu penso que ele nos traiu a todos nós, porque depositamos na lucidez do intelectual, do sociólogo que conhece o mecanismo do poder, a esperança de que pudesse interferir e dar uma marca diferente. E ele não fez”.

Talvez seja por isso que Lula e a cúria petista querem tanto, a todo custo, a reeleição.

Petrônio Souza Gonçalves jornalista e escritor

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