Dia da África

Mas que bonito, África tem um dia. Mas que maravilha, isso vai resolver os problemas da Mary, da Uganda, que foi violada pelos loucos seguidores de God, líder do Lord’s Resistance Army e que tem cicatrizes psicológicas muito piores do que as notáveis cicatrizes físicas.

Um Dia da África, mas que fantástico! Talvez Samuel vai receber finalmente água potável na sua casa na Zâmbia, talvez Wilda não terá de desistir da escola no próximo ano para caminhar 10 quilómetros com o cântaro à cabeça na Tanzânia

Por muito importante que é existir um Dia da África, vai resolver os problemas do dia a dia da Mary, do Samuel e da Wilda? Talvez, mas não por ser um dia. Pode resultar, sim, se a comunidade internacional lembrar que o Continente africano não é um Continente perdido, se a comunidade internacional, especialmente os países ex-colonizadores e os que têm tirado benefícios dos recursos naturais da África, aceitar que tem uma dívida perante o Continente e seus cidadãos.

Pode resultar, sim, termos um Dia da África se todos os que desconhecem a África, pelo menos nesse dia, se interessem pelo Continente e sua riquíssima cultura, sua riqueza linguística, suas gentes, seus costumes, suas paisagens, sua culinária, um universo para descobrir e conhecer. Daí que vamos quebrar as fronteiras, as sombras do desconhecido que dão origem ao racismo e à intolerância.

Pode resultar, sim, se a comunidade internacional tiver boa vontade em fazer algo para aceitar o Continente africano como membro pleno e em pé de igualdade da sua comunidade. Isso quer dizer adoptar práticas comerciais que não beneficiam o produtor ocidental e que prejudicam o produtor africano, através dum sistema de subsídios e tarifas, que na OMC são encarados como práticas diabólicas, contrariando o livre comércio mas que são a realidade em termos práticos.

Os ventos de mudança já soam de viva voz. A União Africana, formada em 2002, a NEPAD, Nova Parceria para o Desenvolvimento Africano, a Comissão para África, a luta contra a corrupção, a responsabilização dos intervenientes africanos e da comunidade internacional nas relações bilaterais, são todos exemplos, como a campanha do Presidente nigeriano Olesegun Obasanjo, contra a corrupção no seu país e na insistência, como Presidente da U.A. pelo respeito da lei constitucional na recente crise no Togo.

A ver vamos se na reunião dos G8 em Gleneagles, Escócia, em Julho, essa boa vontade no Dia da África se torna realidade ou simplesmente…mais um dia, quando os líderes dos países mais desenvolvidos considerarem a moção de Tony Blair para ajudar o Continente africano, esquecendo os interesses próprios e lembrando dos interesses desse potencial gigante.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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