Grande parte dos governos e partidos, que atuam como seus aliados e "parceiros estratégicos", passam por maus momentos. Ser considerado um bom aliado dos EUA significa aplicar seu receituário neoliberal, o que leva estes governos, uma e outra vez, a confrontos com a maioria da população trabalhadora que teima em defender seu direito ao trabalho, ao salário, à terra; a uma vida digna.
Por isso, cada vez que os levantes, greves e insurreições voltam à tona derrubando ou colocando na parede algum aliado dos EUA, aparece uma "missão" de importantes figuras da administração norte americana percorrendo o continente. Buscam acordos e novos parceiros para sustentar os governos e regimes encurralados pelas massas, procurando novos aliados para legitimar sua velha política neocolonial.
O secretário de Defesa dos EUA, Ronaldo Rumsfeld, primeiro, e a secretária de Estado, Condoleezza Rice, depois, vieram com o objetivo declarado de reforçar o papel do governo Lula como "moderador" ou "estabilizador" regional, utilizando seu prestígio alcançado como antigo líder da esquerda e da classe trabalhadora brasileira. Nestes tempos, em que a política e as ações dos EUA perdem legitimidade antes os olhos das massas do mundo, nada melhor que um antigo líder operário, para realizar a tarefa suja de asilar presidentes postos para correr pelo povo, por traidores; para tentar enquadrar Chávez, de acordo com os interesses norte-americanos; para mandar tropas ao Haiti ou para sustentar o encurralado presidente da Bolívia.
A situação, realmente, não está fácil para a administração norte-americana. Seus interesses não só estão sendo contrariados na área andina (Peru Bolívia - Equador) ou na Venezuela. A última jogada tentada no México, terminou em gol contra, enfraquecendo o time do PRI e do PAN, que, com o apoio de Washington, tentaram impedir a candidatura do prefeito do DF, Lopes Obrador (PRD) que aparece nas pesquisas como o favorito nas próximas eleições presidenciais. Sem tratar-se de um candidato socialista nem "radical", ele não é o preferido da administração ianque.
Mas visualizando o ataque anti democrático, o movimento de massas entrou em cena e, em poucos dias, mais de 600 mil manifestantes lotaram o Zócalo, tradicional e monumental praça da capital mexicana, defendendo o direito democrático do prefeito a concorrer, fortalecendo-o para o futuro pleito e obrigando o presidente Fox a um recuo imediato. Na Nicarágua, após semanas de violentas manifestações populares, o presidente Bolaños não caiu graças, em nosso entender, à política equivocada, do líder Sandinista Daniel Ortega, candidato a presidente nas eleições de 2006.
Ortega decidiu que o melhor era a continuidade do mandato do atual presidente preferido pelos EUA encaminhando e tentando canalizar a revolta para o calendário eleitoral, preparando-se para assumir em 2007. "Queremos que esta resistência às políticas neoliberais do governo de Henrique Bolaños seja desenvolvida de tal forma que nos possibilite culminar com uma vitória eleitoral em novembro de 2006" , explicou Ortega, em relação às recentes mobilizações acontecidas na Nicarágua contra o aumento do custo de vida.
Se continuamos percorrendo o continente, encontramos, no Peru, o presidente Toledo suspenso no ar. No Equador, uma derrota estrondosa do Departamento de Estado ianque, quando seu melhor aliado teve que fugir de helicóptero da fúria popular. Na Bolívia, Mesa continua na corda bamba, em meio à sucessivas revoltas populares que questionam sua política de entrega e submissão aos EUA. Na Colômbia, após anos de ajuda militar e financeira para supostamente combater o narcotráfico, o fluxo de drogas deste país para os EUA não diminuiu em nada, com o agravante que soldados norte americanos foram surpreendidos traficando armas. Finalmente, na Venezuela, Chávez acaba de romper um acordo de cooperação militar com os Estados Unidos de mais de 30 anos, gesto que não faz mais que reforçar a popularidade do presidente, aumentando o mal-estar de Washington.
A exceção é o Brasil. O presidente Lula, eleito com um discurso de mudanças e de soberania, mostrou-se, logo após assumir, um dos maiores capachos que Washington poderia desejar. Mais uma vez assume com o Império do Norte o compromisso de defender os interesses do sistema financeiro e das multinacionais, reforçando os laços de submissão e servilismo que o imperialismo precisa para enfrentar sua crise de dominação política na América Latina.
Peão de Bush no tabuleiro da dominação imperialista
É um tremendo exagero chamar o Brasil de "potência emergente mundial", como afirmou Condolezza Rice. Declarações desse teor, são parte da bajulação que o governo brasileiro precisa, para tentar se fortalecer em direção à disputa pela reeleição de 2006, enquanto cumpre decididamente com as necessidades da agenda imperialista na região. Entretanto, não podemos menosprezar o papel do Brasil, pelo seu tamanho, população e o peso da sua economia, no contexto das frágeis e dependentes economias da América Latina. Seu tradicional papel de "sub metrópole", em que pese não lhe garantir os cargos aos que aspira na OMC, no Conselho de Segurança da ONU ou na OEA, convertem a diplomacia brasileira em um útil instrumento da política de submissão dos países imperialistas.
Depois de salvar Gutierrez, escondido na embaixada brasileira em Quito, de ser linchado pela revolta popular ou ao menos ir preso por seus atos de corrupção, chegou a vez de colaborar com os EUA para tentar "domesticar" Chávez. Os Estados Unidos vem de sucessivos fracassos na sua tentativa de derrotar o presidente venezuelano, deter o ascenso das lutas e recuperar o controle do país, como nas "boas" épocas quando se revezavam no poder os corruptos partidos: Ação Democrático e COPEI.
Não conseguiram derrota-lo com o golpe de 2002, nem com a posterior "paralisação" petroleira, nem com o plebiscito, nem nas eleições. Refletindo uma correlação de forças que não lhe permite hoje uma nova aventura golpista, sem peso político, no interior da Venezuela, o imperialismo mudou de tática, procurando a colaboração dos governos "progressistas" latino americanos fundamentalmente Lula - para pressionar, cooptar e encurralar o processo venezuelano, tentando, mais uma vez, revitalizar a decadente OEA como instrumento de chantagem "democrática".
Produto desta política foi a afirmação de Lula: "Chávez exagera a dose na ação anti americana", depois de ter enviado seu novo operador político internacional, o ministro Dirceu, para tentar convencer o presidente Chávez, de voltar atrás na ruptura dos acordos militares com EUA, e poder apresentar um trunfo para a secretária de Estado norte americana em visita ao Brasil. Dirceu voltou sem o trunfo, mas dando provas de sua docilidade obseqüente, quando se trata de servir os ricos e poderosos.
O resultado da visita de Condoleezza Rice foi amplamente divulgado pela imprensa. O Estadão mal conseguiu dissimular seu entusiasmo. O editorial de 28 de abril, destaca que a visita "...tonificou um relacionamento que já era bom... a Alca retornou à agenda... A proeminência do Brasil não apenas é reconhecida com naturalidade, como a chefe do serviço diplomático norte-americano propõe que os dois países se unam em parceria para garantir a estabilidade regional, por meio do fortalecimento da democracia no hemisfério".
Impressiona, mas não surpreende, que a auto intitulada "esquerda petista" continue negando o papel de principal agente imperialista no continente que cumpre o governo Lula, insistindo em procurar para justificar sua acomodação ao governo e sua permanência no PT aspectos progressivos na política externa do governo petista. Não por acaso a Folha de São Paulo publicou: "...em que pesem as desavenças comerciais, os atritos na Alca, a oposição à Guerra do Iraque e as inclinações anti americanistas de setores do Itamaraty, o Brasil de Lula tem desempenhado na região o papel que os EUA esperam".
A OEA e as "preocupações" ianques com a democracia no continente
A derrota sofrida pelos EUA na Venezuela, ou as sucessivas derrubadas de presidentes "fiéis" a Washington, levaram à atual política de "terceirizar" suas atividades através do envio de tropas brasileiras ou argentinas no Haiti, buscando o papel de "moderador" de Lula e mais uma vez, apelando à OEA e a sua Carta Democrática.
Porém, até na OEA, órgão da colonização continental dominado pelos EUA, amargou derrotas que Condoleezza Rice se encarregou de dissipar, costurando novos acordos. É tal a magnitude do desprestígio estadunidense que tiveram, primeiro, de desistir de sustentar seu candidato, o ex. presidente salvadorenho Francisco Flores (que mandou tropas para o Iraque!) para a presidência do organismo. Depois, frente à inevitável derrota que sofreria seu segundo candidato, o mexicano Derbez, construíram, junto ao governo mexicano, a retirada da sua candidatura, não sem antes chegar a um acordo com o candidato de "consenso", o chileno Insulza, para que emitisse um claro pronunciamento refletindo as preocupações de Washington a respeito da democracia venezuelana e à aquisição de equipamentos militares por parte do governo de Caracas.
Numa curta mensagem, o recém eleito presidente da OEA, referiu-se, tal como já tinha feito a secretária de Estado norte-americana, à necessidade que "as autoridades democraticamente eleitas exerçam seus mandatos de forma também democrática, e os que não o fizerem, que respondam frente a OEA", para insistir, depois, com a necessidade de "mecanismos inter-americanos para a transparência na aquisição de armamento..." Assim se explicita, que uma das iniciativas da diplomacia norte-americana será procurar apoio, na América Latina, para votar resoluções condenando ao governo Chávez na OEA, apoiando-se na Carta Democrática, mecanismo que possibilita o intervencionismo norte americano quando os ventos da região não lhes são favoráveis.
Sem dúvida, na curiosa interpretação ianque, existe mais democracia no Iraque atual, com um governo colaboracionista e com um país massacrado e ocupado militarmente pela coalizão liderada pelos EUA, que na Venezuela de Hugo Chávez.
Felizmente os ventos que sopram na América Latina, assim como enfrentam e conseguem golpear ou derrotar, ao menos parcialmente, a política imperialista, também levantam máscaras, revelando quem são os verdadeiros aliados e quem são os falsos amigos. Desta forma a máscara de Lula também vai sendo levantada. Seu verdadeiro papel, menino de recados de Bush e Condoleezza Rice, vai sendo revelado aos olhos da vanguarda e do movimento de massas no Brasil e na América Latina
Como parte de uma resposta unificada à política imperial, foi debatida, em diversas reuniões de partidos de esquerda e entidades estudantis no FSM de Porto Alegre, a preparação de uma campanha continental contra a vinda do Presidente Bush, em novembro, à cúpula de governos latino americanos, em Mar del Plata (Argentina). Construir esta campanha, com ações, declarações, atos, panfletos, e posteriormente, delegações para ir até a reunião e manifestar o repúdio ao Sr. Bush e seus lacaios no continente, como Lula, Mesa ou Uribe, é tarefa obrigatória da esquerda conseqüente brasileira, tarefa com à qual o PSOL já assumiu um compromisso.
Dep. Babá
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